capítulo 27

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Pouco mais de duas semanas haviam se passado desde que Sabo fora transferido para outra delegacia e, consequentemente, se afastado e terminado com Lucci. Estava se adaptando ao novo local e vez ou outra sentia falta do ex-namorado, uma falta dolorosa e ardida, como se uma parte de si rasgasse pouco a pouco. 

Claro que com o passar dos dias aquela dor se tornava mais suportável e havia parado de chorar todas as noites ao lembrar que estava sem Lucci ao seu lado. Havia uma progressão lenta de libertação, uma pequena revolução se iniciava em seu coração. 

A presença da família, principalmente Ace, e de Koala estavam tornando tudo aquilo mais agradável de passar, dando um brilho em seus dias de adaptação. 

Tinham momentos em que sentia que o mundo estava desabando sobre sua cabeça e outros que sentia-se leve e contente como se nada o atormentasse. 

Tinham dias em que queria gritar, revivendo e rememorando todos os momentos em que Lucci o fez se sentir inseguro, todas as vezes que se sentia culpado, e outros que queria ficar calmo vendo um filme tranquilo, rindo e conversando sobre qualquer coisa que o fizesse esquecer de seu antigo relacionamento. 

A ficha de que estivera em um relacionamento abusivo começava a cair e o gosto daquela informação era amarga e crua, descia pesada pela garganta. Era como se sua mente soubesse que era verdade, que se envolvera em algo que o fazia mal, que não era saudável para si, mas ao mesmo tempo tentava amenizar aquilo, afinal, tiveram seus momentos bons, seus momentos de amor. 

Sentia-se triste e culpado por ter se envolvido naquilo, por ter se afundado lentamente naquele relacionamento, afinal, ele podia fugir, podia ter ido embora quando sentia-se sangrar por dentro, então por que simplesmente não fizera? Por que permanecera em algo que não era saudável? Que o destruia pouco a pouco? 

Mesmo que Koala ou Ace lhe dissessem que não era sua culpa, ainda sim pesava sobre suas costas. Ele havia feito aquilo consigo, se deixado envolver. 

— Eu sou tão idiota — murmurou consigo mesmo, apoiando as mãos sobre o rosto e respirando fundo antes de retirar suas palmas e encarar o teto. — A culpa é minha. 

— Sabo, você está pensando em voz alta, sabia? — comentou Koala após ouvir o vigésimo resmungo de Sabo naquela tarde, havia resolvido passar o dia com o amigo para verem alguns filmes em sua casa e, após algumas horas, percebera que o maior ficara distraído e no mundo da Lua muito mais do que o normal. 

— Oh, desculpa, eu me distraí — falou voltando sua atenção para o filme na TV, tentando retomar o fio da meada da narrativa. 

A mulher pausou o filme e se ajeitou ao lado do loiro que a encarou com certa confusão ao vê-la repousar a cabeça sobre suas coxas. 

— Eu às vezes me pergunto se mereci tudo o que passei. — Começou a castanha, deixando seu olhar vagar pela sala, não havia dito, mas Sabo havia compreendido que ela falava de seu pai. — Se eu tivesse sido uma filha melhor, ou talvez se tivesse me imposto antes, as coisas não chegariam no nível em que chegaram. Eu podia ter feito algo para mudar o rumo daquilo, mas não fiz... Podia ter dado um basta antes, ido para qualquer lugar, ficado aqui... Então, é parte minha culpa por ter chego
Ado onde chegou. 

— Espera, não é bem assim, não é sua culpa ser uma boa pessoa e acreditar que ele mudaria, que as coisas melhorariam... Ele é seu pai e não é algo tão fácil de desvencilhar... Não foi sua culpa... Se tivesse feito algo antes poderia ter sido pior, você só tentou o máximo que podia, mas ele não fez por merecer todo seu esforço — pontuou Sabo, sua mão repousando sobre os fios castanhos em carícias de consolo, deixando seus dedos se enterrarem e se embrenharem naquela maciez. 

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