[EM ANDAMENTO]
Sob o sucesso envenenado e cintilante de uma Hollywood tão bela quanto fatal, a atriz Juliet Bird retorna à sua pequena cidade natal após escândalos sombrios. Enxotada de volta às ruas pacatas de Roseville, a estrela em ascensão é ob...
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Salt in your kiss,
from the 2am swim
I wish I could put my arm
around your memory.
- Again, Sasha Alex Sloan.
🦋
Roseville, 1997.
Poucas vezes sonhei com Jeon Jungkook após os acontecimentos daquele ano.
Seu assombro manifestava-se em meus sonhos de maneiras mais sutis; como se encoberto por um manto, uma neblina, sufocando pela densidade dos velhos silêncios presos na garganta, daqueles assustadores. Seu rosto, transfigurado, surgia em outras criaturas. Anjos tontos com parcialidade de asas chamuscadas que rangiam após a queda ㅡ uma legião deles; desmembrados, feridos e arruinados, emanando aquelas aflições agudas. Em meio ao caos, encontrava os mesmos olhos doces que se fechavam dolorosamente, o delicado rosto amado, a calmaria na voz doce que se dispersava.
Outras vezes, seu rosto se multiplicava em estranhos nas ruas, seu jeito de andar, ou a maneira como jogava a cabeça para trás numa rara gargalhada. Em sonhos, todos os garotos de Brentwood tornavam-se ele, com suas jaquetas de couro, vestidos como ídolos mortos, como seus cantores de rock favoritos. Sentia a sua presença escapando do lugar encantado onde habitava, escondido nas brechas da vida, dizendo-me olá. Essas memórias são tão doces que se tornam ácidas, queimando a língua.
Mas daquela noite, entre quase todas, é a que mais lembro.
Deitados na cama de Taylor, aos poucos a realidade me atravessava lentamente: minha atenção se prendeu à mancha de sangue que havia arruinado a colcha de cetim azul, assim como o quarto retomava o contorno habitual: um jogo de chá decorava a cômoda ao meu lado, as delicadas bonecas em seus trajes rococós debruçadas em um balanço como a famosa pintura. Um filtro dos sonhos pendurado acima da cama, um altar com cristais e baralhos de tarô empoeirados ao lado dos livros de William Blake. Ninharias espalhadas pelo cômodo adulto, bem iluminado e de janelas largas, com o chão coberto por um carpete que lembrava um veludo azul.
A dimensão da realidade me embrulhou o estômago.
Havia algo perverso na ideia que atravessava minha mente, um sussurro venenoso que não se calava. Deflorada, desfrutável, moça mexida ㅡeu era. Assim diziam as más línguas de Roseville sobre as garotas que desapareciam em Salt Heirs com seus namorados nas noites abafadas de verão. E, como uma cicatriz de vacina no braço, a marca inegável surgia à vista de todos na manhã seguinte, impossível de ignorar.
ㅡ Você parece triste...
A boca de Jungkook se movia de forma quase hipnótica, seu lábio repuxava um pouco para baixo quando pronunciava as palavras, ou quando segurava o riso. Mas ria pouco. O que me fazia pensar que, no fundo, era uma pena. Tinha um sorriso bonito, dentes maravilhosos por natureza. E as covinhas ㅡ ah, as covinhas ㅡ apareciam como pequenas concessões do seu charme, surgindo nas laterais de suas bochechas quando ele comprimia os cantos dos lábios para cima, exatamente como agora, em um gesto de consolo carinhoso.