Red Line - Stray Kids

Capítulo 3 - Cafezinho de horas

Mina estava contando os segundos para chegar em Konguk, Yumi havia dito que ele apenas não conseguiria lhe ligar porque a bateria do celular estava no fim, então eles teriam que brincar de cabra cega e se encontrarem no escuro. Mina estava há poucos minutos da estação quando o fio vermelho voltou a acender e o brilho ficava gradativamente mais forte conforme se aproximava da estação. Até que o trem parou e do outro lado, ela o viu. Foram dois segundos rápidos, porque no instante seguinte ambos estavam atropelando os passageiros para sair dali o mais rápido possível. O fio continuava a brilhar, indo sempre em frente e Mina apenas seguiu a linha que ele fazia. Estava correndo e trombando com as pessoas, o fio não parecia mostrar o caminho, apenas indicava que ele estava ali.
Yumi e Minsun estavam correndo na direção das escadas quando viram Mina correndo no andar superior da estação. Felix estava indo para as catracas onde dava acesso para a plataforma do sentido em que o trem de Mina ia, ela acabou tendo exatamente a mesma ideia e foi em direção a plataforma dele, mas no meio do caminho, o avistou descendo as escadas que iam para sua plataforma. O fio agora parecia uma lâmpada de LED da mais fina que existia, o tempo-espaço parou de fazer sentido e Mina sentiu o corpo pesado e lento enquanto corria na direção dele, como se sua vida tivesse se tornado um filme em câmera lenta.
— Ya! – Mina gritou alto porque ele estava correndo tão rápido quanto ela nas escadas. A atenção dele e de boa parte das pessoas dali se voltaram para Mina, que sentiu o estômago virar de cabeça para baixo quando Felix se virou para ela e novamente seus olhos se encontraram. Ela continuou descendo em direção a ele e estava há três degraus de distância, quando pisou no próprio cadarço e estava prestes a cair quando Felix a segurou em seus braços. Então a troca de olhares profundos aconteceu e aquele fio vermelho berrante se apagou instantaneamente, indicando que haviam chegado em seu destino final. Mina encontrou seu destino nos braços de um belo rapaz logo após tropeçar nas escadarias do metrô, e ele estava lhe segurando com tanta força que o único pensamento que lhe ocorreu, era de que ele nunca a soltaria.
— Minsun, eles se encontraram! – Mina foi despertada pela voz alta e aguda de Yumi. Os dois piscaram rapidamente e Felix a pôs de pé. Ele coçou a nuca desviando o olhar e Mina segurou sua bolsa com firmeza, arrumou o cabelo e também desviou o olhar. — É ele mesmo? – Yumi perguntou parada ao lado de Mina e logo Minsun correu até ela e segurou seu braço.
— Ignorem o gnomo. Mina, vamos te esperar no estacionamento do outro lado, não tenha pressa. – Minsun disse arrastando Yumi que pedia insistentemente para alguém lhe dizer se eram as pessoas certas ou se ela havia falhado.
— Yang Mina. – Mina disse timidamente e estendeu a mão suada para ele que sorriu e a apertou no mesmo instante.
— Lee Felix. – Ele disse ainda segurando a mão dela e os dois acabaram rindo, constrangidos. — Isso está sendo mais constrangedor do que eu imaginei. – Felix disse risonho e soltou a mão de Mina que riu, balançando a cabeça em concordância. — Do outro lado da avenida tem uma cafeteira… você… – Ele não conseguiu terminar a frase mas Mina entendeu do mesmo jeito e balançou a cabeça positivamente.
— Eu ainda não consegui entender como a Yumi conhece você. – Mina disse ao sair da estação com ele e ver as duas no meio fio. Mina gesticulou com a mão, indicando que elas deveriam ir embora.
— Ela trabalha no ateliê que faz parceria com a empresa onde eu trabalho, fomos tirar medidas para fazermos ternos e ela quem fez o meu. – Felix estava sentindo as mãos suarem e suas pernas pareciam dois espaguetes. Parecia sua primeira vez falando com uma garota. Ele ajeitou o cabelo cinza, brincou com seus anéis por um instante e percebeu que não podia encarar Mina sem se sentir extremamente tímido.
— Wah, esse fio vermelho não é mesmo brincadeira. – Mina disse agradecendo com a cabeça quando Felix abriu a porta da cafeteira para ela. Os dois se sentaram na mesa de dois lugares ao lado da janela e logo o garçom trouxe os cardápios.
— Sinceramente, eu fiquei apavorado. Pensei que não conseguiria achar você de novo, já estava até pensando em aceitar a proposta do meu amigo de colocar a história na televisão. – Felix estava se forçando a parecer e se sentir o mais confortável possível.
— A Yumi ia anunciar no jornal também! – Mina disse rindo e Felix acabou concordando que aquilo parecia ser do feitio de Yumi, a julgar por cima que ela parecia maluca. Os dois fizeram seus pedidos e de repente um milhão de perguntas começaram a surgir. — Então, você trabalha com o que exatamente? – Mina perguntou segurando a alça da bolsa com um pouco de força, por estar ansiosa e nervosa.
— Meus tios são CEO 's de uma empresa do ramo de entretenimento, mas é virado totalmente para modelos e atores. Eles me convidaram para trabalhar como modelo, então eu vim morar na Coreia há uns dois anos junto com esse meu amigo, o nome dele é Christopher Bang mas aqui todo mundo chama ele por Bang Chan. – Felix disse alternando entre olhar ela por cinco segundos, ficar sem graça, desviar o olhar e depois voltar a olhá-la.
— Bem que eu notei seu sotaque. Você é de onde? – Mina não era nem de longe alguém interesseira, mas saber que ele era sobrinho de pessoas que tinham certo poder aquisitivo era animador.
— Austrália. Não é a primeira vez que viemos morar aqui, quando eu tinha doze anos minha família ficou aqui por três anos para ajudar esses meus tios com algumas coisas na empresa e depois voltamos porque meu pai recebeu uma oferta de trabalho muito melhor lá. – Felix explicou e agradeceu o garçom assim que o pedido chegou. — E você, faz medicina? – Ele perguntou curioso porque as roupas de Mina eram claras e ela ainda estava usando o jaleco sem mangas verde, onde estava escrito o nome da clínica.
— Medicina veterinária, estou no segundo semestre da faculdade. Desde sempre eu e a minha prima tivemos muito contato com a natureza e os animais, moramos com os nossos avós por muito tempo em uma fazenda, enquanto nossos pais tentavam ganhar a vida na cidade pra dar uma vida melhor pra gente. – Mina explicou enquanto comia seu bolo de baunilha.
— Sua prima é a moça que arrastou a pobre Yumi? – Felix perguntou rindo e Mina afirmou com a cabeça, rindo junto.
— Ela se chama Kim Minsun, ela pode parecer normal mas é tão esquisita quanto a Yumi. Ela jura de pés juntos que o Akai Ito não existe, e ainda assim ela se desdobrou para me ajudar a encontrar você. – Mina disse refletindo ao imaginar que Yumi só havia conseguido passar as "instruções" porque Minsun estava lhe ajudando.
— Acho que todo mundo tem um amigo assim, eu apelidei o meu de Ebenezer Scrooge. – Felix disse, fazendo Mina gargalhar, entendendo a referência perfeitamente.
A conversa durou horas e mesmo depois de comerem os dois continuaram ali, falando sobre suas vidas e percebendo o quanto já tinham em comum.
— Já está tarde, é melhor eu deixar você em casa. – Felix disse pegando seu casaco que estava na cadeira e se levantou.
— Melhor não, você deve morar do lado totalmente oposto de mim e vai ficar ainda mais tarde pra você voltar. – Mina disse, seguindo ao lado de Felix até a estação.
— Eu só tô tentando descobrir onde você mora, assim eu não corro o risco caso você suma de novo. – Felix disse sorrindo e Mina ficou corada enquanto balançava a cabeça. No caminho até o trem, os dois começaram a falar sobre filmes e animes que eram fãs, mas um silêncio estranho se instalou quando sentaram-se lado a lado nos bancos do trem. Mina estava com a mão em cima da bolsa no colo quando o fio voltou a brilhar numa linha de pequena distância entre ela e Felix, que sorriu  colocando a mão em cima da perna. Ao mesmo tempo, os dois tentaram agarrar o fio vermelho meramente para ver seus dedos passando reto ali. Eles riram e perceberam que o fio continuava brilhando mesmo que aproximasse as mãos cada vez mais. O dedo mindinho de Mina encostou no dele e de repente havia apenas um anel fino e vermelho no dedo de cada um.
— Queria poder tirar uma foto disso, parece magia. – Mina disse observando o fato de que a mão dele era pequena como a sua e o deixava ainda mais adorável. Ele concordou silenciosamente e encarou Mina que tinha os olhos cheios de admiração, e por mais que tenha ficado envergonhado com ela retribuindo olhar, ele simplesmente não conseguiu desviar. Talvez estivesse ficando louco ou se iludindo apenas por ter visto aquele bendito fio vermelho, mas a sensação que ele tinha era de que os olhos pretos de Mina fossem dois buracos negros do qual estava sendo sugado para dentro.
— Seus olhos são realmente pretos, que bonito. – Muitas pessoas acham raro ver olhos claros, mas Felix achava ainda mais difícil ver olhos realmente pretos e não apenas castanho escuro.
— E você tem olhos de anjo. – Mina estava falando sério, mas Felix acabou rindo e desviando dela, colocando as mãos no rosto que esquentou instantaneamente. — Você fica sem graça tão rápido, aigoo. – Ela disse dando dois tapinhas na cabeça dele que riu ainda mais.
— Você também ficaria se eu usasse meu charme de verdade. Mas ainda é cedo pra te fazer ter um infarto. – Felix disse gesticulando com as mãos e Mina acabou rindo alto. — Eu estou falando sério, é melhor você ir ao médico e fazer alguns exames cardíacos, eu não quero matar você sem querer. Depois que eu começar a levar você em um monte de encontros, ele vai ficar seriamente comprometido. – Ele disse se levantando e indo atrás de Mina que ainda estava rindo.
— Vamos ter encontros? – Ela perguntou com as bochechas rosadas ao sair do trem.
— Cedo demais pra falar sobre isso? – Felix perguntou com um sorriso levado.
— Não, mas achei que você fosse deixar pra falar sobre isso depois que me deixasse em casa. – Mina disse colocando as mãos no bolso e Felix riu baixo.
— Então quando eu deixar você em casa eu te chamo para um encontro no sábado. – Felix disse fazendo o mesmo e olhou para frente enquanto caminhava. Mina tropeçou nas palavras e mudou de assunto, com ansiedade para aquele pedido.
— Eu sei que não é exatamente Gangnam, mas pelo menos eu consegui sair da casa dos meus pais antes dos trinta. – Mina disse apontando discretamente sua humilde casa e Felix riu.
— Parece melhor do que a que eu divido com o Chris, e eu não moro exatamente em Gangnam. – Felix disse juntando as mãos na frente do corpo.
— Mas aposto que faz divisa. – Mina disse apontando para ele discretamente e Felix pendeu a cabeça para o lado enquanto afirmava sem graça. — De qualquer forma, foi ótimo te conhecer. Obrigada pelo café e por me trazer até em casa. – O coração dela automaticamente começou a disparar em pensar o que ele poderia falar na breve despedida.
— Eu que o digo, espero que nós possamos repetir isso mais vezes. – Felix pigarreou e coçou a nuca. — Quem sabe sábado, se você estiver livre… podíamos fazer algo. O que acha? – Ele perguntou e o sorriso de Mina quase rasgou suas bochechas.
— Claro, claro. Eu acho que a Yumi já deu o meu número pra você, então é só mandar mensagem e combinamos o que vamos fazer. – Mina disse tentando conter a empolgação e ansiedade.
— Tudo bem então… eu vou indo. Sua prima e a Yumi estão um tanto ansiosas para saber como foi as coisas. – Felix disse e apontou para as duas "escondidas" na cortina da janela, espiando eles. Yumi bateu a cara na janela ao se assustar com eles lhes encarando e logo se jogou no chão.
— Cuidado na volta e me avise quando chegar. – Mina disse e meio sem graça, estendeu a mão para Felix que sorriu e balançou a cabeça positivamente ao segurá-la. Um riso sem graça foi deixado no ar enquanto Felix voltava pelo caminho que havia ido e Mina flutuou em uma nuvem de algodão doce até sua humilde casa.
— Ele é tipo um unicórnio, não é? – Yumi encarnou o espírito de adolescente sonhadora e fã de romance teen.
— Unicórnio? – Minsun perguntou fazendo careta e acabou rindo com Mina sorrindo igual idiota e se jogou no sofá.
— Sim, lindo e surreal. Parece mentira, nem acredito que eu consegui ajudar alguém no Akai Ito, me sinto meio mística e muito poderosa. – Yumi disse e começou a cutucar Mina e rir, fazendo ela se sentar para começar a contar como a noite havia sido.
— E você ainda tem a ousadia de dizer que o Akai Ito não existe. – Mina debochou da cara de Minsun que lhe acertou com uma almofada.
— Achei interessante, mas com certeza deve haver uma explicação racional pra isso. – Minsun não dava o braço a torcer nem que ele estivesse prestes a ser quebrado em mil pedaços.
— Ah sim, sim. Finge que não está prestes a acreditar e nós fingimos que acreditamos na sua descrença. – Yumi disse enquanto colocava uma máscara de hidratação no rosto. As três estavam no quarto, arrumando as coisas para se deitar.
— E você não tem medo não? – Minsun perguntou para Yumi que queria fazer uma careta mas não conseguiu.
— Medo do que? – Ela perguntou se virando para encará-la.
— Você vive de namoradinhos por aí, e o você e o San já estão juntos há… sei lá, uns três meses? Não tem medo de se apegar muito a ele e de repente ter que romper tudo porque viu esse tal fio vermelho? – Minsun perguntou e seu sorriso foi aumentando conforme via Yumi se desesperar com aquele pensamento.
— Nah, isso vai demorar pra acontecer comigo. É só namoro de faculdade, nunca vai pra frente de qualquer forma. – Yumi não parecia tão confiante daquele pensamento e as meninas tão pouco sentiram firmeza em suas palavras. — Falando em namorados, será que esse amigo do Felix é rico ou bonito? Achei impressionante a força de vontade dele para colocar a história na televisão. – Ela disse tirando a máscara e as outras duas riram dela.
— Não sei se eles são ricos mesmo, já que quem tem dinheiro são os tios do Felix. Ele é apenas um trabalhador comum, como a gente. – Mina se deitou e respirou fundo se lembrando do rosto adorável de Felix.
— Trabalhador comum? Ele é modelo, australiano e mora em Gangnam, me diga o que diabos ele tem de comum? – Minsun estava passando sua camiseta do trabalho enquanto Yumi separava a sua.
— Ele tem mãos pequenas. – Mina divagou enquanto olhava as mãos, com os braços esticados para cima, ignorando totalmente o questionamento de sua prima
— Será que ela vai ficar falando dele 24 horas por dia? – Yumi perguntou, pegando seu urso da hello kitty que estava no chão ao lado de sua cama.
— Tenha certeza que sim. Vai ser fofo no começo, mas depois eu vou tentar arrancar a língua dela. – Minsun finalmente se deitou e apagou as luzes.
— Parece que uma montanha saiu das minhas costas, acho que finalmente vou poder dormir em paz depois de três dias infernais. – Mina disse fechando os olhos e suspirou. As lembranças frescas daquela noite voltou como um vídeo berrante em sua mente e seu sorriso foi inevitável.
Assim como Felix, ela contaria os segundos até poder vê-lo novamente.