A volta

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Olivia já tinha muita coisa na cabecinha, por mais que ela não falasse, eu sabia que essa obsessão dela por estudar não era só por motivos bons. (Estranho isso eu sei). Ela vivia brincando sozinha nas terras dos meus patrões, ou me ajudando. Também nos livros, eu via as outras crianças das fazendas vizinhas juntas indo pescar, andar de bicicleta e Olivia nunca foi.

Olivia sempre teve as melhores notas na escola, até avançou alguns anos de estudo. Isso era algo positivo, mas não para as outras crianças. Ela era a caipira estranha, quando não implicavam com a nossa condição social, ou por ela ser gordinha. Enfim, crianças são cruéis, ainda mais quando se anda em bando. 

Infelizmente ela descobriu que era adotada pelos filhos dos meus antigos patrões, quando ela tinha dez anos.

Pensei que ela iria enlouquecer, ou sabe-se lá qual possível reação negativa ela iria ter, mas, por sorte não teve reação negativa. Acho que estávamos esperando que ela agisse como nas novelas, quando o personagem descobre que foi adotado e fica rebelde. Olivia sempre lidou bem com essa questão.

Não é porque ela é minha filha, mas ela é incrível! Aos quinze terminou o ensino médio, adiantou alguns anos por causa da alta performance dela na escola.

Aprendeu sozinha a falar espanhol, italiano, alemão e japonês, tudo isso nos livrinhos. Ganhou bolsa de estudos para aprender inglês, depois que terminou o curso começou a dar aula para as crianças na escola em que aprendeu.

Ganhou uma viagem com tudo pago para os Estados Unidos e foi lá que a vida da minha filha mudou.

Aos quinze ela foi para uma viagem de apenas quinze dias, mas não sei o que aconteceu, ela entrou em uma competição de canto nos estados unidos, entrou só por entrar. Apesar de muita intriga de um jurado que não ia, e não vai até hoje com a cara dela. Ela permaneceu (o que me foi de grande surpresa, minha filha cantava só no chuveiro, ou quando tocava algum instrumento. E eu achava lindo, mas achei que era algo de mãe babona), no meio da competição um dos jurados a juntou com mais quatro garotas, formando um grupo. Chegaram na final e ficaram em segundo lugar.

Achei que tinha acabado, mas o jurado que as juntou, bancou o primeiro CD do grupo e toda a produção. Isso já faz três anos.

Olivia era a mais velha do grupo com quinze anos, Emily e Sarah com quatorze, Karla e Jennifer com treze.

Se tornaram o grupo feminino mais ouvido da história, números e recordes batidos, prêmios e mais prêmios. E minha filha, que era apenas a minha menina, hoje é a Olivia, com milhares de fãs, participando de um grupo americano. A vida é louca (como ela mesma diz).

Olivia sofreu muito com comentários sobre o seu corpo, ela é a única gordinha do grupo, as pessoas falam de padrões de beleza e os comentários em redes sociais eram cruéis, começou a fazer mal a mim mesma. Que como uma mãe coruja fico lendo o que aquelas pessoas diziam.

É difícil ler aquelas coisas e não poder defendê-la.

Ver minha filha entrar naquele carro rumo a vida dela, me causa arrepios. Me pergunto como as pessoas irão recebê-la agora, será que eles terão o mínimo de compaixão por ela. São três meses que ela ficou distante de toda a rotina, não sei se eles estão preparados para vê-la em um novo corpo.

Olivia emagreceu muito, não por regime e exercícios, mas por ficar somente deitada chorando e sem comer. Ela voltou a comer três semanas atrás, porque desmaiou. E se tem uma coisa que minha filha é, é comprometida com o trabalho. Ela sabe que precisa estar saudável para voltar a rotina de shows.

O coração está apertado, me resta rezar para que o mundo seja bom com ela.

POV KARLA

- Karla, você vai furar um buraco no meio do escritório. – Sarah disse tentando me parar de andar de um lado para o outro.

- É, poxa, tá me deixando zonza. – Jennifer reclamou.

- Sério que vocês não estão nervosas para a volta da Olivia?

- Estamos! E gente, cada um reage de uma forma, deixa a Karla em paz, e todo mundo fica em paz. – Emily disse.

- Calma meninas, ela está voltando. É uma reunião como as outras que já tivemos, planejar o cronograma de gravação. Depois divulgação, não é a primeira vez que vocês fazem isso. – Simon disse se sentando em uma cadeira.

- Eu tô com medo dela sair do grupo. – Jennifer disse enquanto enchia um copo de coca cola.

- Como assim? Ela não faria isso! Não viaja! – Emily disse.

- Não viaja? Ela nos abandonou por três meses, TRÊS MESES! – Jenni retrucou. -Terminamos a turnê em quatro, ela não nos ligou em nenhum dia! Foi a mãe dela que nos deu notícias dela. Ela disse que voltaria rápido, o mais rápido possível e sumiu por três meses. TRÊS MESES!

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