4 anos

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4 anos depois

POV MAITE

- Ei baby – Ele finalmente atende minha ligação.

- Koko, onde você está?

- No estúdio, a galera terminou de gravar os instrumentos, pediram umas cervejas, resolvi ficar... Está tudo bem?

- Hoje fazemos seis anos de namoro! Eu planejei minha agenda toda para hoje, para a nossa noite de comemoração.

- Ah baby, nunca fomos um casal tradicional! Para que se prender em datas a essa altura?


- Eu sei, que somos um casal mais tranquilo, mas eu só queria comemorar com você, na nossa casa... Tomando vinho, se curtindo... Será que você pode vir para a casa?

- Eu sinto muito baby, o pessoal comprou comida e bebida para todo mundo. Fica chato sair agora, olha eu prometo que te recompenso depois essa data! Vamos ainda é nove e pouca da noite! Ligue para Joyce, vá fazer um vídeo chamada com suas amigas eu. – Desliguei na cara dele.

O que eu vou fazer com todo esse vinho? Essa mesa de queijos e fondue? Antes de Koko eu era uma mulher completamente romântica, mas, o jeito desprendido dele de agir, sem combinar, sem muito demonstrar me tornou assim. Ele me moldou, se fosse a Maite de antes provavelmente eu estaria saindo de casa levando Sancho, meu cachorro.

Não vou ligar para Joy ou para as meninas, eu falei com elas tanto sobre a noite de hoje, se eu falar que ele me trocou por uma cervejada no trabalho, o ranço que elas tem dele só irá aumentar.

Peguei meu celular e me joguei no sofá ao lado do meu cachorro, que provavelmente será minha única companhia hoje.

Ao entrar no Instagram, vejo que saiu a lista de nomeadas para Billboard Women in Music. E lá está ela, Olivia, nas categorias de produtora e compositora, fora as categorias com o grupo.

Bom, vou mandar uma mensagem para ela, parabenizando pelas indicações.

"Oi, passando só para te dar parabéns pelas indicações para Billboard! Tem meu voto!"

Tenho um carinho muito grande por ela, uma mistura de carinho, com orgulho, sou fã da pessoa que ela é e da profissional respeitada que ela se tornou.

- Maite! Como você está? Espero que bem. Obrigada! Sua torcida significa muito para mim - Depois de quase uma hora ela me respondeu.

- Não tão bem quanto gostaria, mas, não vou ficar tomando seu tempo. Beijos!

Ela mandou uma carinha pensativa.

- Eu acabei de sair do estúdio que fica aqui em casa, estou livre, quer conversar?

- Jura? Sério não quero te atrapalhar.

- Juro! Desde o clipe não tiramos um tempo para conversar, posso te ligar de vídeo?

- Claro!

POV OLIVIA

- Oi! – Disse toda animada.

- Oi, como você está?

- Estou bem! E você? Porque você não está bem? – Abri a geladeira pegando uma cerveja.

- Besteira.

- Olha, eu aprendi que se te afeta, não é besteira... Aceita uma cerveja?

- Obrigada, estou com meu vinho fiel. – Ela me mostrou a taça.

- É, você realmente ama vinho.

- E você tomou os vinhos que te mandei?


- Ainda não!


- Olivia! Como pode ser?

- Estou esperando você para tomarmos juntas, e isso já faz... Quatro anos!

- O tempo voa.

- Sim... Olha até admito que me deu vontade de tomar cerveja.

- Essa é muito boa! Um dia precisamos tomar. Vamos ficar tontas, mas, vamos tomar vinho e cerveja.

- Vamos!


- Desculpa se eu tiver sendo bem indelicada, mas, me preocupo com você, está com uma carinha de Lupita. – Falei fazendo ela rir.

- E como é a cara de Lupita?


- Cara de choro, como se tivesse uma montanha de sentimentos, mas tem uma barragem prendendo tudo dentro.

- Você é boa nisso. Você conhece meu namorado, o Koko. – Afirmei com um gesto. – Hoje fazemos seis anos de namoro, eu planejei toda a minha agenda, e falava com ele sobre isso. E hoje que eu preparei um jantar, ele ficou no estúdio bebendo com os amigos.

- Mas era uma surpresa certo? O jantar... Sei que surpresa é legal quando dá certo, mas, liga para ele! Fala que você preparou todo um jantar, que é para ele ir aí.

- Eu falei. Ele disse para não nos prendermos as datas convencionais, que somos um casal desprendidos disso. – Ela suspirou pesado.

- Eu sinto muito, um casal precisa estar alinhado na conversa, nos pensamentos, atitudes... Converse com ele, quando esse sentimento todo estiver mais brando em você e diga como se sentiu.

- O Koko, é desprendido demais nessa parte. Ele é sensível, mas em relacionamento não tem essa coisa de rótulos. Padrões.

- Eu não acho que seja rotular e padronizar. É um relacionamento, ele precisa voltar a visão dele para vocês dois... Ver só o que ele quer, isso é algo mais singular, do que para um par.

- Wow... Essa doeu.

- Desculpa... Tá nítido que você está magoada, e eu não vou colocar panos quentes nisso, sua dor é válida sim.

- Obrigada por me fazer companhia essa noite.

- Já está me dispensando? – Falei com espanto.

- Não! – Ela gargalhou, e eu sorri, não gosto de ver ninguém triste. – Eu só não quero tomar seu tempo.

- Imagina, você fala como se eu fosse a pessoa mais ocupada do mundo.

- Talvez seja. – Ela tomou um gole de vinho.

- Não, eu sou bem entediante na verdade, minha vida se resume a trabalho, jogar em casa, estúdio... dançar e fazer show.

- E compor músicas, produzir álbuns

- É, mas mesmo assim... parece muito, mas é só isso.

- Só mesmo? – Ela disse desconfiada.

- Sim, por que?


- Li que você estava conhecendo melhor a Hailee Steinfeld.

- Eu e Hailee somos só amigas, nunca nem ficamos. O povo tem uma mania de me arrumar namorada! Já foi Taylor Swift, as meninas do grupo... Namorei todas também. Ariana, Megan... Até Já falaram que a Beyonce estava traindo o Jay-Z comigo, vê se pode! – Maite gargalhou.

- E não se esqueça de mim, na época do clipe, várias suposições sobre nós.

- Pois é... Mas, não tenho ninguém.

- Quantos anos você tem?

- 26 e você 32 certo?

- Isso mesmo. Tão nova e tão madura.

- No fundo, sou bem patética.

- Claro que não! Você é uma das mulheres mais lindas que já vi. E não estou falando isso por falar.

- Você é gentil.

- Eu e mais alguns milhões de pessoas... – Ela tomou mais um gole de vinho. – Posso te perguntar uma coisa?

- Claro.

- Desde que você perdeu sua namorada, você nunca mais namorou ninguém? Nem escondida?


- Não.

- Por que isso? Ainda a ama?


- Nos primeiros anos sim, um amor de pertencimento, como se eu pudesse ser só dela e de mais ninguém. Você já perdeu alguém tão próximo assim de você Maite?

- Ainda não, meus avôs faleceram eu estava na barriga da minha mãe. Eu não sei como é a dor do luto.

- Fabricio Carpinejar, que é um escritor fabuloso brasileiro, diz uma coisa muito interessante sobre o luto, que a dor do luto é como uma panela depressão. O que você faz com uma panela de pressão? Eu não sei se você cozinha ou não, mas, você não tem como abrir a panela, tem que soltar a fumaça aos poucos... É um processo, processo lento, porque com a morte com o luto, não é a outra pessoa que morreu, ela continua contigo, você se lembra dela todos os dias. É você que morreu para ela, você não tem saudade do outro, você tem saudade do que você nunca mais será para o outro. Você pensa não no abraço que você não vai mais dar, no beijo que você não vai mais dar, você pensa no beijo que você não vai mais receber, no abraço que você nunca mais vai receber. A morte do outro é a nossa inexistência. A gente não tem mais aquela pontada, de eu nunca mais vou poder ligar, a gente pensa na ligação que nunca mais vai receber, eu nunca mais vou receber aquela visita, por isso que ela desconstrói... Porque pela primeira vez, você deixou de existir pra alguém, e essa pessoa continua cada vez mais viva ainda dentro de você.

- Nossa, que forte.

- É tão forte quanto sentir, te garanto.

- Lembro como você mudou, fisicamente... Mudou também a forma de agir, percebi isso. 

- É eu mudei muito, mas te juro, Elisa me deu muita coisa, ela foi como um adubo pra mim. E sempre vai ter um espaço no meu coração nos meus pensamentos e orações. Um dia desses a Emily me perguntou porque eu ainda estou solteira, se eu ainda busco uma Elisa em alguém.

- E qual foi a resposta?

- Não, Elisa só terá uma, a questão é que de fato eu não encontrei alguém que fizesse meu coração bater acelerado, me fazer perder o sono, ter interesse. E eu não sou aquele tipo de pessoa que faz as outras perderem seu tempo, ou crio expectativas em vão, eu me preocupo muito com o emocional das pessoas.

- É, a gente precisa ter responsabilidade emocional sim pelo outro. – Escutei o barulho de um ronco forte.

- O que é esse som? – Maite riu. – É esse carinha aqui, ela filmou o cachorro ao seu lado no sofá. – Meu filho Sancho.

- Ai que fofo.

- Meu gordinho roncador. – Ela parou olhando para a tela. – Eu queria que você estivesse aqui.

- Seria um prazer conhecer sua casa, tem um belo sofá.

- Na verdade a casa foi toda decorada pelo Koko, a casa era dele, eu que me mudei para cá faz quase cinco anos.

- Hum... – Dei um gole na cerveja. – Então não gosto mais do sofá.

- Ah não você também pegar ranço dele não!

- E quem mais tem ranço do Koko?

- Minhas amigas, minhas quatro melhores amigas, três são da época do jardim de infância. E a quarta você conhece, a Joyce minha empresária.

- Bom, se elas têm uma certa implicância com ele, duvido muito que o problema seja elas... Pense nisso.

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