Ainda dá tempo?

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POV MAITE

- Ué, cadê sua prima? – Vi Joy se aproximando.

- Vem comigo. – Ela disse séria.

- Tá bom. - Caminhamos em silêncio ela parece tensa, percebi que estamos indo ao final do corredor da casa dela, onde fica o escritório. - Estamos indo no seu escritório porque?

- Entra, e seja extremamente sincera.

- Que isso Joy?

- Entra, fica o tempo que precisar.

Ela saiu andando sem olhar para trás, então abri a porta.

Quase cai para trás quando a olhei, Olivia... De pé. Quis abraça-la mas fiquei paralisada, não sei o que fazer, nossa última conversa não foi amigável.

- Joy me disse que você ficaria parada na entrada. – Olivia estava visivelmente nervosa.

- Oi

- Oi, será que você poderia entrar? Queria conversar com você.

Fechei a porta em completo silêncio. Eu esperava por tudo, menos Olivia parada em minha frente.

- Fiquei sabendo o motivo da comemoração hoje, parabéns, merecido, você trabalha muito a música é muito boa.

- Veio me dar um feedback artístico?

- Não, desculpa... Eu tenho bastante coisas para te falar, e eu sei que você provavelmente tem para me dizer, quer que eu comece ou.

- Eu começo. – Cruzei meus braços. – Olivia, eu estou muito feliz de te ver de pé, ver como você tem si recuperado. Mas ao mesmo tempo eu estou confusa. Acho que você deixou diversas vezes, bem claro que você só quer a minha amizade. A primeira vez você me disse que tinha alguém, depois aconteceu o atentado a gente se reconectou e você me veio com uma conversa de que não estava pronta.

- E não estava.

- Só eu falo... Eu também não estava pronta, eu nunca estive pronta para isso. Eu sou conhecida pelas minhas amigas como a dama de gelo, a sem coração... A que deixou o namorado no altar, quando ele organizou um casamento surpresa. A desapegada... A que não quer nada duradouro. Você parou para se colocar no meu lugar? Me ver apaixonada como se fosse a primeira vez na vida... E talvez fosse... Por uma pessoa que é só, uma estrela mundial! Cheia de fãs apaixonados.

- Não é sobre quem é mais famosa.

- Só eu falo... Eu te pedi tantas vezes nas ultimas semanas para que você falasse tudo, e você se negou então, agora você me escuta em silêncio. – Puxei ar dos meus pulmões para continuar falando. – Sendo extremamente sincera com você, eu nunca fiquei escandalizada por ter me apaixonado por uma mulher. Isso foi algo que me surpreendeu? Sim, mas só. O que me deixou em pânico foi sentir isso por alguém depois de tantos anos, eu não sou uma adolescente, e me sentir assim? Suspirar com cada notificação, passar o tempo todo pensando na pessoa? Isso para mim, é algo tão colegial! E eu já sou velha para esse tipo de comportamento. E aí, quando eu percebo, que além desse sentimento grande, por quem eu sinto as coisas é alguém gigante em todos os sentidos para mim, isso me amedrontou! E todas as vezes que eu tentei, não era só pedindo um carinho, foi pedindo ajuda, porque você não tem ideia de como é ruim sentir isso tudo sozinha! Sem saber de verdade se esse sentimento que me consome, se ele tá só em mim. – Comecei a chorar, vi no olhar de Olivia que ela não esperava por isso. – Porra Olivia! Porque você é tão egoísta com relação a seus sentimentos? Porque você não segurou a minha mão e me disse claramente se é sim ou se é não.

- Eu sempre te quis. – Olivia disse chorando.

- E porque não assumiu que queria!

- Porque você tinha alguém! Eu não queria ser estepe... Eu não queria ser algo escondido. Eu lutei muito na minha vida para ser quem eu sou. Eu não queria ter que me esconder.

- Mas quem te falou que eu te esconderia?

- Eu achei!

- Olha aonde o seu achismo nos levou! – Gritei. – Porque não me disse? Aquela noite no hotel, eu me precipitei! Mas eu só queria saber se era algo da minha cabeça, no dia seguinte eu ia terminar com o Koko... E assim eu fiz, assim que votei.

- Eu não queria que você se sentisse julgada por mim.

- E então aquela pessoa é uma mentira?

- Sempre foi! Sempre foi você... Sempre. – Olivia se aproximou lentamente.

- E porque não assumiu isso depois do acidente?

- Como? Eu não sabia se eu ia ficar de pé! Eu? Parou para pensar nas minhas inseguranças? Nenhuma mulher me abalou depois da morte da Elisa, juro que até cheguei a questionar a minha sexualidade! E ai vem você... Que não era um rosto estranho para mim, é o rosto da mulher mais linda que eu já vi. Da moça que eu vi no Rebelde do SBT... Que eu vi em encantei de primeira. Imagina a confusão na minha cabeça! Até onde era algo, até onde era carência? E você sempre foi hétero! Que pessoa azarenta eu sou, me apaixonar depois de tanto tempo e não poder por ela não gostar de mulher... E me afastar foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz! Mais difícil do que raciocinar... Mais difícil do que matar pessoas para me defender. Acordar, daquela forma, incerta dos efeitos colaterais... Como me declarar pra você? Como você achou que eu me sentiria de ter você. E se quer poder ficar de pé ao seu lado.

- Eu não ligaria com isso, eu só queria você! De pé ou em uma cadeira de rodas ou na cama... Eu não me importaria.

- Eu me importaria! É difícil separar, a mulher que eu me apaixonei, da mulher que eu sempre admirei. A que sou fã, seria hipocrisia dizer que em nenhum momento eu pensei na diferença de idade... Não no que as pessoas vão pensar, isso é tão pequeno, mas no sentido do que eu teria para te oferecer? Eu, mais nova... Sem muita experiência. No português claro, será que eu vou dar conta? Ela é muita areia para a minha carroça.

- Olivia eu só queria você. – Repeti sem ar, com toda a confissão dela.

Eu me sentia nua depois daquela conversa, eu disse tudo, absolutamente tudo o que estava entalado em mim. E ela também.

Ambas reconhecem o esforço de se despir de tudo e assumir o que sentiu, o que levou a falar ou não. Ela não se colocou no meu lugar, eu não me coloquei no lugar dela. Erramos.

- Agora, só me diz uma coisa. – Ela enxugou suas lágrimas, e respirou fundo. - Ainda dá tempo? – Olivia me perguntou.

Fiquei surpresa com aquela pergunta, ela fez uma clara referência ao que eu disse na nossa ultima conversa.

Não estamos tão distantes fisicamente, eu queria ter voz para dizer que ainda sim, eu queria ter pernas para me aproximar. Mas não consegui, apenas afirmei com a cabeça.

Ela sorriu enxugando as lagrimas mais uma vez. Em seguida se esticou para colocar sua mão pelo meu rosto, enxugando minhas lágrimas. Deu dois passos, e deixou a bengala encostada.

- Se depender de mim, você nunca mais vai se sentir só. – Ela me disse séria. – Eu estou aqui e não vou a lugar nenhum, sem você.

Continuei paralisada, vê-la tão perto de mim, seus olhos me passando tanta entrega tanta confiança. Eu não estou acostumada com essa versão dela. Decidida, firme e focada quando o assunto é nós duas.

Eu queria ter atitude de beija-la, mas de fato eu só consigo respirar fundo e continuar paralisada com ela tão perto, agradeço por essa mesa de escritório estar aqui, um lugar para me apoiar, sou eu que não sinto minhas pernas.

E sem muito dizer sua mão voltou para o meu rosto, foi parando lentamente em minha nuca, fechei meus olhos com o contato.

Ela me beijou, tão lento... Como se seu corpo tivesse conectando com o meu aos poucos, beijo lento, breve. Sua mão desceu até minha cintura e eu pude sentir seu aperto, quando nossas línguas se encontraram pela primeira vez.

Eu devo estar tento um sonho bom, meu corpo voltou a funcionar, consegui erguer meus braços até encostar minhas mãos em seus braços percorrendo até a sua nuca, onde segurei.

Senti o efeito do meu toque, sua mão apertou novamente minha cintura e eu tive certeza que ali era um ponto fraco, que eu vou explorar mais e mais.

Queria ter fôlego para continuar aquele primeiro beijo, mas desfiz o contato, realizando a vontade que me consumia de morder de leve e puxar aquela lábio carnudo. Abri meus olhos para admirar esse momento, ela ainda de olhos fechados sorria.

-Será que agora que tudo está esclarecido, as coisas podem ser mais fáceis entre eu e você? – Perguntei.

- Sim.

- Eu nunca vou esconder nada do que eu penso ou sinto de você, não mais.

- Ótimo. – A beijei.

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