Apagão

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Dois meses depois.

POV MAITE

Pego meu celular, para responder meu pai, uma vez no mês temos a noite do pai com os filhos, e essa semana ele quer jogar boliche.

A vida anda corrida, quase perfeita eu diria.


Depois de desabar no colo da Joy, fiquei dois dias na casa dela, e depois fui até a casa do Koko, que era a minha também... Contei tudo para ele, absolutamente tudo e terminamos. Daquela casa não quis levar nada que não fosse minhas roupas e o Sansho, jamais ia deixa-lo para trás.

Não anunciamos o fim do relacionamento, sempre fomos discretos, não anunciamos o começo não vimos sentindo em anunciar o fim, tem gente que até hoje acha que estamos juntos... Por mim tanto faz, sei que assim que a imprensa souber que estou solteira, vão especular cada homem que chegar perto de mim.

Por longos três meses fiquei na casa do meu irmão mais velho o Adolfo, enquanto buscava uma casa só para mim, pela primeira vez na vida... Minha casa, com minha decoração, minhas coisas.

No começo foi um pouco solitário, mas me acostumei. A onda de trabalho também me consome bastante. Cachito de Cielo teve uma preparação tão intensa, e quando se começa a gravar não se para tão cedo... Terminando a novela vou me dedicar a música, vou gravar com a Marilia Mendonça, ela é uma fofa, a música é ótima... Ela é a melhor amiga da Olivia... As vezes me dá vontade de perguntar para ela como a Olivia está. Vejo algumas entrevistas, mas, não é a mesma coisa.

Desde aquela noite, não nos falamos mais, ela deve me odiar... E eu morro de vergonha. Ela esqueceu a jaqueta no quarto aquela noite, eu poderia ter usado isso como uma desculpa para puxar assunto, dizer que preciso devolver, mas o perfume dela naquela jaqueta de couro.

Também poderia falar do anuncio feito pelas cinco falando do encerramento do grupo, sei que o grupo, as meninas são muito importantes para ela, queria saber como ela se sente.

Queria contar para ela que estou solteira, tenho a minha casa, do meu jeito... Ah sei lá, é estranho parar de conversar tão bruscamente com quem preenchia todo o seu dia a dia. Sinto falta de ouvi-la dizer meu nome.

- Maite. - Juana maquiadora do elenco entrou no camarim.

- Oi.

- Vamos mudar a maquiagem tá, se inclina por favor e feche os olhos, vamos limpar sua pele e fazer uma nova maquiagem.

- Claro, como está seu filho está melhor?

- Sim, graças a Nossa senhora de Guadalupe ele está melhor.

- Ainda bem, coitado... Dor de cabeça a dias, deve ser horrível.

- O pobre chorava de dor... Sete aninhos e com essa dor, me assustou. O medico sugeriu futuramente quando tivermos condições fazer um exame completo da cabeça dele, para ver se não é nada mais grave.

- Ainda bem que melhorou... Juana, não espera ter condições, você tem amigos, eu sou sua amiga, marca todos os exames, no melhor hospital do México, eu pago tudo.

- Imagina. - Ela parecia sem graça.

- Imagina nada, você trabalha comigo desde Rebelde, te admiro muito, olha se não quiser aceitar por você, aceite pelo seu filho. - Ela começou a chorar. - Calma minha amiga, tudo vai se resolver. - Peguei na mão dela. - Só te peço uma coisa.

- Claro.

- Não diga a ninguém que eu ajudei, caridade só é feita mesmo quando não é divulgada, vai ser nosso segredo está bem?

- Está bem, muito muito obrigada. - Ela se inclinou para me abraçar...Uma musica de alerta começou a tocar alto na TV ligada ao camarim. - Ai minha nossa senhora de Guadalupe quanto tempo não tem plantão urgente.

- Que estranho. – A respondi. Ela parou de me maquiar e eu abri os olhos.

- Interrompemos a programação para dar uma triste notícia, aconteceu a menos de uma hora, um atentado na escola de artes de Los Angeles nos Estados Unidos. A escola estava fechada para aula exclusiva com a turma de música. Seis atiradores fortemente armados entraram no prédio gritando e ameaçando como mostram as imagens cedidas pela polícia de Los Angeles. Tudo indica que o intuito era apenas um alvo, a professora da turma e cantora Olivia Martins. – Eu quis gritar, mas a minha voz não saiu, eu só pedia para que as próximas palavras não fosse as piores. – Ouve confronto entre ela e os atiradores, a policia foi associada por um aluno da escola escondido no banheiro, infelizmente sete mortes confirmadas, sendo seis dos atiradores. Olivia foi levada para o hospital em estado grave.
Voltaremos assim que tivermos mais notícias sobre o caso.

- Não... Não não ela não. – Comecei a chorar, Joyce me ligou imediatamente.

- Onde você está?

- Eu vi, eu vi a notícia, ela não!

- Calma onde você está?

- Televisa... – Senti minha cabeça girar, a visão ficar turva... Escura.


POV OLIVIA

Uma hora antes.


- Recentemente. – Me falei sentando em uma cadeira de frente para a turma. – Eu passei por um momento muito forte, NÃO VÃO VENDER ESSA NOTICIA PRO TMZ HEIN! – Fiz todos aqueles adolescentes rirem... Eu estou gostando dessa coisa de dar aulas. – Eu me apaixonei.

- Ahh – A turma disse em coro.

- Professora posso ir no banheiro? – Alissa me perguntou. - É urgente. – Discretamente ela me mostrou o absorvente na mão.

- Claro, vai lá. Alissa, só não demora.

- Está bem.

- Eu me apaixonei, por quem eu não podia me apaixonar, ela tem namorado, tem uma vida...

- Que merda. – David disse fazendo todo mundo rir.

- Pois é, eu sinto muita falta dela, é a minha saudade diária, mas eu amenizo um pouco na música, cantando, compondo.

- Mas, professora, você é a Olivia, tenho certeza que ela ficaria com você! - A turma concordou. - A senhora é linda!

- Tá, vamos lá... primeiro senhorita, segundo, ser famoso mundialmente não é tão bom quanto parece. As pessoas te perseguem as vezes por uma foto... Tem a responsabilidade social, que todos nós temos, mas quando se é famoso, é mais intenso. E ela também é famosa, então, mesmo que eu ser famosa fosse alguma coisa... Ela também é.

- Fala pra gente quem ela é! A gente guarda segredo!

- Não não...  Conheço vocês.

- Ah dá uma dica! Ela é atriz ou cantora?

- Os dois.

- Que cor é o cabelo dela?

- Chega! Chega disso... Voltando a aula... Semana que vem eu quero que vocês tragam para mim, um rabisco que seja, eu não quero impor nada, tudo tem que ser o que turma?

- Fluído

- Exatamente! Mas eu quero que vocês se empenhem e escrevam algo que é especial de alguma forma, especial triste... Especial alegre, e vamos juntos compor. Vou lapidar a composição de cada um de vocês.

- Somos vinte e dois alunos professora.

- Eu sei! E vou fazer isso com cada um de vocês, como em todos outros processos.

- Mano, que loucura! A gente vai escrever uma música com a Olivia que já ganhou um monte de Grammy de composição! – Richard comemorou.

A turma toda animada, enquanto eu buscava um livro na minha mochila.

- Professora, quantos Grammys ganhou por composição?

- Nossa, não sei Cindy.

- Eu dei um google, foram 13.

- 13? – Me surpreendi. – Bom, no meu pais, no Brasil, treze é um bom número, representa esperança. – Lembrei que a Alissa não voltou ainda.

- Cindy.

- Sim.

- Pode ir atrás da Alissa por favor? Estamos sozinhas nessa escola enorme, fico com medo de deixar vocês sozinhos por ai.

- Claro. – Ela se levantou, indo em direção a porta e saindo.

Escutei um grito, e Cindy pedindo socorro.

Um barulho de estouro enorme, de doer o ouvido.

- VEM AQUI! – Escutei uma voz masculina.

Os alunos se olhavam assustados, tampando a boca um dos outros.

- ME DIZ DE QUE PORTA VOCÊ SAIU? – Ele gritava com ela, que só sabia chorar.

- Por favor não me machuca!

- REPONDE QUE PORTA!

- Não!

Fui até a janela, estamos no quarto andar não posso pedir para eles pularem.

Olhei para eles, pedindo para deixar o celular no silencioso... E chamarem ajuda, ligar falando baixinho para a polícia.

- OLIVIA! OLIVIA CADÊ VOCÊ? – Ouvi mais e mais barulhos de tiro. – OLIVIA, VAI MESMO DEIXAR UMA VIDA INOCÊNTE MORRER? A GENTE QUER SOLTAR A GAROTA, NÓS SÓ QUEREMOS VOCÊ.

Os alunos me olhavam pedindo para não ir, mas, e se eles tiverem pego a Alissa? Duas vidas inocentes.

- Aguenta, a policia já tá vindo.

- EU VOU EXPLODIR A CABEÇA DESSA GAROTA OLIVIA... A CULPA SERÁ SUA.

- Assim que eu sair, e a Cindy entrar, vocês trancam a porta, e empurram os moveis, armários mesas tudo o que puder, e não fiquem na direção da porta, estão me ouvindo?

- Não vai... Não vai.

- Deve ser só uma quadrilha querendo me sequestrar, conseguir dinheiro... Ninguém de vocês vai se machucar eu prometo...

Mais um tiro.

- UM – Ouvi varias vozes masculinas do lado de fora. – DOIS, VAMOS OLIVIA!... TRÊS E

- SOLTA ELA! – Gritei saindo no corredor, dando de cara com 3 homens armados. – Eu tô aqui.

- OLHA SÓ QUEM APARECEU PESSOAL. – Eles deram risada.

- Solta ela. – Percebi que Alissa não estava junto, fiquei mais aliviada.

- Se aproxima... – Ele disse sorrindo.

- Eu vou, mas solta ela.

- E quem me garante que você não vai trapacear?

- Cara, não sou eu que estou armada... Se eu correr, vocês atiram em mim, só solte ela, é uma criança de 16 anos não façam isso... Não sou eu que vocês querem? Eu tô aqui.

- Olha aqui sua putinha mirim. – Ele apertou o braço dela, você vai andando calmamente até a sala... A gente vai ter uma conversinha de adulto.

Ele soltou o braço dela e ela veio andando devagar. E entrou na sala.

Escutei o barulho de moveis sendo arrastados. Isso me aliviou, eles não machucariam tão cedo aquelas crianças.

Os três se aproximaram de mim, me cercando.

- Avisa por rádio que achamos nossa encomenda, os seis vamos nos divertir antes de fazer o serviço final.

- Beleza. – Eles deram risada.

- Sabe Olivia, eu já fui no seu show, duas vezes... Fiquei de pau duro com vocês cinco rebolando, mas você... É a que mais rebola. Delícia.

- Pena que é sapatão.

- Pois é, eu tenho para mim, que isso. – Ele tirou uma facão da fivela e começou a passar pelos meus seios. – É porque nenhum homem te pegou do jeito certo, nenhum homem meteu gostoso. - Os dois deram risada. - A sua sorte, é que no seu último dia de vida, eu e mais uma galera, vamos fazer você aprender a gostar de macho.

Aproveitei que os três distraíram com a provocação, arranquei a faca da mão dele e enfiei em seu braço.

Que caiu no chão gritando com a facão enfiado no braço.

Entrei em luta corporal com os outros dois, consegui tirar a arma de um deles, não tive escolha, ele pegou uma metralhadora para me acertar, eu atirei na cabeça dele e na do outro também.

Senti minha perna queimar, meu corpo perder a estabilidade, me virei e três atiradores vieram em minha direção.

Um tiro no ombro, na mão (mas mesmo assim não soltei a arma).

Mais tiro nas pernas, o tiros na barriga, consegui acertar mais um, que caiu morto próximo a mim.

Eu preciso ganhar tempo eles não podem achar as crianças.

Atirei novamente tentando afastar o único que ainda se aproximava.

Senti uma dor forte nas costas, quando olhei, era a facão que usei no braço do primeiro maldito, atravessando minha barriga.

Minha vista está escurecendo, sinto gosto de sangue na minha boca, não consigo me mexer.

Tudo se apaga.

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