POV HELENA
Vinte e seis dias, e minha filha em coma, vinte e seis dias que ela foi covardemente atacada.
Vinte seis dias que eu e nem o FBI sabe quem pediu para matá-la.
Vinte e seis dias que eu moro nesse lugar, e só vou sair daqui com ela.
Tantas orações, tantas pessoas chorando pedindo pela recuperação dela, Marilia cancelou a agenda por vinte dias, para ficar aqui conosco, Karla sempre vem nas pausas do shows... Maite falando comigo sempre várias vezes ao dia, e saindo toda folga que tem das gravações e vindo ficar aqui conosco (ela já fez isso por cinco vezes).
- Senhores, por favor nos acompanhe.
- Aconteceu alguma coisa? – Benedito meu marido disse preocupado.
- Sim, venham!
- Vamos Bené.
Quando chegamos ao quarto da UTI eu não pude acreditar, a cama inclinada, Olivia com os olhos abertos.
- Mãe... Pai... – Com a voz totalmente fraca, como em sussurro.
Me aproximei da cama aos prantos.
Um milagre aconteceu.
POV MAITE
Mais uma maratona de cenas, me fechei no camarim para finalmente me trocar e ir para a casa.
Quando peguei o celular, várias chamadas da dona Helena, comecei a tremer, eu não queria no fundo saber.
Aquele momento me veio a conversa na capela.
Flash Back On
12 dias atrás
- Maite. – Dona Helena me chamou em sussurro, se sentando ao meu lado na capela.
- Oi.
- Rezando o terço? – Ela parecia espantada.
- Na verdade apenas segurando, eu tenho fé, mas, não uma religião, minha família não tem o costume.
- O que importa é a fé. – Ela me sorriu. – Eu me lembro de quando a Olivia começou a ver a novela no SBT como ela gostou da Lupita logo de cara... Como se identificava com ela em alguns aspectos, como estudar muito, ser esforçada. Eu sei que eu já devia ter me acostumado com falar, conversar com certas pessoas, mas, ainda me causa um choque, ver tudo o que minha filha construiu nesses últimos anos. Quando eu ia imaginar, que eu, eu iria estar falando com a Lupita. – Ela sorriu, eu o acompanhei.
- A Olivia é uma pessoa muito especial, a história dela desde o começo é tão incrível. Como ela entrou na competição... Como ela permaneceu, tudo, absolutamente tudo. Mas tudo é muito de merecimento dela, dona Helena a sua filha, é uma das pessoas mais incríveis, generosas que eu conheço.
- Eu me lembro do dia que ela me ligou falando que te conheceu, que você foi muito simpática, que se sentou com ela no camarim, e conversou com ela, como se você fosse normal. – Caímos na risada. – Não que você não seja, mas, para ela, que estava começando a carreira, quando ela me ligou ela estava eufórica.
- Eu me lembro dela, gordinha... Tímida, muito tímida, quando eu entrei no camarim, que as meninas vieram me cumprimentar, ela ficou para trás, daquele jeito que ela faz quando fica tímida? Com os braços para trás.
- Sei bem, desde pequena é assim.
- Eu ia só passar, estávamos em um festival no México, eu ia me apresentar antes delas, e sei lá... Me deu uma vontade de ficar e fiquei conversando com ela por um bom tempo, se não fosse a minha assessora, a Joy me chamar, tinha até me esquecido do show. – Sorri. – Ela fala muito bem, mas a escuta dela, é algo acolhedor, é bom estar perto dela... Mesmo quando ela mudou um pouco, quando a namorada dela faleceu, ela se fechou mais... Mesmo assim ela não deixava afetar as pessoas ao redor dela, lembro que quando a encontrei depois da partida da Elisa, ela estava frágil, mas ao mesmo tempo tentando erguer a cabeça, sorria cordialmente... Acho que a fama também colabora um pouco, quando aquela sensação de novidade passa, e a estabilidade vem.
- Ela amadureceu muito com a partida da Elisa, pela doença, por mais que a música seja algo que ela ame, naquela época a música para ela, era um obstáculo. Ela tinha que fazer shows, cumprir agenda e a única que ela queria era ir nas sessões de quimioterapia, cuidar. Se bem que a família da Elisa nunca iria deixar... Eu sei que não pode, mas eu tenho um ódio daquela família, a forma que eles machucaram a minha filha, mesmo quando eles mais precisavam de amor.
- E nunca mais a Olivia falou com eles?
- Não, eu como mãe, prefiro assim. Mas não influenciei... Acho que ela se machucou demais, ficou arrisca.
- Quem não ficaria.
- Sabe, ela não me contou sobre Roma... Quando eu fui ver, o clipe estava no Youtube. – Ela sorriu. – Gostei demais do clipe!
- Olivia tem um dom para a atuação, ela poderia fácil seguir a carreira de atriz se quiser.
- Ah quem sabe né? A vida dela é uma loucura, e agora com o anuncio do fim do grupo daqui alguns anos, me pergunto o que ela vai fazer para preencher o espaço.
- Seja lá o que ela for fazer, ela fará bem. – Sorri.
- Os papeis se inverteram? Você parece fã dela.
- E sou! Dela como artista, como pessoa. – Suspirei.
- Maite, posso te fazer uma pergunta? – Dona Helena disse me olhando nos olhos. – Eu fiz um sinal com a cabeça. – Você e a minha filha... Vocês já tiveram algo?
- A... – Falei sem jeito. – É uma longa história, mas, resumidamente, eu me apaixonei pela Olivia. E não aconteceu nada, não nos beijamos, eu até tentei beija-la, mas, ela não correspondeu e depois disso nunca mais nos falamos. Mas ela mudou muita coisa em mim, na minha vida em breve meses de aproximação, de se falar todo dia, todo tempo livre.
- Eu sabia que ela estava diferente, mas ela é muito reservada, ela não fala muito dos sentimentos dela. Ela é fujona! Ela sempre pergunta como estamos, quer nos ouvir, nos acolhe, e quando a gente pergunta se ela está bem, como anda a vida dela... Ela desconversa, fala só de trabalho.
- Não acho que ela sinta algo ou que sentiu algo por mim, mas eu não posso negar que eu ainda sinto. Que eu sinto saudades de falar com ela, dar risada... De falar de música e de falar de GTA.
- Ela já zerou aquele jogo umas quarenta vezes.
- Ela me disse que foi sessenta e três. – Rimos. – Desde que tudo aconteceu, eu resolvi colocar minhas inseguranças no bolso, porque no fundo, eu ainda sinto que a história não acabou... Que eu e ela precisamos conversar sobre a gente. Claramente. E quando ela sair daqui, e é claro, estiver recuperada para isso, eu vou conversar com ela, falar tudo! De como ela me quebrou no meio... Sem aviso. Não falo da noite em que eu tentei beija-la e ela disse não. Eu falo de tudo, de tudo o que eu entendia por relação amorosa. Talvez por viver fazendo novelas onde eu sempre sou a mocinha, com uma paixão avassaladora... No fundo, eu sempre achei que aquele suspiro alto que faz o peito levantar, aquele olhar idiota... As mãos suando, os olhos marejados, que tudo isso era encenação. Eu sempre vivi relacionamentos muito, egoístas, alguns da minha parte. O último da parte dele, e sempre muito físico, nada de romancinho. Aí veio a sua filha... Do mais absoluto nada, bagunçou. – Parei de falar. – Organizou, tudo dentro de mim. Mesmo ela estando ali, naquele aquário, ligada por aparelhos, inconsciente a dias... Mesmo assim, eu fico nervosa só de saber que eu vou vê-la. A mão soa, o suspiro alto vem.
- É como se você estivesse vivendo o seu primeiro amor.
- Sendo bem sincera, eu acho que estou. A luz dela, ofusca qualquer coisa... A luz dela me atrai de uma forma... Ela tem uma luz que eu não sei explicar.
- As vezes, por mais fé que eu tenha, eu sinto que a luz da minha menina está acabando sabe? – Dona Helena começou a chorar. – Ver minha filha tão linda, cheia de vida... Tão machucada, magrinha magrinha, tão branca, eu tenho tanto medo dela morrer.
- Calma. – Abracei-a apertado. – Ela não vai, ela não vai.
- Eu quero que ela viva, mas que viva ativamente, que ela possa estar consciente de tudo, não quero ela em estado vegetativo como em alguns casos aí. Minha filha cresceu subindo em arvore, dançando no campo... No palco correndo e brincando, ela não merece ficar parada.
- Dona Helena, olha para mim. – Respirei fundo enxuguei as minhas lágrimas. – Um dia, eu vou estar do lado da senhora, e nossos olhares vão se cruzar como agora. E a gente vai sorrir, porque ela vai estar vivendo, agindo, cantando. Confia.
Flash Back Off
Sete chamadas não atendidas, eu preferi não ligar de volta, eu sei, eu estou sendo covarde mas eu estou com medo... Medo de abrir o Instagram e ver alguma nota.
Resolvi ignorar, e ir para a casa.
No meio do caminho o celular toca, eu dirigindo, o carro pareado informa na tela... Helena. Atendi já no viva voz.
Parei o carro no acostamento... Muita chuva, já anoitecendo.
- Alô, Maite? – A voz dela não parecia ruim, já fiquei mais aliviada.
- Oi dona Helena, desculpa não ter ligado, eu tive um dia corrido, e não consegui atender a senhora, está tudo bem?
- Maite... Eu, preciso te falar uma coisa. Onde você está? – A voz dela me deu medo.
- Dentro do carro, parada no acostamento... Dona Helena pelo amor de Deus, o que está acontecendo? – Eu comecei a chorar.
- Ouve.
A ligação ficou muda.
- Mai. – Eu conheço essa voz, é a ela! É a Olivia!, desabei em choro, eu não consigo nem responde-la. – Eu estou bem, eu acordei. – Ela disse com a voz fraquinha, enquanto eu choro em plenos pulmões como uma criança na loja de brinquedo fazendo birra. – Se acalme, eu quero te agradecer por tudo, minha mãe meu pai me falou das suas visitas, que vocês são amigos agora.
- Meu Deus, eu nem acredito! Me Deus que saudade! - Comecei a gritar dentro do carro.
- Eu também senti sua falta... Os médicos pediram para eu evitar esforço e falar, mas, eu queria te dar um oi.
- Isso se cuida... Por favor, faz tudo o que os médicos pedirem, não abusa... Você sabe, eu falaria com você por horas, mas agora descansa, vamos ter tempo para conversar.
- Tá... Cuidado com a estrada. – Olivia sendo Olivia, sempre preocupada. Sorri.
- Prometo me cuidar.
- Tchau
- Tchau.
- Maite – Dona Helena assumiu a ligação eufórica. - Aguarda na linha estou saindo aqui do quarto, para falar melhor com você...Viu só, um milagre aconteceu!
- Eu falei! É só o começo de uma recuperação... Meu Deus, eu não vou pedir mais nada para Deus nos próximos vinte anos!
- Nem eu. – Ela deu um suspiro de alivio. – As pessoas não sabem ainda, como você foi a que mais ficou do nossa lado, cuidando da gente, eu quis falar para você e para a Marilia apenas, mas agora, vou soltar na imprensa.
- Desculpa não ter atendido antes, eu fiquei com medo de ser uma péssima notícia.
- Tudo bem, nesse tempo eu fiquei conversando com ela, fazendo carinho nela... Maite, eu nunca vou ter tempo, energia o suficiente para agradecer você e a Marilia por todo suporte.
- Não é para agradecer, eu só agi com o coração.
- Eu sei... Lembra da nossa conversa... Coloque a insegurança no bolso, e vá atrás de quem... De quem te organizou. – Sorri com a dona Helena dizendo aquilo.
- Pode deixar... Se eu tiver alguma chance, a mínima que seja, eu vou tentar.
- Ótimo... Agora se acalme, e volte para a casa em segurança.
- Tá bom.
20 dias depois
POV OLIVIA.
Depois de acordar, tanta coisa me foi dita... Eu consigo levantar meus braços, eu sinto minhas mãos, consigo mexer a parte superior do corpo, mas não tenho sentindo minha perna, meus pés.
Eu sei que é algo bobo perto de tudo o que aconteceu, mandaram me matar e eu nem sei quem foi? O que eu fiz.
Minha mãe me mostrou vídeo das pessoas fazendo novena pelo mundo todo por mim, fãs acampados de fora do hospital.
Coisa que geralmente só brasileiros fazem... Americanos fizeram por mim.
Vídeo das meninas fazendo show, se emocionando.
Graças a Deus, a minha maior preocupação que era as crianças na escola, eu pude respirar aliviada, todos bem.
Recebi alta, vim direto para o Brasil, feliz em poder continuar o tratamento na casa dos meus pais. Na minha terra, e com profissionais brasileiros, tão qualificado quanto os gringos... Essa mania das pessoas de achar que o tratamento gringo é mais eficaz do que aqui no Brasil.
Deitada no meu quarto pensando na vida, na pós vida... Ou sei lá como definir, admito que fico procurando pela Janaina, como se ela fosse aparecer como um comercial rápido. Que loucura, acho que se eu contar... Ninguém acredita, as vezes até eu mesma duvido.
- Aôooo potência!!! – Marilia abriu a porta do nada.
- Mana! – Tentei me levantar, e obviamente as pernas nem se mechem, tenho medo de nunca mais andar.
- Calma ai, deixa que eu me aproximo. – Ela se sentou de frente para mim e me abraçou apertado. – Puta que pariu você me prometa nunca mais dar uma de heroína, tu não tens peito de aço não sua arrombada. – Comecei a rir.
- Eu precisava salvar aquela garota, como você acha que eu ia viver sabendo que alguém morreu por minha causa?
- Ah eu faria o mesmo, mas caralho, da próxima vez seja egoísta! Eu quase morri do coração, pelo amor de Deus eu já falei, não é para nunca mais fazer isso. – Ela deu um beijo na minha testa.
- Está bem, veio sozinha?
- Eu vim com o Murilo.
- E cadê ele?
- Tá lá na sala, queria falar com você primeiro em particular. Me conta, como você está?
- Estou bem, na medida do possível, com dor nessa mão. – Mexi a mão esquerda.
- Mulher, você nasceu de novo, ainda bem que você está aqui eu não consigo imaginar o mundo sem minha melhor amiga, amiga não... Irmã.
- Eu amo você.
- Eu também. – Ela disse com os olhos marejados. – Falando em amor, e a Maite?
- Eu estava sem celular, eu perdi o meu naquele dia... Minha mãe comprou um novo, consegui trazer o numero antigo.
- Hum... E já mandou mensagem para ela?
- Não... A gente conversa, quando eu pego o celular da minha mãe, mas ainda não chamei ela por aqui.
- O que te falta para chamar?
- Sei lá, eu tenho medo de parecer carente demais, eu não sei ela me deixa nervosa. talvez ela só estava sendo solidária a minha família, não significa que ela ainda... Enfim.
- Entendi... Mas isso irá mudar hoje. – Ela se levantou. – Vou chamar o Murilo.
Ela saiu na mesma velocidade que entrou, eu estou parada olhando para a porta que ela deixou aberta (ela sabe o quanto eu tenho aflição de porta aberta) .
- Licença. - Ele entrou todo sem graça.
- Oi, tudo bem?
- Tudo prazer. – Estiquei a mão, ele apertou.
- Eu tô tentando fingir normalidade mas eu sou muito seu fã, você é uma inspiração para mim, como compositora, produtora, e cantora mesmo, você é foda.
- Poxa, obrigada! Você também compõe muito, Marilia me mostrou alguns vídeos seus cantando, canta muito bem!
- Ganhei o dia! – Ele abriu um sorrisão. – Não sou do patamar de vocês duas, mas um dia eu chego lá.
- Imagina.
- Para de babar ovo da minha irmã... Eu trouxe ele para te conhecer, porque eu tenho algo importante para te contar.
- Fala.
- Mana, tô grávida. – Marilia abriu um sorriso e eu, eu não consigo me expressar, de tamanha felicidade. – FALA ALGUMA COISA!
- GRÁVIDA?
- É mulher! Prenha... Buchuda! Barriguda, se bem que isso eu já era né... Mas é isso, tô grávida ele é o pai.
- Gravida?
- Mas gente, o tiro da cabeça causou um dano cerebral da porra... Mana, gra-vi-da... Eu tô grávida... O boi, montou na vaca, e agora a vaca vai ter bezerro.
- Marilia olha o exemplo que você deu! – Murilo disse rindo.
- Me deixa! E agora? Neurônio funcionou mana?
- Ai meu Deus que alegria! - Puxei-a para um abraço. – eu vou ser tia!
- Vai não. – ela disse seca, eu soltei ela do abraço.
- Vou sim, você me chama de irmã!
- Tia não... Vai ser dinda.
- Dinda? Madrinha?
- É, eu quero que o fulaninho que tá aqui, seja seu ou sua afilhada. Eu acho que eu tô grávida de menino, o Murilo acha que é menina.
- Sério. – Comecei a chorar. – Meu Deus.
- E ai aceita?
- Você é muito importante na vida da Marilia, eu vou escolher o padrinho, e ela te escolheu.
- É claro que eu aceito!
- Ótimo, aí Mú, essa criança só vai ganhar presente bom na vida, madrinha famosa internacional. – Ela disse rindo. – Sério, eu te amo muito e eu sei, que você vai ser aquela madrinha parceira, amiga demais da conta.
- Eu prometo tá sempre presente, eu vou dar um jeito eu vou ser a madrinha mais babona do mundo! Eu já sou no caso.
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Roma
FanfictionDizem que todos os caminhos Nos levam para o mesmo destino, nos levam a Roma. (ouça: Roma - Maite Perroni)