Capítulo 2

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Vou até a praia. Chamo, chamo e nenhum sinal. Lembro que Capitu estava junto da figueira e me dou conta de que nem tive tempo de fazer a inspeção na casa da árvore e ver se está tudo bem antes que as crianças se apossem do meu refúgio de infância.

Começo a andar pela praia, procurando pelas pegadas dela, mas não consigo identificar nenhuma. Escuto outro latido, vindo da casa vizinha à nossa. Paro para observar e a vejo sentada, ao lado de um menino. Ele está mexendo no celular e não me vê. Eu grito:

- Capitu! Aqui, agora! - Ela vem meio arrependida e o menino - na verdade não é bem um menino, é um rapaz - começa a rir - eu digo um tanto constrangida:

- Oi, desculpa ter deixado ela solta aqui, acho que alguém esqueceu o portão da casa aberto e ela escapou...

- Capitu? - ele interrompe incrédulo.

- É o nome dela - digo olhando para Capitu.

- Eu percebi - ele diz sem cerimônia - estou rindo porque achei o nome uma boa escolha...

- É mesmo?

- Não vejo nela os olhos de ressaca que Machado descreveu, mas acho que ela não é lá muito fiel, aposto que trocaria a sua casa pela minha facilmente - ele diz se levantando e caminhando na minha direção.

Que atrevido! Quando ele levantou eu tomei um susto - Não é um adolescente, mas deve ser uns dez anos mais novo que eu, ou seja, um menino! À medida que ele se aproxima eu reparo em seus cabelos castanhos compridos, amarrados num coque frouxo, no alto da cabeça, contrastando com o ruivo brilhante da barba bem aparada.

Ele usa uma camisa de mangas branca e uma bermuda azul escuro, e posso ver que não deixa a academia para depois, embora não pareça nem um pouco um lutador de MMA. A julgar pelo estereótipo, ele deveria ter um monte de tatuagens, mas não consigo ver nenhuma.

Ele caminha firme, deixando suas pegadas descalças na areia, quando atravessa a cerca da casa e coça a barba. Ao chegar mais perto, eu reparo que seus olhos têm um tom verde escuro, acastanhado no centro da íris, mais perto da pupila. Ele não é exatamente lindo, mas, de alguma forma, me esclareceu a fuga de Capitu.

Ciente de que eu deveria estar com uma expressão idiota no rosto, perdida nesses devaneios, respondi:

- Você está enganado, rapaz, Capitu, assim como sua homônima famosa, é muitas vezes tomada por algo que ela não é.

- Vejo que temos divergências interpretativas quanto a Dom Casmurro[1] - ele diz sorrindo com o canto da boca - Meu nome é Benjamin, mas pode me chamar de Ben - ele estende a mão direita - e você é...?

- Olívia, e pode me chamar de Olívia, mesmo - Digo alcançando sua mão e ele segura a minha até que eu olhe em seus olhos. Sinto uma tensão nascer do contato rápido de sua pele na minha.

Benjamin acaricia a cabeça de Capitu, entre nós.

- Vamos, Capitu! - Eu chamo e ela parece nem me ouvir, e segue toda serelepe caminhando ao nosso redor. Minha impaciência aumenta.

- Não se preocupe, Olívia mesmo, não vou raptar sua Capitu - Ele diz me olhando, enfatizando o "mesmo" e chama - Capitu! - Ela vai para perto dele e senta, olhando em minha direção para receber meu olhar de repreensão máxima.

- Não estou preocupada, só fiquei um pouco surpresa, Capitu não costuma ser assim... Tão acessível a pessoas desconhecidas - digo deixando escapar uma pontinha de descaso.

Ele percebe e pergunta, mudando de assunto:

- Vocês estão na casa agitada? - ele apontou com a cabeça.

Na chuva com BenjaminOnde histórias criam vida. Descubra agora