Epílogo
- A senhora consegue acreditar numa coisa dessas, vovó? – pergunto e ela sorri.
- Claro que sim, querida! Não é algo que eu tivesse previsto ou soubesse, mas vejo tanto sentido em tudo, agora que você me contou, que não tenho como ficar surpresa. Eu não sei se você se lembra de que antes de você se voluntariar para o transplante, você conversou comigo e eu lhe disse que muito provavelmente você não seria compatível com sua amiga Carol, de modo que você não deveria ficar frustrada se não desse certo.
- Eu me lembro, sim!
- Mesmo assim você sabia que deveria tentar. E eu concordei com você. Porque se dispor a fazer o bem é sempre, eu disse sempre, recompensador. E isso não significa ganhar o que você espera ganhar. Significa ganhar algo. E, naquela época, Olívia, você ganhou aquilo de que precisava. Você ganhou esperança. Em um momento tão doloroso, você ganhou inspiração para viver. Para fazer valer o fato de você estar aqui. Viva. Eu sei que você ficou triste quando ela se foi... Mas depois do transplante você sentiu que podia fazer coisas boas acontecerem. Que podia transformar dificuldade em esperança. Por causa disso eu serei sempre grata à Carol... E ao Benjamin que, mesmo sem saber, proporcionou isso a você, querida!
Fico um bom tempo abraçada a vovó, como se pudesse sentir a lucidez de suas palavras se materializando em seu corpo, até que a campainha tocou me trazendo de volta à realidade.
- A senhora está esperando alguém? – Pergunto surpresa.
- Sim, querida, é sua prima Joana, você pode abrir, por favor? – Ela fala com a naturalidade de sempre, como se ignorasse o fato de eu e Joana não sermos exatamente melhores amigas.
Fico por alguns segundos sem ação e ela me encara segurando o riso. Eu não posso acreditar que ela planejou tudo, recusando o meu convite para almoçarmos juntas na minha casa, para arranjar esse encontro com a Joana na sua casa.
- Oi Joana – digo sem me esforçar para parecer simpática quando abro a porta.
- Olívia? O que você está fazendo aqui? – ela pergunta perplexa olhando de mim para vovó.
- Não sabia que preciso de sua autorização para visitar vovó, Joana - digo voltando para o sofá enquanto ela fica plantada à porta.
- Ela só ficou surpresa de encontrá-la aqui, Lili – vovó diz para mim. E se dirigindo a Joana, completa:
- Entre Joana, nós três precisamos pôr algumas coisas em ordem.
Joana se senta na poltrona de frente para vovó e eu me sinto como uma criança de castigo neste sofá.
- Eu reuni vocês duas aqui para resolvermos, de uma vez por todas, qualquer mal entendido.
- Vovó, não é necessário resolver nada. Está tudo bem, não é Joana? – pergunto me esforçando para acabar com aquela situação.
- Claro que não, Olívia! Você ROUBOU o Benjamin de mim! – Joana fala me acusando e coloca tanta ênfase no verbo que eu quase chamo um advogado.
- Eu o quê? Eu roubei? Ele era seu? Você tem noção de como soa patética falando uma coisa dessas? - Não consigo acreditar que ela chegou a esse ponto!
- Você é que é patética! Você não consegue ver como você é velha para ele? – ela ergue os braços com as palmas para cima como se dissesse o que de mais óbvio se pode dizer.
- Meninas, eu chamei vocês duas aqui, minhas netas adultas e inteligentes para conversarem civilizadamente porque não há razão para disputa entre vocês – ela olha de mim para Joana por sobre as lentes dos óculos - Eu só pretendo que cada uma exercite um pouco de empatia e reflita.
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Na chuva com Benjamin
ChickLitQuando Olívia fez as malas para ir à praia comemorar os sessenta anos de casados de seus avós, ela pensou que teria alguns dias para refletir sobre os tropeços de seu relacionamento com seu namorado, tão lindo quanto viciado em trabalho, Téo. Acompa...