Capítulo 3

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Ao anoitecer, estamos eu, mamãe, papai, Davi, Roberta e meus sobrinhos Dora e Luís no terraço de frente para o mar, quando chegam minha prima Joana com seu irmão Rômulo, a esposa dele, Jade e os pequenos Joaquim e Inês.

Após todos se instalarem, as crianças se reúnem para brincar no gramado e papai abre um vinho tinto português da região do Douro, safra de 2009, um de seus preferidos, para degustarmos ao sabor do luar.

Joana se senta ao meu lado. Ela é quase dez anos mais nova do que eu. Além dela e de Rômulo - que são filhos de Tio Heitor, irmão de mamãe - eu e Davi somos primos de Isabel, Clara e Helena - filhas de Tio Otávio - e todos nós, à exceção de Joana, temos por volta de trinta anos de idade.

Não temos muita afinidade, eu e ela, então acabamos sem nos vermos fora dos encontros de família.

- Lili, cadê aquele seu namorado deus-grego, Téo? – ela pergunta expansiva, colocando os cabelos loiros ondulados de lado.

- Ele não pôde vir, tem compromissos de trabalho. – Digo mecanicamente, sem vontade de estender o tema Téo com ela.

- É uma pena, Lili, ele é simplesmente um gato, com todo o respeito. – Ela diz sorrindo, perfeitamente maquiada.

Eu esboço um sorriso e me dirijo a Rômulo, mudando de assunto:

- Rômulo, conheci um amigo seu hoje.

- É mesmo, quem? – ele pergunta curioso colocando Inês no carrinho de bebê.

- Benjamin, irmão do Daniel. Ele está na casa ao lado.

- Ah, o Ben está aí? O Daniel falou que ele estava de volta por esses dias, mas eu não sabia que ele já tinha chegado de Viena. Você sabe se o Daniel veio também? Estou querendo companhia para o kitesurf amanhã – ele fala e dá um gole no vinho.

- Não sei dizer, só conheci o Benjamin. De onde você conhece o Daniel? – pergunto curiosa.

- Ele cursou engenharia comigo, Lili. É um bom amigo, mas é fraco no kitesurf – ele diz debochando e continua - vou ligar para ver se ele também está aqui e convidá-los para se juntarem a nós. – Ele diz se levantando para tirar o telefone do bolso.

De repente me sinto desconfortável. Não imaginava que a conversa fosse conduzida ao convite para ver Benjamin na minha casa, então começo a planejar uma desculpa para sair do ambiente.

Joana se vira para mim e diz:

- Então você conheceu o Ben? Minha filha, eu sou louca por ele! O que é aquela junção de cabelos compridos castanhos com aquela barba ruiva?! Você não vai acreditar, Olívia, ele foi um doce comigo quando eu estive em Viena, no ano passado. Ele é maravilhoso, me mostrou a cidade inteira, extremamente atencioso, mas não rolou nada! - ela conta fazendo drama e continua - E não porque eu não tenha investido – ela ri e eu me sinto de certa forma deslocada ouvindo aquela conversa.

Fico sem saber o que dizer, e ela continua:

- Acho que ele devia estar com alguém por lá, mas agora ele está voltando em definitivo para o Brasil, não deve ter namorada nenhuma – ela diz exultante e completa – vou subir para retocar meu batom e dar um jeito nesse cabelo antes que o Ben apareça por aqui.

Não sei se fico esperando eles chegarem ou se invento qualquer desculpa para subir. O risco de encontrar Joana no andar de cima me repele. Resolvo, então, levar minha sobrinha Dora, que tem quatro anos, para ver a casa da árvore.

Chamo por ela e Roberta parece satisfeita em deixá-la aos meus cuidados, ainda que seja por alguns minutos. Sigo com Dora para a casa da árvore e pergunto se ela quer brincar no balanço. Ela concorda e então eu fico empurrando o balanço enquanto ela mexe as perninhas, satisfeita. Em pouco tempo esqueço o motivo da minha fuga e mergulho nas conversas da minha pequena tagarela.

Na chuva com BenjaminOnde histórias criam vida. Descubra agora