Ao anoitecer, estamos eu, mamãe, papai, Davi, Roberta e meus sobrinhos Dora e Luís no terraço de frente para o mar, quando chegam minha prima Joana com seu irmão Rômulo, a esposa dele, Jade e os pequenos Joaquim e Inês.
Após todos se instalarem, as crianças se reúnem para brincar no gramado e papai abre um vinho tinto português da região do Douro, safra de 2009, um de seus preferidos, para degustarmos ao sabor do luar.
Joana se senta ao meu lado. Ela é quase dez anos mais nova do que eu. Além dela e de Rômulo - que são filhos de Tio Heitor, irmão de mamãe - eu e Davi somos primos de Isabel, Clara e Helena - filhas de Tio Otávio - e todos nós, à exceção de Joana, temos por volta de trinta anos de idade.
Não temos muita afinidade, eu e ela, então acabamos sem nos vermos fora dos encontros de família.
- Lili, cadê aquele seu namorado deus-grego, Téo? – ela pergunta expansiva, colocando os cabelos loiros ondulados de lado.
- Ele não pôde vir, tem compromissos de trabalho. – Digo mecanicamente, sem vontade de estender o tema Téo com ela.
- É uma pena, Lili, ele é simplesmente um gato, com todo o respeito. – Ela diz sorrindo, perfeitamente maquiada.
Eu esboço um sorriso e me dirijo a Rômulo, mudando de assunto:
- Rômulo, conheci um amigo seu hoje.
- É mesmo, quem? – ele pergunta curioso colocando Inês no carrinho de bebê.
- Benjamin, irmão do Daniel. Ele está na casa ao lado.
- Ah, o Ben está aí? O Daniel falou que ele estava de volta por esses dias, mas eu não sabia que ele já tinha chegado de Viena. Você sabe se o Daniel veio também? Estou querendo companhia para o kitesurf amanhã – ele fala e dá um gole no vinho.
- Não sei dizer, só conheci o Benjamin. De onde você conhece o Daniel? – pergunto curiosa.
- Ele cursou engenharia comigo, Lili. É um bom amigo, mas é fraco no kitesurf – ele diz debochando e continua - vou ligar para ver se ele também está aqui e convidá-los para se juntarem a nós. – Ele diz se levantando para tirar o telefone do bolso.
De repente me sinto desconfortável. Não imaginava que a conversa fosse conduzida ao convite para ver Benjamin na minha casa, então começo a planejar uma desculpa para sair do ambiente.
Joana se vira para mim e diz:
- Então você conheceu o Ben? Minha filha, eu sou louca por ele! O que é aquela junção de cabelos compridos castanhos com aquela barba ruiva?! Você não vai acreditar, Olívia, ele foi um doce comigo quando eu estive em Viena, no ano passado. Ele é maravilhoso, me mostrou a cidade inteira, extremamente atencioso, mas não rolou nada! - ela conta fazendo drama e continua - E não porque eu não tenha investido – ela ri e eu me sinto de certa forma deslocada ouvindo aquela conversa.
Fico sem saber o que dizer, e ela continua:
- Acho que ele devia estar com alguém por lá, mas agora ele está voltando em definitivo para o Brasil, não deve ter namorada nenhuma – ela diz exultante e completa – vou subir para retocar meu batom e dar um jeito nesse cabelo antes que o Ben apareça por aqui.
Não sei se fico esperando eles chegarem ou se invento qualquer desculpa para subir. O risco de encontrar Joana no andar de cima me repele. Resolvo, então, levar minha sobrinha Dora, que tem quatro anos, para ver a casa da árvore.
Chamo por ela e Roberta parece satisfeita em deixá-la aos meus cuidados, ainda que seja por alguns minutos. Sigo com Dora para a casa da árvore e pergunto se ela quer brincar no balanço. Ela concorda e então eu fico empurrando o balanço enquanto ela mexe as perninhas, satisfeita. Em pouco tempo esqueço o motivo da minha fuga e mergulho nas conversas da minha pequena tagarela.
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Na chuva com Benjamin
Chick-LitQuando Olívia fez as malas para ir à praia comemorar os sessenta anos de casados de seus avós, ela pensou que teria alguns dias para refletir sobre os tropeços de seu relacionamento com seu namorado, tão lindo quanto viciado em trabalho, Téo. Acompa...