Biscoitos da sorte baratos talvez sejam mágicos

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Narrado por Kira Yukimura

— Quer parar de tentar quebrar meu carro? — Resmungo para o lobisomem enquanto saio do estacionamento da escola.

— Não estou tentando quebrar seu carro! — Retruca prendendo o cinto de segurança.

— Não, só a porta dele mesmo — aperta os lábios com força e um cheiro de sangue invade o carro, estava novamente tentando controlar a transformação através da dor. Isso está se tornando cada vez mais frequente.

"— Sua âncora não está funcionando?" — A pergunta é estúpida, afinal já sei a resposta, a âncora estava tão desancorada quanto ele, não serviria como calmante ou como uma âncora de qualquer modo.

— Minha filha está doente há quase duas semanas, ninguém sabe o porquê, Peter trouxe médicos de tudo que foi lugar, ela bebeu todos os remédios que eles deram e ainda assim não melhorou. A alcateia está se desdobrando tentando descobrir o que está errado. Meu futuro marido está a um passo de morrer de preocupação, nem comer ele está comendo. Não conseguimos contatar as três únicas pessoas que talvez saibam o que está acontecendo e ainda assim todos da alcateia nos mandam ir para aula alternadamente, porque se faltarmos demais podemos repetir de ano. Claro que minha âncora está funcionando, nem preciso dela! Minha está perfeita, tudo as mil maravilhas! — Debocha com um sorriso de escárnio.

Eu pedi por isso, a pergunta foi bem estúpida...

— A Olívia vai melhorar, vamos arranjar um jeito — a confiança em minha voz é praticamente inexistente, mas talvez ele acreditasse, eu precisava acreditar.

— Vocês estão falando isso a treze dias, já está começando a soar automático e a parecer uma frase de biscoito da sorte barato — resmunga afundando o corpo no banco do passageiro, como se pretendesse se fundir a ele.

— Não sabemos o que falar — admito com certa vergonha. Estamos consolando, enquanto precisamos de consolo.

"— Todo mundo está dando o seu melhor, estamos lendo e procurando sobre, Derek e Peter foram atrás de todas as alcateias em uma raio de 1000 km, na esperança de que alguma delas soubesse de algo. Meus pais estão lendo todos os livros da coleção particular da minha mãe. Lydia, Stiles e Mason estão lendo todos os livros possíveis sobre, Chris está cobrando favores a rodo, cada um está tentando ajudar de algum modo, mas todos estamos surtando. Eu sei que é diferente, nem imagino como é para vocês dois. Só que vocês ainda têm o Samuel e a Tara, não podem desmoronar. Repetimos essa frase tantas vezes para tentar dar algum conforto para vocês, impedir que desmoronem, que quebrem."

— Acho que repetem essa frase tantas vezes porque tentam perdidamente se agarrar nela, querem acreditar nela. Não tem nada a ver comigo e Theo. Por mais que sem querer eu acabe descontando em vocês, entendo como se sentem, estão tão perdidos quanto a gente, ela pode não ser filha de vocês, mas também é parte da família de vocês ou vai vir a ser de qualquer modo.

Seus olhos brilham, não um brilho bonito, um brilho triste, um brilho magoado, brilho de lágrimas. Silenciosamente amaldiçoo o que quer que esteja por trás disso, que está adoecendo Liv, que está tentando tirá-la de nós, amaldiçoo por deixarem Liam e Theo tão quebrados ao ponto de estarem segurando as lágrimas o tempo inteiro, amaldiçoo por nos fazer sentir tão impotentes, por nos colocar em situações onde sempre temos que nos arriscar para salvar o mundo que conhecemos, mas nos impede de salvar a pessoa que mais queremos salvar.

— Ela vai melhorar. Ela tem que melhorar, me recuso a acreditar que conhecemos ela apenas para vê-la morrer! — Aperto o volante com força, o universo não seria tão sacana assim, tão cruel, não merecemos isso!

Um pulo no passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora