A culpa é minha?

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A recepcionista não falou comigo.

Isso me incomoda quando subo as escadas, porque o elevador do prédio quebrou mais cedo. Particularmente, detesto fazer exercícios físicos, subir e descer escadas deixam minhas pernas doloridas, além do meu medo de altura me deixar tonta com tantos degraus até o trajeto do corredor. Fabíola trabalha como recepcionista do hospital onde Ricardo, meu marido, trabalha há mais de dez anos. Ela costuma me cumprimentar todas as vezes que venho visitar meu marido, mas hoje não, deixo o infortúnio de lado e sigo para a sala de Ricardo, quero lhe fazer uma surpresa já que ele não foi para casa ontem por ter ficado de plantão. Abro a porta do seu escritório depois de ter dado três batidas na mesma e me deparo com a pior cena da minha vida.

Meu marido aos beijos com uma garota com a idade da nossa filha. Ricardo se afasta dela quando percebe a minha presença e avança até mim, segurando forte em meu braço para me empurrar contra a parede e começar com a chuva de reclamações de sempre. A mulher sai da sala às pressas, mas consigo ver bem o seu rosto; cabelos loiros, olhos castanhos, sobrancelhas bem feitas, lábios bem desenhados, pele morena e bronzeada, e o que mais me incomoda; ela tem o corpo que eu não tenho. Nenhum pneuzinho. A nova amante do meu marido tem seios fartos e o traseiro dos sonhos de qualquer mulher, tudo no seu devido lugar graças a academia. Ela tem tudo aquilo que eu não tenho. Ela é tudo aquilo que eu não sou.

- Que merda você está fazendo aqui, Bianca? - Ricardo esbraveja, furioso. - Já disse que não quero suas visitas no meu trabalho. Isso não ficou claro?

Tenho medo.

Ricardo é o amor da minha vida, eu o amo tanto que nem sinto mais a dor das suas traições cada vez que o vejo com uma amante diferente. Ele tem um padrão de meninas novas e com corpo de modelo, ao contrário do que tem em casa. Não sou gorda e nem magra, sou cheinha, tenho meus pneuzinhos que quando ele está bêbado demais para fazer amor comigo, nem dá importância, eles só pesam quando Ricardo está sóbrio e diz como eu devo emagrecer porque estou parecendo com o madimbu, um personagem do seu anime preferido. Não gosto do que vejo no espelho, quando era nova e estava com tudo em cima, me sentia desejada pelo meu marido, mas agora, com trinta e cinco anos, estou acabada, não frequento mais academia e não vou mais ao salão de beleza porque Ricardo tem ciúmes. Ele prefere que eu me arrume em casa, que eu ligue a TV e coloque vídeos de dança ou exercícios para poder praticar sem precisar ir para a academia.

- Desculpe, eu só... eu só.. queria te trazer o almoço - mostro para ele a bolsa plástica com as vasilhas que lhe trouxe e ele a toma da minha mão. - Senti sua falta essa noite, não gosto de dormir sozinha.

- Estive ocupado - resmunga irritado. Ele abre a vasilha em cima da mesa e joga a tampa no chão quando checa o conteúdo do que lhe trouxe. - Você não serve pra nada! É uma imprestável! Você chama isso de almoço? Cadê o milho e a ervilha no arroz? Sabe que só como essa merda se for assim.

Ricardo se aproxima de mim a passos longos e furiosos, fecho os olhos esperando sua mão atingir o meu rosto como acontece toda vez que o irrito, mas nada acontece. Ricardo cola seu corpo ao meu, beija o meu pescoço e sinto sua ereção sob a calça, ele pega a minha mão e a leva até o seu membro endurecido, me faz acariciá-lo por cima da roupa. O desejo, porque faz tempo que não fazemos amor. Meses. Mas eu sei que não é por minha causa que ele está desse jeito.

- Isso aqui é como uma mulher de verdade me deixa - sussurra em meu ouvido. - Não é como você que eu preciso encher a cara pra poder comer, porque além de gorda, está velha.

Suas palavras me machucam. Sinto as lágrimas se acumularem no canto dos meus olhos. Eu deveria estar acostumada em ouvir isso. Ricardo tem razão, suas traições sempre tem fundamento e eu sou a maior culpada por não me cuidar e nem fazer por onde o manter interessado. Mas se eu tentar fazer academia de novo como tentei no ano passado com a minha melhor amiga Eduarda, Ricardo vai fazer um outro escândalo e me tirar de lá a força como já fez duas vezes antes.

EXtraconjugal (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora