A casa de Clara parece bem maior do lado de dentro. Vejo que ela divide a sala e a cozinha no mesmo cômodo, não tem muita coisa aqui além de um sofá de canto e a TV no painel de parede. A cozinha é simples também, uma mesa de mármore, armário completo, um desses fogões estilo americano e geladeira. Fico feliz quando vejo a cafeteira em cima do balcão do armário, mal posso esperar para beber alguma coisa quente depois de ter pego tanta chuva. Clara parece que lê meus pensamentos, pois se dirige a cafeteira para poder preparar café para nós duas. Quase lhe pergunto se ela sabe fazer café, porém, não quero soar grossa e nem que ela pense que a acho incapaz de fazer algo tão simples.
Ela tira a blusa e a pendura na cadeira, ruborizo quando ela caminha até mim e se curva para poder pegar o pequeno pote em cima da mesa. Clara está tão próxima que posso sentir o cheiro do seu perfume, bem suavemente, pois a chuva levou a maior parte dele embora. O fato de termos tomado um banho de chuva dificulta meu cérebro a identificar o aroma familiar que esforço-me para lembrar a qual marca pertence. Sei que conheço o seu perfume. Tenho quase certeza disso.
— O café — avisa, me mostrando o pote e se afastando de mim.
Forço um sorriso.
Clara tira a calça molhada com um pouco de dificuldade, a peça está realmente apertada em seu corpo, valoriza suas pernas torneadas e o seu traseiro. Não faço ideia de como ela conseguiu entrar na calça e muito menos como ela consegue sair dela, mas ela faz isso com facilidade. Procuro qualquer canto para onde olhar, não temos intimidade e fico com vergonha por ela tirar a roupa na minha frente. Diferente de mim, Clara não tem do que se envergonhar porque tem o corpo perfeito, é magra, não tem pneuzinhos e de lingerie consegue ser ainda mais bonita que usando roupa. Quero odiá-la por ser tão perfeita, por ser tudo aquilo que o meu marido não encontra em mim. É tão humilhante saber que o tipo de Ricardo é o oposto do que sou, me sinto gorda e feia perto de Clara.
E velha, muito velha.
— Se quiser tirar a roupa... — fala, apontando para mim. — Digo, posso te emprestar algo. Devo ter alguma peça que fique boa em você.
A minha primeira reação é lhe perguntar se ela acha mesmo que alguma das suas roupas vão caber em mim. A segunda é me perguntar se ela está tentando ser legal comigo ou se está tentando me ofender. Escolho a terceira:
— Estou bem, obrigada! — respondo, abraçando a mim mesma para evitar que ela continue olhando para o meu corpo. — Você sabe usar isso?
Aponto com o queixo para a cafeteira que ela sequer ligou. Clara nega com a cabeça e me entrega o pote de café nas mãos. Vou a cafeteira e coloco um pouco do pó de café dentro do filtro e também coloco água no compartimento indicado, observo que Clara presta muita atenção no que faço para poder fazer depois. Acho que ela nunca chegou a usar a cafeteira, possivelmente tenha uma empregada para fazer isso e todas as outras coisas dentro de casa. Ela me disse mais cedo que por conta do trabalho quase não lhe sobra tempo nenhum, ela só chega e dorme.
— Ricardo foi quem comprou essa máquina — diz ela, se perdendo pela sala até o seu quarto. Ela sai de lá vestindo uma camisa masculina branca que cai em seu corpo feito um vestido. — Ele é quem usa quando vem pra cá. Prefiro fazer meu café a moda antiga.
— Existe alguma coisa que você realmente saiba fazer?
Além de transar com o meu marido?
— Não — ela balança a cabeça. — Compro tudo o que preciso no mercado ou no delivery.
— Vive de lanches?
— Basicamente isso — responde sincera, como se não existisse nada de errado no que acabou de dizer. — Ah, e de miojo. Adoro miojo.
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EXtraconjugal (Romance lésbico)
RomanceBianca sabia que Clarissa Ferrari reunia todos os atributos que um homem desejava em uma mulher, ela só não poderia imaginar que o laço que uniria as duas não seria apenas o fato de dividirem o mesmo homem.