Todos nós ficamos um pouco loucos às vezes.

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O dia começou na delegacia depois de uma longa conversa que eu e Alicia tivemos a respeito do que tinha acontecido no dia anterior. Eu nunca tinha pensado em abrir uma denúncia contra Ricardo pelas agressões que sofria no casamento, mas depois dele ter agredido Alicia, as coisas mudaram. Tudo na minha vida mudou, até a forma como eu passei a enxergá-lo era diferente agora, Ricardo tinha se transformado em outro homem, na verdade, ele sempre foi esse homem, eu só me recusava a ver. Nunca teria imaginado que meu marido seria capaz de bater em nossa filha, nunca teria imaginado que Alicia olharia no fundo dos meus olhos e diria para eu pedir o divórcio.

— Mãe, não tô nem aí pro papai — ela disse, controlando o choro enquanto eu retocava a maquiagem em seu rosto para esconder o machucado. — Peça o divórcio, lute pelo que você tem direito. Vamos fazer uma denúncia, falar que ele bateu na gente. Sei que você nunca quis fazer isso, mas chega, mãe, você já suportou coisas demais.

Chorei ouvindo aquilo, minha filha só tinha dezoito anos e estava me pedindo para escolher ser feliz sem o seu pai, a figura que ela tanto admirava profissionalmente.

— Tudo bem... Vamos fazer isso.

Ela segurou a minha mão quando toquei o seu rosto e me encarou com os olhos cheios de lágrimas.

— Não por mim, por você — acrescentou, e deu um beijo em minha mão. — Quero que seja feliz, mãe. E o papai não te faz feliz há muito tempo.

Devemos ter passado mais de uma hora na delegacia, Clara não deixou que eu fosse bombardeada de perguntas a respeito de Ricardo, perguntas que não tinham nada a ver com as agressões que eu estava denunciando. Alicia tinha ido para dentro da viatura quando esbarrei com Alfredo no meio do caminho para fora da delegacia, ele parecia bem maior no uniforme policial. O cumprimentei com um abraço e dois beijos no rosto, era estranho ele estar cheirando tanto depois de ter chegado com uma mulher algemada. Alfredo pediu a um dos colegas para levar a mulher para dentro, quando ficamos a sós, ele enfiou as mãos dentro do bolso da calça e me encarou, os olhos negros fixos em meu rosto.

Alfredo Martins é um homem muito bonito, pele morena, olhos e cabelos negros, alto, forte e educado. A aparência de uma pessoa nunca foi o que me chamou a atenção, sempre me senti atraída pela personalidade. Foi pelo que me apaixonei em Ricardo quando o conheci, a personalidade, o jeito dele despertava a minha curiosidade, era tão cheio de confiança e ao mesmo tempo tão tímido que eu contava os minutos para estar com ele de novo e descobrir mais coisas ao seu respeito.

— Como é que você está? — pergunta ele, respirando fundo ao notar o bom trabalho com maquiagem que fiz em meu rosto para esconder o machucado. Ele estende a mão, toca o meu rosto com delicadeza, sabendo exatamente o local onde o machucado está em minha pele. — Vamos pegar aquele imbecil, Bianca.

Confirmo com a cabeça.

— Confio em vocês — eu digo. — Mas respondendo a sua pergunta, eu estou bem, a minha filha também — ele segue o meu olhar para a viatura estacionada em frente à delegacia e acena com a mão para Alicia. — Ainda não acredito que todos vocês são policiais. Agora faz sentido Clara ter tantos amigos homens.

Ele ri.

— E você também — confirmo com a cabeça. Ele tem razão, estou rodeada de amigos homens e policiais. — Fiquei sabendo que vai pedir o divórcio.

— É... eu vou.

— Sei que é muito cedo, mas quando se sentir preparada pra conhecer outros caras... Quero estar na lista.

— Que lista? — dou um sobressalto quando ouço a voz de Clara atrás de mim, Alfredo e eu nos entreolhamos e não falamos nada. — Ninguém vai me responder?

EXtraconjugal (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora