É a minha de fé, minha preferida.

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Quatro anos depois

— Ela vai matar a gente! — Clara me puxa para atravessamos a rua, fazendo um carro parar bruscamente e buzinar para nós duas.

— Desculpa aí, amigo!

Ela é incorrigível.

Minha melhor amiga acabou de casar com Frederico, estávamos aproveitando a festa e os salgados quando Clara simplesmente teve a brilhante ideia de irmos para a praia. Não quero nem pensar o que vai ser nós quando Eduarda se der conta de que fomos embora. Alicia com certeza vai inventar uma boa desculpa junto com Kaique, os dois adoram Clara demais para deixá-la entrar em apuros. Meu Deus. Bebi tanto champanhe que tropeço algumas vezes conforme andamos às pressas por conta dos semáforos abertos que encontramos pelo caminho. A luta é contra o tempo, atravessar a rua antes do próximo semáforo fechar.

Estamos no calçadão do Leblon, a imensidão do mar cintilando à nossa frente. Deve ter anos desde a última vez em que estive aqui, acho que foi no meu aniversário de dez anos de casamento, Ricardo estava furioso comigo porque eu não estava usando uma canga de praia, segundo ele eu queria chamar a atenção dos homens e por isso estava "mostrando tudo". Sinto meus olhos lacrimejem quando Clara me abraça por trás, apoiando o queixo em meu ombro para observarmos o mar juntas.

Penso na minha vida e em como tudo mudou. Concluí meus estudos, estou quase terminando a faculdade de gastronomia e em breve, abrirei o meu restaurante porque a minha noiva colocou na cabeça que quer me ajudar a realizar esse sonho. Fiquei noiva na virada de ano, estávamos vendo os fogos em Copacabana quando Clara olhou para mim do jeito mais profundo e cheio de amor que já me olhou em toda a sua vida e disse que me amava. O meu coração explodiu em mil pedacinhos e eu soube, naquele momento, que era o momento certo. Eu estava apaixonada e feliz, não tinha motivos para adiar o inevitável, Clara me esperaria uma vida se fosse possível, mas eu não queria que ela esperasse tanto tempo. Já estávamos morando juntas, a nossa rotina era de casadas, tudo o que eu precisei fazer foi esperar ela acordar um dia, com o cabelo todo desengrenhado e com remela nos olhos para poder lhe dizer "vamos casar". Não foi o nosso momento mais romântico, mas foi perfeito, foi nosso. Naquele dia ela me levou para jantar e fizemos amor pela casa toda, e no dia seguinte, ela ligou para Alicia para dar a notícia. Minha filha veio para o Rio de Janeiro assim que pôde, ia ficar na nossa casa, mas Clara ainda estava tão eufórica com o nosso noivado que despachou a minha filha para a sua casa, disse a Alicia podia ficar na casa dela toda vez que viesse já que não tinha colocado a casa a venda e nem para alugar depois de ter vindo morar comigo. Ela queria privacidade, queria fazer amor comigo e foi o que fizemos. Foi uma loucura, às vezes ela saía do trabalho só para voltar para casa e me jogar na cama, outras vezes vinha almoçar comigo, mas fazíamos amor na cozinha e ela precisava levar algum lanche ou fruta para comer e não voltar de barriga vazia ao serviço. No próximo mês, em maio, vamos tentar a inseminação artificial, Alicia está empolgada para ter uma irmãzinha e Eduarda está louca para corromper mais um dos meus filhos, mas vamos fazer isso. E vai dar certo. Clara tem se alimentado bem, seguido a dieta e feito todos os exames necessários para não termos nenhuma surpresa durante o caminho.

Tenho visitado Ricardo quase todos os meses no último ano, ele está bem diferente, mais magro e abatido que nunca. Clara não gosta quando o visito e nem quando lhe digo que vejo o quanto ele está disposto a mudar, ela não acredita na mudança, diz que um homem violento só deixa de ser violento quando bate as botas, mas Ricardo sofreu muito no primeiro ano que foi para a penitenciária, ele apanhava muito dos outros detentos e por isso estava sempre na enfermaria. Alicia é quem se recusa a vê-lo com frequência, nos últimos quatros anos ela só foi visitá-lo uma única vez e Clara foi com ela, porque eu estava na faculdade e não pude acompanhar. Minha filha prefere falar com o pai por cartas ou ligação, Ricardo entende e não a pressiona, ele acredita que com o tempo talvez ela possa perdoá-lo.

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