Eu deveria dar meia volta e ir embora, Ricardo me mataria se soubesse que estou em frente à casa da sua amante. Ontem, antes de eu deitar para dormir, entrei no Whatsapp para responder as mensagens da minha melhor amiga Eduarda e acabei vendo um dos status de Clarissa Ferrari, uma foto sua sentada no chão com o seu rottweiler, Bimbo. Nada demais. Só que Clara não estava com uma cara muito boa, parecia estar dias sem dormir e desconfiei que ela estivesse doente, acabei mandando uma mensagem para ela que demorou quase quinze minutos para me responder, comecei falando que tinha adorado a foto com Bimbo, conversamos sobre ele e o seu incrível talento para revirar a casa, e então, Clara me enviou um áudio. Sua voz estava tão baixa que precisei levar o celular ao ouvido para poder escutá-la direito, seu tom de voz estava diferente, mais rouco e grosso. Ela me disse que estava resfriada e que a culpa era toda de Bimbo, porque foi por causa dele que pegamos aquela chuva quando fomos buscá-lo no pet shop. Clara estava mesmo irritada com o seu cachorro. Ela também me disse que não vê Ricardo desde o dia em que a peguei de amassos com ele no consultório. Não me entusiasmei com isso porque sabia que ele lhe enviava mensagens no meio da noite, ele provavelmente só anda evitando Clara para não correr o risco de ficar resfriado também. Ricardo odeia ficar em casa e não poder trabalhar, diz que se sente preso e sendo sincera, também não gosto muito, ele só sabe ficar sentado no sofá vendo tv o dia inteiro e gritando o tempo todo enquanto assiste aos jogos de futebol.
No dia em que nos conhecemos, Clara tinha me dito que sua família moravam em outra cidade, que ela tinha vindo morar no Rio de Janeiro à trabalho. Ela simplesmente deixou tudo para trás e se arriscou em uma cidade que nunca tinha visitado, conseguiu uma vaga na UFRJ e cursou administração. Clara não me disse exatamente com o que trabalha, só me disse que seu trabalho ocupa muito do seu tempo e que a impossibilita de cuidar da casa e aprender a cozinhar, porque quando chega em casa, tudo o que ela procura é a cama.
Clara finalmente aparece no portão. Sua aparência está péssima, não acho que preciso lhe dizer isso, principalmente porque mesmo com o nariz vermelho, os olhos cansados e as olheiras abaixo deles, ela continua arrancando suspiros. O motoboy dos correios que passa por nós para entregar uma encomenda na casa vizinha, assovia para Clara, ela não dá importância, faz de conta que não vê e nem ouve.
— É muito arriscado você aparecer aqui — ela diz, abrindo o portão.
— Ricardo está no hospital, só chega em casa à noite.
— Não estou falando do seu marido — argumenta, levando a toalhinha ao nariz para poder espirrar. Clara se desculpa, mas volta a espirrar de novo. — Desculpe, acho melhor você ir embora. Além disso ser contagioso, estou começando a acreditar que pode ser mortal.
— Não precisa exagerar.
— É sério, estou morrendo — choraminga, no seu tom de voz mais dengoso. — Já posso até ver a luz branca.
Rio um pouco do drama que ela faz, porém, não estou certa se ela falou na brincadeira ou não quando ela começa a tossir. O catarro que carrega no peito me preocupa, e com a bagunça que a casa está, me pergunto como ela vem conseguindo sobreviver. Nenhuma das janelas foram abertas para arejar a casa, então começo a abrir cada uma delas para permitir que um pouco de ar fresco entre. Tem um cobertor no sofá junto com um travesseiro e um balde de pipoca em cima da mesa de centro. Clarissa não quer que eu a trate como criança, mas se comporta como uma.
No quintal encontro a máquina de lavar e jogo o cobertor dentro junto com algumas peças de roupas que encontrei penduradas na cadeira da cozinha. Coloco a quantidade ideal de sabão em pó e ligo a máquina. A única coisa que Clarissa parece ter feito esse tempo todo foi colocar água e comida para Bimbo.
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EXtraconjugal (Romance lésbico)
RomanceBianca sabia que Clarissa Ferrari reunia todos os atributos que um homem desejava em uma mulher, ela só não poderia imaginar que o laço que uniria as duas não seria apenas o fato de dividirem o mesmo homem.