Coisas que você me faz sentir.

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Estar sozinha é desesperador quando você se dá conta disso, quando a ficha cai e você percebe que, quando chegar em casa, não vai ter ninguém te esperando. É o tipo de coisa que acontece quando não era para acontecer. O único motivo para estar nesse jantar com Alfredo é para enganar o meu ex-marido, para fazê-lo acreditar que não há nada rolando entre mim e Clara, só que, estar em um encontro com outro homem, vê-lo me cobrir de elogios ao invés de críticas, me faz querer chorar. Acho que esse é o pior tipo de estrago que um relacionamento pode causar na sua vida; te fazer questionar tudo, te fazer duvidar de tudo.

Ele me acha mesmo bonita ou só está sendo simpático? Ele elogiou a minha roupa, mas estou tão gorda e feia. Ele gostou do meu cabelo solto, disse que fica melhor quando está ondulado nas pontas, mas só está falando isso para não ser o cara que não fala nada de positivo num encontro. Ele ri das minhas piadas e quando rio das dele, lembro de como queria contar para Ricardo e fico triste. Fico tão triste que bebo umas três taças de vinho nos primeiros quinze minutos do jantar.

De repente tenho a brilhante ideia de contar para Alfredo o motivo de eu estar em um jantar com ele, brincar com as pessoas não é do meu feitio e sinceridade e transparência são essenciais para mim. Talvez, no fundo, eu queira que seja um ponto positivo e que sirva para ele me dá um pé na bunda, só que não é. Alfredo leva a mão a boca para conter o riso depois de enfiar um pedaço de batata cozida à boca.

— Tô sendo usado, hein? — ele pega a sua taça de vinho e dá um gole, os olhos me analisando curiosamente. — Sua ideia para tirar Clara de um dos alvos do seu ex-marido é muito boa.

Respiro fundo. Por que ele está sorrindo e achando graça na sua situação sem nenhum tipo de raiva dominando os seus olhos?

— Ela achou péssima — confesso.

— Porque gosta de você — rebate, e me serve mais uma taça de vinho. Alfredo começa a falar alguma coisa sobre isso que não presto atenção porque, atrás dele, vejo Clara na porta do restaurante. Ela acena com a mão para mim. — ... agradeço por ter sido sincera comigo, e não se preocupe por ter me colocado como um dos alvos de Ricardo. Ele não me assusta.

Assinto com a cabeça, perdida totalmente da sua conversa. O encaro porque, mesmo estando absorta do assunto, não quero ser mal educada. Dou um sorrisinho, coço a nuca algumas vezes impaciente com o que está bem atrás dele, sorrindo e acenando para mim com a cara mais cínica do mundo. E levanto.

— Já volto, preciso ligar para minha filha — minto. Alfredo se levanta por educação, confirma com a cabeça e volta a se sentar à mesa. — Desculpe, eu já volto. Ela me disse mais cedo que não estava se sentindo bem, só quero me certificar de que está melhor.

— Tudo bem, Bianca. Não tenha pressa.

Caminho em direção para a saída do restaurante. Para Clara. Ela está radiante, sorrindo para mim como se eu tivesse cedido a uma das suas vontades sendo que fui praticamente obrigada a isso. Clara senta na última mesa da calçada, a que, para ser notada por Alfredo, só seria possível se ele fosse chamado por ela. Clara cruza as pernas, o vestido é curto, então tenho uma bela visão de suas pernas torneadas quando ela faz isso. Me excita o ar de confiança que ela exala, como se soubesse o quanto estou nervosa por ela estar aqui, como se soubesse exatamente como o meu corpo reage a ela.

Clara chama o garçom e pede mais uma garrafa de vinho e muito gelo. O garçom olha para ela, depois para mim e depois para ela de novo, querendo dizer alguma coisa.

— Estou com ela — ela diz a ele. — Relaxa, tá? Não vai acontecer nada comigo. Bianca não me deixaria dirigir bêbada.

O garçom assente e se retira depois que eu o tranquilizo dizendo que é verdade o que ela disse.

EXtraconjugal (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora