Segredo seu, segredo nosso, segredo de ninguém.

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Estou tendo uma crise de risos.

Não faço a menor ideia de quantas taças de vinho tomei, perdi as contas depois da terceira, que foi quando Clara me mostrou uma mensagem de um dos seus ficantes lhe implorando por atenção. Soa horrível o que estou pensando, mas é revigorante ver homens suplicando pelo amor de mulheres enquanto elas agem igual ou até pior que a maioria deles. Óbvio que o cara certinho, fofo e romântico não é quem deveria pagar o pato, porque dá uma pena tremenda perceber que, talvez por isso, eles seguem os passos dos demais e se tornem galinhas e cafajestes. Todo cara que presta encontra uma filha da puta pelo caminho e toda filha da puta já se humilhou por medo de perder o "presente de Deus" que estava mais para uma obra do Satanás.

Eu realmente acho que deveria cogitar parar de beber vinho pelos pensamentos que me vem em mente, mas Clara enche a minha taça mais uma vez quando a seco com um único gole.

— Ele definitivamente não faz o meu tipo — fala Clara, colocando uma mecha do seu cabelo loiro atrás da orelha. — É sério, Bianca!

— Mas ele pareceu muito interessado em você — comento, me referindo ao amigo com quem ela estava acompanhada quando nos vimos no restaurante. — Você viu a cara de Ricardo?

— Ele estava soltando fogo pelas ventas!

Rimos juntas.

Clara coloca sua taça de vinho em cima da mesa de centro e abana os próprios olhos para impedir que as lágrimas provocadas pelo riso a façam chorar. Secamos duas garrafas de vinho e comemos metade da pizza que ela pediu, Bimbo comeu alguns pedaços também e agora só repousa no chão abaixo dos pés da dona. Estou quase perguntando a Clara se o rottweiler não vai passar mal depois com a pizza que demos a ele, mas quando olho para a mulher à minha frente, ela está se inclinando sobre mim. Recuo para trás, o que só a faz se inclinar ainda mais, obrigo-me a abrir a boca, mas não consigo pronunciar uma só palavra, tudo o que faço é tentar inspirar mais oxigênio do que as minhas narinas conseguem e não está sendo o suficiente, não com Clara tão próxima a mim.

Seus olhos descem para os meus lábios e fixam ali. Prendo a minha respiração para que Clara não se dê conta de como meu corpo está reagindo, negando a mim mesma que o álcool fale mais alto que o meu caráter e dever de esposa, apesar de não saber o que é esse sentimento se apoderando no meu interior. É novo, mas estranhamente familiar. Clara sorri de um jeito bem inocente, meu corpo me trai quando o seu dedo indicador toca o meu lábio inferior e desliza facilmente até o canto da minha boca.

Estou quase deslizando para o outro lado, disposta a cair do sofá se for preciso, mas Clara pressiona o dedo indicador no canto da minha boca e me mostra o dedo sujo de ketchup. Congelo diante dela, uma parte do meu cérebro quer lhe agradecer por ter acabado com o papelão que eu estava fazendo com o rosto sujo, mas a outra parte paralisa. Clara leva o dedo sujo a boca e o chupa. Ela chupa o ketchup que limpou da minha boca. Tento assimilar o que ela acabou de fazer, é irreal na minha cabeça.

— Mais vinho? — pergunta ela, voltando para a sua posição no sofá; sentada sobre as próprias pernas. — Bianca? — Levo um pequeno susto quando a sua mão toca a minha perna. — Bianca? — insiste mais uma vez, tirando-me dos meus devaneios.

— Hã? Não — respondo, levantando do sofá. — Vou para casa, não quero correr o risco de Ricardo chegar antes de mim.

— Vou chamar um Uber pra te levar.

— Não, não — me apresso em dizer, pegando o meu guarda-chuva encostado na parede da sala. — Posso ir andando.

— Sozinha à essa hora da noite? Ficou maluca? — abro a boca para protestar, mas Clara já está com o celular na mão abrindo o aplicativo para solicitar o serviço. — Hummmm... está dizendo que chega daqui à dez minutos.

EXtraconjugal (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora