Marcando território.

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Olho para o meu próprio reflexo em frente ao espelho, passando a base em meu pescoço para esconder o hematoma de quando Ricardo me estrangulou ontem. Não brigamos mais depois daquilo, ele voltou para casa às três da manhã e fingi estar dormindo para não ter que conversar com ele. Ricardo tentou me procurar, senti o seu membro endurecido tocar o meu traseiro minutos depois, mas por sorte, ele não tentou mais nada quando o seu celular vibrou sobre a mesa de cabeceira. Era Clara, eu não vi, muito menos ouvi ele gravar algum áudio, mas eu sentia que era ela, só não sabia se deveria sentir raiva por Clara continuar procurando o meu marido depois de tudo o que fiz por ela ou se deveria ser grata a ela por, de alguma forma, acabar me salvando nos piores momentos. Às vezes parecia que Clara estava nos observando para saber o momento exato de impedir que algo pior acontecesse comigo.

Estremeço quando sinto os lábios de Ricardo tocarem meu pescoço, no local do hematoma. Pelo reflexo, o seu semblante arrependido me desmonta, toda magoa que estava sentindo dele desaparece instantaneamente quando noto as lágrimas se acumularem no canto dos seus olhos. Ele segura a minha cintura e me vira para encará-lo.

— Eu te amo, Bianca — solto o ar que prendia em meus pulmões, e começo a chorar. — Me desculpe, eu não queria... Não era pra isso ter acontecido.

— Shhh... — murmuro, puxando-o para um demorado beijo nos lábios. — Passou, amor. Passou.

Termino de esconder o hematoma do meu pescoço e volto para o rosto, está um pouco inchado e vermelho, então passo uma camada de corretivo, uma camada de base e por último, uma camada de pó translúcido, espalhando o pó sobre as camadas anteriores de maquiagem para fixá-las por mais tempo. Aprendi a esconder hematomas a pouco tempo através de vídeos na internet, os machucados ficam quase imperceptíveis e contorço um pouco a boca satisfeita comigo mesma por ser capaz de fazer algo tão bem feito.

Ajeito o salto no meu pé que está incomodando o meu dedo mindinho, me equilibrando numa perna só e Ricardo estende o braço para me servir de apoio.

— Pronta?

— Prontíssima.

No meio do caminho até o restaurante, me deu muita vontade de desistir do jantar com seus amigos de trabalho. Ricardo começou a criticar o meu vestido, dizendo o quanto está curto e decotado, o que não é verdade. Não uso roupas decotadas e nem curtas porque não gosto do meu corpo, me acho acima do peso, então quanto mais eu puder esconder, melhor para mim. Adorava usar vestidos quando era jovem, porque era magra e gostava de me vestir bem para agradar meu marido, mas quando Ricardo se mostrou ser mais ciumento do que de costume, dei uma repaginada no meu guarda-roupa. Ele tinha razão, eu não precisava me vestir para ninguém além dele e se eu quisesse o agradar, não precisava vestir absolutamente nada.

Sorrio com a lembrança. Tínhamos uma vida sexual ativa, porque éramos um casal apaixonado e muito unido. Hoje, parece que o meu marido só me tolera, acho que Clara tem razão, Ricardo não me deixa porque não é conveniente para ele. Ele precisa zelar pela imagem do maravilhoso médico que além de possuir um incrível talento, consegue ser maravilhoso como pai e marido.

— Você não concorda, Bianca? — Dr. Lucas Carvalho me pergunta, estendendo a taça para mais um brinde. — Deveríamos sair para jantar mais vezes.

Ele dá um rápido beijo no rosto da esposa, meu marido faz o mesmo só que tomando cuidado para não me machucar. Seu beijo queima sob as camadas de maquiagem que usei para esconder o hematoma da bofetada que me deu, mas estranhamente consigo encontrar conforto no seu gesto de carinho.

— Sempre digo isso ao meu marido, mas você conhece Ricardo, ele vive para o trabalho.

Emma Carvalho, esposa do Dr. Lucas, bate levemente a sua taça contra a minha num brinde a sororidade.

EXtraconjugal (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora