Segunda

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Tocando: Already Gone – Sleeping At Last

Inicialmente pensei que passaria num piscar de olhos. Era apenas carência, achava eu. Apenas uma vontade súbita de me arriscar. Logo eu, uma mulher na meia-idade, querendo me aventurar e torcendo para que uma jovem notasse que o que eu sentia por ela não era estritamente profissional. Torcendo para que ela olhasse em meus olhos como sempre fazia e lesse meus sentimentos sem que eu precisasse dizer.

Mas então o tempo passou e nada aconteceu. Continuei agindo naturalmente, como uma chefe que gostaria que o trabalho fosse bem feito e que as engrenagens da empresa funcionassem.

Minha vida profissional sempre fora prioridade depois das minhas filhas. Elas eram as únicas que detinham do meu amor e devoção e eu sequer pensava que isso pudesse mudar. Não após tantos relacionamentos frustrados. Então, agora, me encontro torcendo todos os dias para que você volte e constate que foi apenas um erro. Que você não devia ter ido. Que devia ter lutado por nós. Me pegado pelos ombros e me chacoalhado até me fazer perceber que a palavra que eu procurava era "amor".

Mas você não o fez e cá estou eu, presa no escritório com apenas uma luminária iluminando a mesa enquanto escrevo rapidamente sobre o papel com receio de que não consiga continuar caso pare para respirar ou pensar. O uísque nunca pareceu tão forte. Na realidade, depois de provar o doce do seu beijo, tudo passou a ser azedo. O que eu gostava, já não faz mais sentido. Minhas crenças caíram por terra. Meus muros foram derrubados e minha fortaleza fora invadida. Não consigo imaginar minha vida sem seu sorriso estúpido ou seu olhar questionador, mas ainda vou vivendo e torcendo. Torcendo para que eu te encontre nos rostos vermelhos pelo frio ou nos ombros que se chocam nas ruas movimentadas de New York. Torcendo para que o sinal do elevador indique sua chegada. Para que as mensagens do celular sejam suas. Que a voz depois do meu "alô" seja a sua pedindo para voltar.

Talvez você tenha receio. Eu entendo. Sei que pode ser assustador me ver tão vulnerável. Mas, Andrea, você sequer pode imaginar o quão feliz eu fui sendo vulnerável em seus braços.

Todos os dias seu calor invade meu corpo como se estivesse aqui comigo. Consigo sentir seu toque secando meu rosto úmido pelas lágrimas. Quando fecho os olhos, consigo ouvir o som do seu sorriso sendo desenhado. Consigo enxergar perfeitamente bem seus olhos piscando e me analisando; encarando meus lábios e cogitando a possibilidade de me beijar. Por que não o fez antes, Andrea? Por que não me silenciou quando eu ditava ordens sem parar só para conseguir estar perto e te olhar?

Medo?

Talvez seja.

Mas de que?

Eu preciso saber.


Para sempre sua,

Miranda. 

Please Notice | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora