Música do capítulo: She - Elvis Costello
Alguns meses atrás...
Gratidão é um sentimento desconhecido por muitos que passou a ser recorrente em Miranda desde que ela e Andrea finalmente se acertaram. À medida que os dias seguiam, elas percebiam que seria uma surpresa melhor que a outra. Obviamente não era um conto de fadas. Nada é perfeito quando se tem que enfrentar a realidade, mas elas faziam com que funcionasse. Estavam dispostas a conversar e resolver qualquer infortúnio com amor, companheirismo e respeito.
Agora, com Andrea caminhando sobre o tapete branco com um vestido de noiva desenhado pela editora, um buquê de tulipas também brancas e um belíssimo sorriso no rosto, era um desses momentos em que ela sentia gratidão.
Não foi uma ideia ruim se casar no rooftop do Elias Clarke. Inicialmente, Miranda achou péssimo, mas Andrea a convenceu quando explicou o quanto aquele lugar tinha um significado especial, uma vista incrível do pôr do sol de New York e contratou um cerimonialista disposto a fazer todos os seus planos funcionarem.
Como dito, havia um grande tapete branco levando até um altar de madeira improvisado, mas muito bem feito. Em ambos os lados, alguns vasos de flores que traziam certo aconchego, bem como cadeiras estavam dispostas de forma a receber apenas os mais próximos como: os pais de Andrea, Nigel (que não conseguia conter a felicidade por finalmente vê-las juntas e, por todo o apoio, era o padrinho do casal), Emily (que tentava manter a compostura, mas não conseguia disfarçar a emoção), Sandra (que não acreditava em casamentos, mas não aguentava mais esperar pelo dia em que aquele, em especial, acontecesse — e era madrinha junto a Nigel), Cate (que se tornou uma grande amiga querida), as gêmeas e Diana.
Atrás do altar, havia um arco também de madeira e algumas folhagens que formava um belo portal para o Sol que se punha e trazia um tom alaranjado para o ambiente. Os prédios de New York eram o grande toque especial. Segundo Andrea, ela gostava de pensar que aqueles prédios simbolizavam tantas pessoas, tantas histórias, dores e alegrias, e que, apesar de tantas possibilidades, elas se encontraram e se corresponderam.
Miranda usava um vestido branco que se acomodava perfeitamente em seu corpo e tinha os cabelos brancos penteados de forma que a franja caía sobre o rosto, mas não a ponto de cobrir seus olhos. Ela tinha uma visão incrível de Andrea em sua frente, com os ombros e os braços cobertos por um tule florido, delicado e único. A mais nova tinha um sorriso nos lábios que podia cegar qualquer um que observasse por muito tempo, mas Miranda, com certeza, estava disposta a se cegar, pois mal piscava. Elas não queriam perder nenhum detalhe daquele dia e todo o ambiente ao seu redor passou a não existir.
Diana também vestia um vestido branco e trouxe as alianças de mãos dadas com as irmãs. Elas não conseguiam esconder a felicidade em ver suas mães se casando, finalmente tornando oficial o que contemplavam por tanto tempo.
— Bom, sim... Tenho algumas palavras. — Miranda riu um pouco nervosa depois de beijar Andrea conforme o juiz de paz autorizou e respirou fundo. Ela pegou o pequeno papel que Cassidy lhe entregou e sorriu ternamente, se preparando para falar. Andrea a observava atenta e curiosamente, pois não imaginou que Miranda fosse dizer alguma coisa diante de todos. Apesar de poucas pessoas, ela não costumava demonstrar tanto sentimentalismo em público. — Andrea... — Ela mostrou um sorriso maior. Os lábios estavam trêmulos, bem como sua voz. Uma de suas mãos segurava a da esposa firmemente e alisava o anel já perfeitamente encaixado em seu anelar. — Eu escrevi uma carta por semana durante todos os anos que estivemos separadas. Elas estão guardadas em segurança, especialmente depois que duas cabeças ruivas e pensantes fizeram a grande proeza de endereçá-las a você. — Ela falou aquelas palavras direcionando o olhar falsamente furioso às gêmeas, mas sorrindo e arrancando risadas de todos, especialmente das filhas. — Não é que eu não queira que você não saiba o conteúdo delas, mas porque faço questão de dizer o quanto te amo olhando em seus olhos de agora em diante. — Ela suspirou, abaixando o olhar por um segundo antes de voltar a falar. Andrea secava as lágrimas com um lenço que recebeu de Nigel e tentava manter a postura.
— E, embora aqueles textos dramáticos e sentimentos sejam completamente verdadeiros... — Ela rolou os olhos, como se desprezasse sua fraqueza ao escrever tamanho sentimentalismo. — ...eles não foram capazes de expressar realmente minha admiração e meu amor por você. — Andrea deu um passo à frente e depositou um beijo suave no rosto de Miranda, sabendo que ela não havia terminado, mas não podendo adiar o contato. A editora, agora aposentada, retribuiu o gesto e só então voltou a falar depois de colocar o papel sobre a pequena mesa do juiz de paz. Nada escrito ali seria tão sincero quanto suas próprias palavras improvisadas: — É um prazer poder fazer parte da sua vida, Andrea. Poder acordar e me deitar todos os dias te admirando. Poder presenciar sua devoção às nossas filhas. — Miranda riu e balançou a cabeça negativamente, como se não acreditasse que aquilo era real. — Quão sortuda eu sou por amar alguém que ama minhas filhas?! — Então ela suspirou e olhou para as meninas que choravam. Andrea soluçou e tombou a cabeça para trás tentando se controlar, encarando o céu que as cobriam. Era impossível não chorar ouvindo Miranda se declarar daquela forma.
Até mesmo Diana, pequena como só ela, estava emocionada sentada no colo de Caroline e com o rosto encostado no peitoral da irmã. As perninhas pequenas balançando no ar, como se aquele pequeno gesto fosse o remédio para controlar seu coraçãozinho incapaz de entender que aquele sentimento era o mesmo que sua mãe sentia: gratidão.
— Sou grata por ter alguém ao meu lado que está disposta a cuidar das minhas filhas. E ainda mais por me dar a chance de cuidar da sua. — Miranda não percebeu, mas uma lágrima corria por seu rosto. Ela só se deu conta quando Andrea ergueu o braço e limpou sua bochecha com o polegar, acariciando o rosto da esposa com carinho. Miranda lhe beijou a palma da mão e fechou os olhos sentindo o toque. Só após se recompor, finalizou: — Eu amo você, Andreah. — Sua voz era um sussurro, mas todos puderam ouvir. — E amo nossa família.
Quando percebeu que ela havia acabado, Andrea se apressou e passou os braços em seu pescoço, a abraçando firmemente. Uma de suas mãos se emaranhou nos fios brancos e os acariciou enquanto ela soluçava um "eu te amo" no ouvido de Miranda. Ao se afastar, ela segurou o rosto da mais velha com ambas as mãos e a beijou outra vez, porém com mais ternura. Era incrível como elas sentiam o amor crescer a cada segundo e preencher todo o espaço em torno delas.
Enquanto se beijavam, elas sentiram alguém se aproximar e Miranda percebeu dois braços pequenos em torno de seu corpo. Ela riu ao se afastar de Andrea e ver que era Diana, então se abaixou para pegá-la. A menina passou ambos os braços em seu pescoço e a abraçou, chorando silenciosamente. Miranda pressionou os lábios, tentando controlar as emoções, mas não conseguiu evitar as lágrimas quando ouviu Diana dizer um "eu te amo" em seu ouvido, bem como Andrea fez minutos antes. Nesse momento, as gêmeas se aproximaram e puxaram Andrea para perto, formando um abraço em família e repleto de cuidado.
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Please Notice | Em revisão
FanficNaquela noite em Paris, Andrea subitamente encontrou coragem para declarar-se para Miranda. Não foram necessárias palavras, pois aquele beijo dizia tudo. Quando Miranda finalmente falou, depois de alguns segundos imóvel, Andrea percebeu que fora um...