Por isso eu quero você

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Alerta: O relacionamento entre Amy e Andrea é tóxico e abusivo e algumas cenas podem ser gatilhos para algumas pessoas. Caso seja sensível a esse conteúdo, favor não prosseguir.

«∞»

Miranda tentou se mostrar inabalável como sempre. Vi os mesmos muros que derrubei meses atrás sendo reerguidos quando ela disparou todas aquelas palavras em minha direção e se trancou em seu escritório. O que ela não sabia era que havia sido doloroso para ser dito assim como para ser ouvido.

Todos os anos que passei ao seu lado, como sua assistente, serviram para me mostrar que viver com ela era o mesmo que tornar-se um alvo e caminhar num campo minado. Apesar de amá-la, eu não estava pronta nem fui preparada para aturar aquela situação. Miranda, infelizmente, era instável. Ainda que tenhamos demonstrado nossos sentimentos tardiamente no que se diz respeito ao início da nossa relação, nossos olhares sempre se cruzavam pelos corredores da Runway ou em algum evento. Sabíamos o que a outra queria apenas pelo encontro do azul com o marrom. Vez ou outra eu conseguia tirar sorrisos dela que não eram dirigidos a mais ninguém. Mas ela também deixava claro, mesmo que sucintamente, que nossos mundos eram diferentes. Por isso foi tão assombroso quando encontrei coragem para beijá-la e esclarecer de uma vez por todas que ao menos os meus sinais eram reais e o que eu sentia era puro amor.

Contudo, não foi o suficiente.

E eu era grata à Amy por me mostrar toda a verdade antes que eu me afundasse ainda mais na tristeza de precisar viver dia após dia longe de Miranda.

Ela sabia dos meus sentimentos e ainda permaneceu ao meu lado me dando forças e abrindo meus olhos para a realidade. Ela me conhecia. Sabia do que eu precisava e do quanto eu me abalava e me entregava com facilidade. Antes de Nate, nos relacionamos por quase dois anos e se não fosse sua mudança para Paris, talvez nunca teríamos nos separado. Perdê-la foi tão doloroso quanto perder Miranda, mas passou. Ou me acostumei. Então eu sabia que sobreviveria novamente ainda que pensasse que era impossível em alguns momentos.

Os dias na companhia de Amy em Paris foram ótimos. Voltei a sorrir despretensiosamente. Passei a enxergar melhor os detalhes das pessoas e do mundo ao meu redor. Caminhávamos quase sempre pelas ruas da cidade e voltei a fotografar, um dos meus hobbies favoritos, e a escrever regularmente. Mas, no fim do dia, todo aquele esforço para seguir em frente parecia em vão.

Quando fechava a porta do apartamento atrás de mim, retirava os sapatos e me jogava no sofá, o peso dos meus ombros retornava. Sob o breu do meu quarto, a insônia me invadia e o relógio parecia congelar. O teto ganhou formas e se tornou tão interessante quanto as construções e obras de arte expostas em museus de Paris. Os sons da cidade, ainda que mínimos, eram tão atrativos quanto uma música que gostava muito. E o nascer do Sol passou a ser contemplado com maior frequência.

Quando a tela do meu celular acendia ou o mesmo tocava indicando uma ligação ou uma mensagem, tudo que eu queria era que fosse Miranda me pedindo para voltar, pedindo desculpas ou explicando que tudo foi um mal-entendido, mas isso não acontecia e a frustração só aumentava.

Ao encontrar Amy coincidentemente numa padaria perto do meu apartamento, pensei que talvez fosse um sinal para me reerguer. Nosso relacionamento aos poucos foi reconstruído. Ela sempre foi minha fonte de energia e era ótimo tê-la em meus dias.

Logo no início, ela soube de Miranda. Era evidente que algo ou alguém tinha me magoado o suficiente para abalar minhas estruturas e ofuscar minha alegria, então decidi que desabafar era minha melhor saída. Pensei que se eu relatasse toda a nossa história em voz alta, aquele sentimento ruim me abandonaria. O que não aconteceu. Ao menos não imediatamente.

Please Notice | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora