Viver

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— Por favor, mamãe. Está nevando e tem chocolate quente. É só ligar a música e se mexer.

Diana insistia com Andrea para que ligassem a música e fossem dançar na sala perto da lareira. A nevasca lá fora tornava-se cada vez mais forte e o fogo precisou do reforço do aquecedor para manter a temperatura da casa aconchegante.

— Filha, a Miranda está lendo na sala, não podemos atrapalhar. Você sabe o quanto ela ama ler.

— Mas ela ama ainda mais dançar com você.

Andrea riu enquanto era puxada pela filha em direção à sala. Três canecas grandes de chocolate quente, mas agora quase vazias, pairavam sobre a mesa de centro e Miranda mantinha os óculos de leitura na ponta do nariz concentrada em algum romance shakespeariano. Uma manta fofa cobria suas pernas cruzadas e desprotegidas pela camisola cara de cetim. Seu cabelo não estava tão arrumado como de costume. Pelo contrário, estavam bagunçados da forma que Andrea amava.

Quando Diana finalmente ligou a música como queria, Miranda ergueu os olhos com a testa franzida, abaixando o livro sobre as pernas, e as encarou ao ouvir o som do piano invadir a sala. Andrea deu de ombros e comprimiu os lábios, sem graça por atrapalhá-la, mas satisfeita com a ideia da filha.


Tocando: Dog Days Are Over - Florence + The Machine

— Desculpa! — Ela murmurou antes de ser puxada por Diana que segurou suas duas mãos e começou a se mexer no ritmo da batida.

Miranda abandonou o livro sobre a mesinha ao lado do sofá e mostrou seu melhor sorriso. Diana ria. Andrea também. Aqueles sons combinados enchiam seu coração de amor e aquecia todo o seu corpo. Era gratificante vê-las saudáveis e aproveitando a companhia uma da outra.

A editora agora segurava os óculos com a ponta dos dedos e apoiava uma das alças entre os lábios com a cabeça levemente tombada para o lado enquanto acompanhava os movimentos atrapalhados diante de si.

— Vem, mamãe. Vamos dançar! — Miranda viu Diana correr em sua direção com os braços estendidos. 

— Eu não sei dançar tão bem, você sabe disso.

— Que nada! — Diana franziu o cenho e balançou a cabeça negativamente. — Mamãe me contou que a sua dança foi um dos motivos para ela ter se apaixonado.

O queixo de Andrea caiu com a declaração da filha e ela colocou as mãos nos bolsos da calça de moletom cinza enquanto desviava o olhar. Miranda ergueu uma das sobrancelhas e mostrou um sorriso maldoso enquanto era puxada pela filha com seus dedos cruzados aos dela.

— Verdade?! Bom saber disso!

— Bom... É que a Diana fica perguntando o tempo todo sobre nós e nossas histórias e eu... Eu acabei confessando que... que te observei dançar algumas vezes na revista. Naquelas noites em que você bebia e ficava até tarde no escritório.

— Então quer dizer que você me observava sem eu saber, Andreah? — Miranda passou um dos braços na cintura da esposa, puxando-a para mais perto enquanto Diana observava a cena rindo. Ela sabia o que viria a seguir. — E nunca me contou?

A voz de Miranda era firme, quase como um sermão, mas Andrea também sabia que aquele tom podia significar outra coisa.

— E-eu não achei que precisasse. — Andrea gaguejou e Diana continuou rindo.

— Ela foi malvada em não te contar, mamãe.

— Ela realmente foi, não foi? — Miranda questionou olhando rapidamente para a filha sem soltar a esposa. — Você acha que ela merece uma lição?

Please Notice | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora