Epílogo

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Era uma manhã ensolarada. A fazenda estava silenciosa depois que as filhas foram passear no vilarejo. Elas insistiram para que Andrea fosse também, mas ela não se incomodava de forma alguma em ficar sozinha. Era em momentos como aquele que ela se lembrava de Miranda e voltava a escrever.

Miranda partiu num dia como aquele, há alguns meses, da forma como ela sempre quis. Sem chuva, nuvens escuras tapando o sol ou um clima triste. Pelo contrário: as lavandas atraíam as abelhas que, com certeza, carregavam mais segredos de Diana e Miranda do que qualquer outra pessoa. Os pássaros cantavam animados e voavam de um lado para o outro como se fizessem uma belíssima apresentação. As árvores com folhas verdes balançavam com o vento e traziam consigo uma brisa leve que abraçava as quatro e dizia que tudo ficaria bem.

Ela não sofreu, não passou por nenhum tipo de luta e morreu enquanto dormia. Para Andrea, foi um choque e ela sentiu todo o seu corpo vacilar e perder as forças, mas ambas sabiam lidar bem com o ciclo natural da vida. Quando suas filhas chegaram, com o rosto inchado e soluçando, ela finalmente se sentiu em casa depois de perder o amor da sua vida. Mas Miranda ainda estava ali, em todos os pequenos detalhes, em cada canto e o som de sua risada ainda podia ser ouvido.

Agora, enquanto voltava de um passeio a cavalo pelo bosque da propriedade, Andrea viu a ponta de um papel branco sair da caixa de correios. Suas sobrancelhas se uniram em confusão, pois não havia entrega de correspondência aos finais de semana, então ela se aproximou e o pegou com curiosidade.

Do lado de fora, seu nome estava escrito com uma caligrafia que ela conhecia bem. Seus olhos se encheram de lágrimas no mesmo instante e ela soluçou levando uma das mãos à boca. Era uma carta de Miranda.

Rapidamente ela foi para a varanda e se sentou. Suas mãos trêmulas mal conseguiam segurá-lo e ela precisou de um esforço sobrehumano para abrí-lo. Ali estava novamente a caligrafia que ela tanto amava. Andrea acariciou as palavras com a ponta dos dedos e respirou fundo, tombando a cabeça para trás e fechando os olhos com força como se procurasse uma forma de acalmar seu coração e desembaçar sua visão.


Querida Andrea,

Estou escrevendo essa carta enquanto te observo dormir. Esse é um costume que não consegui abandonar mesmo que você insista. Se você está lendo essa carta, é porque não estou mais no mundo que conhecemos. Essa será a última, mas tão importante quanto as outras.

Todos os dias durante os anos que estivemos casadas, te escrevi um bilhete. Tive poucos arrependimentos em minha vida e não saber me expressar no dia em que finalmente tive você em meus braços foi o maior deles e o único do qual não consegui me perdoar. Eles estão naquela caixa que guardo a sete chaves em nosso quarto junto às outras cartas que nunca lhe entreguei. A chave está na última gaveta da mesa do escritório. Não se sinta pressionada a lê-los, mas peço para que o faça caso se sinta sozinha, pois assim se lembrará de que nunca estará desamparada, pois apesar de não me ver ou sentir, ainda estarei com você, em seu coração, pelo resto de sua vida se assim o desejar e permitir.

Você, Andrea, foi o meu maior presente. Foi minha mais doce surpresa e nunca minha decepção. Eu te amei com todas as minhas energias e, mesmo que não saibamos para onde vamos depois que a vida se esvai, ainda te amarei pela eternidade.

Às vezes sinto que não aproveitei tanto a vida ao seu lado. Gostaria que cada pequeno momento juntas, mesmo que apenas contemplando o silêncio e observando o nada, nunca acabasse. Tenho comigo, perfeitamente claro, o seu sorriso e todos os seus traços. O som da sua voz, da sua risada e do seu choro de felicidade. O seu cheiro, suas texturas, o toque e o sabor dos seus lábios, bem como o conforto do seu abraço.

Você me fez feliz como ninguém nunca seria capaz, Andrea. E sou eternamente grata por ter me dado a chance de fazer o mesmo por você.

Eu amo você. E amo nossa família.

Para sempre sua,

Miranda.


Enquanto lia, Andrea sentia a garganta fechar e as lágrimas molharem todo o seu rosto e pingarem em suas roupas. Uma delas umedeceu o papel e borrou levemente a tinta, mas ela não se importava. Aquela era mais uma prova de que Miranda sabia como lhe emocionar mesmo distante.

Ela fechou os olhos e soluçou, abandonando a carta ao seu lado no sofá e levando ambas as mãos ao rosto. Enquanto chorava, ouviu passos e logo tentou se recompor, limpando as bochechas com pressa. Apesar de sua visão turva, conseguiu enxergar as filhas subindo os degraus de madeira em sua direção e lhe abraçando forte.

— Tudo bem, mamãe. Pode chorar. — Caroline disse em tom baixo enquanto se ajoelhava diante de Andrea e segurava seus joelhos. Cassidy e Diana se sentaram, cada uma de um lado do sofá, e abraçaram a mãe com força.

— Ela também deixou uma carta para cada uma de nós. — Diana disse e sorriu, tentando segurar as lágrimas.

— Eu coloquei cada uma num lugar que sabia que iam encontrar como a mamãe gostaria que fosse feito. — Cassidy complementou, alisando as costas de Andrea.

Andrea riu, balançando negativamente a cabeça, e falou com a voz trêmula:

— Depois de todos esses anos, você ainda ocupa a função de carteiro.

Cassidy deu de ombros e riu, limpando o rosto da mãe com a ponta dos dedos.

— Alguém tem que agir, não é mesmo? Eu pelo menos tentei unir vocês duas. E acho que funcionou, mesmo vocês duas sendo duas cabeças duras.

Todas riram e Andrea passou o braço por Diana e Cassidy, puxando-as para mais perto, e se inclinou levemente para frente para beijar o topo da cabeça de Caroline. Apesar de tudo, elas ainda estavam unidas. E Miranda estava junto a elas, as abraçando como sempre fazia.

Elas amavam sua família e eram gratas por todo pequeno detalhe de suas vidas até aquele momento.


FIM.

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