Se entregar

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Compartilhar meus dias ao lado de Miranda fora, de longe, a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos. Ela tem sido amável com Diana e vem lhe conquistando pouco a pouco, sem forçar qualquer sentimento. As gêmeas, ainda que passem a maior parte do tempo longe devido aos estudos, também ligam constantemente para animá-la e fazerem planos para o próximo final de semana que vierem nos visitar.

Apesar disso, Diana regularmente faz perguntas sobre Amy. Tento contorná-las com alguma desculpa, mas, mesmo com a pouca idade, ela é inteligente e sabe que algo está errado. Amy, por sua vez, não faz questão alguma de manter contato com a filha, o que me causa, ao mesmo tempo, raiva e alívio.

Meu relacionamento com Miranda está cada vez melhor. Procuramos passar todas as noites juntas, especialmente depois de um dia estressante de trabalho. Na maioria das vezes ela vem para a minha casa, pois acha a sua grande e vazia demais e gosta do conforto do meu apartamento minimalista e cheio de plantas. Surpreendentemente, ela realmente gosta.

— Conte seus segredos a elas.

A voz de Miranda era praticamente um sussurro. Era sábado de manhã e ela decidiu não ir à Runway para aproveitar o dia comigo e Diana. Quando acordei, a procurei na cama e percebi que estava frio demais, o que significava que ela já havia se levantado há um bom tempo. Questionei também onde estaria Diana, pois ela sempre me acordava com beijos, abraços, cócegas ou pulos na cama, mas aparentava ser tarde demais e no quarto não tinha nem sinal de que ela teria passado por ali.

— Como sabe que elas escutam?

— Porque elas são insetos sensíveis e que gostam de nos ajudar.

— Mas como elas nos ajudam?

Depois de me aproximar lentamente, me encostei no batente da porta da varanda e, com os braços cruzados, as observei.

Miranda havia puxado uma das cadeiras de madeira da varanda para mais perto das plantas que ficavam penduradas num pequeno canteiro do lado de fora da grade e se sentado ali. Diana se sentou em seu colo e ambas observavam atentamente algumas abelhas que rondavam minhas lavandas. A cena era tão doce e agradável aos olhos que eu poderia permanecer parada naquele lugar por horas, com o mesmo sorriso bobo no rosto, apenas para observá-las.

— Você sabia que são elas que fazem as flores nascerem e crescerem? E que, sem elas, não teríamos tantas variedades de verduras, frutas e legumes? Nem nada disso. — Ela aponta para as plantas nos vasos e nos jardins suspensos.

— A mamãe ficaria triste com isso.

— Com certeza ficaria. — Ouvi a risada divertida de Miranda, pois minha casa era praticamente uma estufa com tantas flores e plantas. Comecei a plantar todas elas depois que Diana demonstrou certo interesse em cultivá-las, além de tornarem o lar mais agradável.

— Eu realmente ficaria! — Digo com a voz rouca chamando a atenção delas. — As abelhas devem estar cansadas de ouvir os segredos de vocês. Que tal prepararmos o café da manhã? Depois podemos sair para passear no Central Park e almoçar uma pizza bem grande.

Ergui as sobrancelhas e abri mais os olhos enquanto me aproximava com os braços estendidos para pegar Diana no colo. Ela mantinha um sorriso enorme no rosto por saber que almoçaríamos pizza.

Apesar de não estar vendo as feições de Miranda por estar ocupada distribuindo beijos no rosto da minha filha, tinha absoluta certeza de que ela fazia uma careta e balançava negativamente a cabeça em reprovação ao meu incentivo à má alimentação de Diana.

Please Notice | Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora