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Ir à luta

Podia ouvir o som do chuveiro há poucos metros de onde estava deitada. Os lençóis bagunçados deixavam claro que o que aconteceu ali durante grande parte da madrugada não foi um dos meus sonhos e não seria esquecido. Meus olhos doíam devido à noite mal dormida, mas sequer me deixava incomodar. O peso de não ter Andrea comigo já não existia, ainda que doesse pensar que talvez ela saísse daquele banheiro arrependida e fugisse como da última vez.

Respirei fundo e me sentei na cama observando o céu azul e cheio de nuvens através da janela. Uma manhã tão bonita como aquela eram raras, mas, por incrível que pareça e justo naquele dia, fui presenteada. Apoiei minhas mãos no colchão, cada uma de um lado do meu próprio corpo, e me inclinei levemente para frente enquanto balançava os pés que pendiam no ar devido ao colchão alto fechando os olhos ao sentir a brisa suave me envolver. 

Quando nos cansamos depois de gozarmos tantas vezes, vesti apenas lingerie e a primeira camisa social branca que encontrei no meu guarda-roupas. Lembro-me de ouvir Andrea falar ao telefone com alguém na noite passada sobre sua filha. Não prestei tanta atenção na conversa, pois não gostaria que a realidade me invadisse, trouxesse consigo a sanidade e me fizesse afastá-la ao lembrar que ela tem uma família, mas reconheci que ela conversava com a babá quando ela se aproximou da cama finalizando a ligação antes de jogar o telefone dentro da bolsa e esquecê-lo lá pelo resto da noite.

— Essa é a visão mais bonita que meus olhos já tiveram o prazer de observar.

Tocando: Consequences – Camila Cabello

Rapidamente virei o rosto na direção do som de sua voz e me permiti sorrir. Andrea estava encostada no batente da porta do banheiro com uma toalha nos cabelos e o roupão envolvendo o corpo. O cheiro do sabonete invadindo todo o quarto juntamente com o do meu shampoo. Respirei fundo e me levantei, caminhando em sua direção sem desviar os olhos. Ela também deu alguns passos até se aproximar de mim e passar os braços em meu pescoço enquanto eu a envolvia pela cintura e puxava para mais perto.

— É real? — Perguntei encostando nossas testas e recebi um beijo apaixonado como resposta.

— Isso responde a sua pergunta? — Ela tinha um sorriso tão grande que me fez esquentar. A felicidade de finalmente me entregar sem receios invadia cada canto do meu corpo.

— Eu amo você, Andreah!

Minha voz era quase um sussurro e aquelas palavras eram um desabafo. Andrea sempre fora tudo que eu mais desejei e a única por quem eu abandonaria até a mim mesma apenas para ter o prazer de ficar ao lado, mas sabia que ela não estava tão disposta a fazer o mesmo. Ela deixou tudo bem claro na última vez que nos vimos. Ainda assim, a lembrança daquelas palavras evaporaram no instante que nossos lábios se tocaram na noite passada.

— Miranda... — A olhei receosa, acreditando que o que ela diria a seguir não era o que eu desejava ouvir. — Eu te amo e quero você comigo pelo resto dos meus dias.

Mas, como sempre, Andrea era uma caixinha de surpresas. De boas surpresas, na maioria das vezes. 

Me permiti sorrir outra vez, mas um sorriso ainda maior. Um sorriso de satisfação e realização.

— Por que nos permitimos ficar tanto tempo longe?

Andrea balançou negativamente a cabeça e me beijou suave e rapidamente, acariciando meu rosto com uma das mãos.

— Porque tudo tem seu tempo, meu amor. Ainda que tenhamos sido idiotas o suficiente para não reconhecer nem arriscar... — Ela riu em meio às palavras, talvez para amenizar as sensações ruins que sentíamos sempre que pensávamos em quanto tempo havia se passado — ...por medo ou seja lá o que for, nosso sentimento não morreu. Na verdade, ele foi resistente o suficiente para sobreviver por tanto tempo. Posso dizer que o que sinto está ainda mais forte. Nunca pensei que amaria tanto alguém como eu amo você.