Pequeno Acaso

dia especial

Mudanças nunca são fáceis, principalmente quando são tão drásticas e repentinas, mas não havia tempo para lamentações, eu não posso ficar, eu não devo ficar. Alexander foi um anjo conosco, comigo, ele se disponibilizou a casa e a pagar todas as dívidas, mas apesar de ser grato a ele preciso organizar a minha lá. 

Não quero passar muito tempo na casa de Alexander, ele disse que eu não precisava me preocupar com isso, mas não quero atrapalhar ele e a sua família.

Estamos no carro de Alexander, não havia nada além de poucas malas para levar, ele garantiu que a filha vai querer comprar tudo novo para a irmã quando chegarmos. Alexander não falava muito da família, sempre que a mencionava, ele falava apenas da filha, ele fala muito dela.

Eu já sei quase todos os detalhes da festa de 17 anos da menina, sei que o aniversário dela é dia 27, porém a festa será dia 29 pois ela insiste que a festa seja em um sábado. Aparentemente Alexander não deu muitos limites à filha.

— Vocês querem parar para comer? – Foco em seu rosto, ele parecia mais relaxado do que de costume, estava usando apenas uma bermuda e camiseta, sua barda que geralmente era rala estava um pouco maior deixando-o com um ar mais despojado.

— Quero – June berrou ao meu lado, ela estava incrivelmente animada para a viagem, queria conhecer a nova irmã. Eu queria estar animado, mas tudo parecia repentino demais, e apesar de tudo que minha mãe fez ou melhor não fez, eu ainda me sentia culpado por deixá-la sozinha.

— Vamos já para princesa – Eu ia no banco de trás com June, por algum motivo eu sinto que Alexander está me evitando, talvez eu tenha feito algo que o incomodou, talvez seja apenas o jeito dele, ou ele interpretou errado alguma atitude minha, mas independente do motivo decide que seria melhor respeitar a decisão dele.

Paramos em uma lanchonete pouco tempo depois, não conversamos, June merendou e eu aproveito para usar o banheiro e comprar alguns biscoitos e salgadinhos para a viagem.

Voltamos para o carro, June cantarolava a música que tocava, o próprio Alexander às vezes cantava uma parte ou outra, eles realmente eram uma família, uma família digna de comercial, eu me sentia tão deslocado perto deles, perto dele. Talvez eu estivesse enlouquecendo, ela ainda é minha irmãzinha, mas a sensação que agora ela vai me trocar por ele não some.

Cerca de uma hora depois, June dormia ao meu lado, Alexander estava concentrado na estrada, ele parecia distante e uma música triste tocava, eu olhava pela janela, estava me me sentindo em um clipe de 2016.

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— Chegamos – acordo com Alexander chamando, demorei alguns minutos para entender onde estou, tiro o cinto e ajudo June a sair da cadeirinha — Pode deixar as malas no carro, preciso ver quais os quartos Silvia arrumou para vocês – apenas concordo 

June estava muito sonolenta hoje, acho que Alexander também percebeu pois a pegou no colo quando saiu do carro, a cena pareceu tão natural, tão familiar. Senti uma pontada de inveja, não sei se dela ou dele.

— Magnus, se a Vênus for muito invasiva avisa… ela tá bem empolgada com a chegada vocês e bem… ela é meio demais – havia um semi sorriso, como se esse traço da filha dele fosse a coisa mais preciosa do mundo, talvez para ele seja.
 
Entramos na casa e estava completamente silenciosa, a casa parecia sair de um comercial, tudo estava arrumado demais, organizado demais, aparentemente não foi apenas eu que achei isso estranho, Alexander olhava como se a calmaria fosse um enigma.

 — Gatinha?? Vênus??? Filha?? – não houve resposta — Sílvia? – ainda sem resposta — O que essa menina está aprontando?

— Acho que se ficamos parados aqui não vamos descobrir – Alexander me olhou e sorriu 

— Tem razão, vamos procurar ela – Entramos no primeiro cômodo, segundos depois percebo que era uma sala de jantar 

— SEJAM BEM-VINDOS – gritaram, havia aproximadamente 15 pessoas, entre eles adultos e adolescentes, uma faixa enorme estava logo acima deles, a mesa estava cheia de doces e salgadinhos.

Uma menina que aparenta ter uns 15 anos veio na nossa direção, foi impossível não sorrir para a animação dela, ela agarrou Alexander como se a vida dela dependesse disso, no processo June quase foi esmagada por eles.

— Oii você deve ser a pequena June – A garota disse no momento que se soltou, imagino que ela seja a filha do Alexander – E você deve ser o Magnus, vem aqui deixa eu te apresentar ao pessoal – ela me puxou pelo braço, me levando para a o meio das pessoas, olho para trás, para ele, e ele sorriu minimamente para a cena e negou com a cabeça antes de colocar a June no chão.

— Pessoal, esse é o Magnus e essa pequena criatura é a June – ela falava alto, bem alto — Com o tempo você aprende o nomes deles, a maioria vive por aqui – ela disse diretamente para mim — Eu sou a Vênus 

— Ouvi falar bastante de você – ela sorriu e olhou para, o pai dela que estava conversando com um cara loiro.

— Meu pai é um pai babão, com a June não vai ser diferente – havia orgulho na sua voz, orgulho genuíno — Vamos comer,não comprei tudo isso atoa.

Vênus parecia o completo oposto do que eu havia imaginado, ela com certeza era demais, a menina falava demais, alto demais e rápido demais, mas a animação dela era contagiante, animadora.

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A pequena recepção durou um pouco mais de uma hora, agora eu estava no "meu novo quarto", a decoração era bem neutra, mas era realmente lindo.

— Posso entrar? – Vênus estava com o rosto na fresta da porta 

— Claro

— Gostou do quarto? – assinto e ela senta na cama — Você pode decorar como quiser… se quiser ajuda eu tô sempre por aqui…

— Obrigado, mas acho que não vou ficar muito aqui – sou sincero, ela desvia o olhar 

— Alguma coisa o incomodou ? 

— Óbvio que não, eu só gosto de ter o meu lugar, sabe, sempre fui muito independente… não quero mudar isso agora, mas vou ficar um tempo aqui até conseguir pagar um lugar, e preciso de um emprego.

— Com o emprego eu posso ajudar