𝐂𝐨𝐧𝐭𝐚𝐠𝐞𝐦 𝐑𝐞𝐠𝐫𝐞𝐬𝐬𝐢𝐯𝐚

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— Você paga

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— Você paga. — Thamara se aproxima rodopiando a chave de seu carro em seu dedo. Reviro os olhos para o costume que ela está começando a levar à cada vez que saímos juntos após o trabalho. Eu pago, reclamo e ela não faz nada quanto a isso a não ser beber tudo até no fim das contas eu não ter escolha a não ser pagar.

— Está tão falida assim? – Provoco-a.

— Você tem o direito de permanecer calado, babaca. – Ela me dá um soco no meu braço e eu rio.

Adentramos o bar sentindo uma energia familiar, tão diferente daquela que sentimos em nosso mesmo ambiente de trabalho. Nos permitimos relaxar, soltar os músculos e sentir o alívio subir dos ombros tensos até os pés doloridos. Sentir o cansaço tomar conta e se impregnar em nossos ossos. O barulho de conversas, risadas altas, discussões e copos se batendo nos acolhe com uma áurea que soa à energia e rock clássico, me mantendo longe dos pensamentos do trabalho. Thamara e eu nos sentamos na bancada onde o dono do estabelecimento prepara bebidas e drinks e o passa para os clientes. O bar compartilha o teto com um hotel que tem a entrada logo ao lado, a maioria dos clientes presentes são hóspedes, alguns deles até aparecem com as próprias bagagens ao lado.

— E então, meus amigos! O que vão querer? – O homem de cabelo e bigode grisalho e um pouco acima do peso pergunta com simpatia.

  Permito me simpatizar com ele também, não estou trabalhando, afinal, não preciso me manter sério agora, não preciso estar sempre tão tenso. E é só a segunda vez que frequento este local, não há problema em começar a ser menos formal.

— Um copo de whisky para mim e leite quente para ele – Thamara ri com escárnio e eu a lanço um olhar de desaprovação – Aliás, pode colocar tudo na conta dele.

Belisco seu braço e ela grunhe.

— Não leve ela a sério. — Solto uma risada curta e sem graça — Quero o mesmo que ela e pode deixar tudo na minha conta.
O homem assente com um sorriso e se vira para pegar as bebidas. Thamara tem um sorriso satisfeito nos lábios cor de vinho.

— Leite quente, sério?

Enquanto nossas bebidas são preparadas, olho em volta, entediado e sem ideia de como puxar um assunto decente com a minha própria colega e parceira de bebedeiras.

Um mural com alguns panfletos me chama a atenção no fim da ponta da bancada. Me levanto para dar uma olhada mais de perto, Thamara parece não se importar, seus olhos vidrados no celular. No mural, um papel com um aviso de fechamento do bar, outro com as promoções de estações do hotel, e logo, e em um canto do mural dois panfletos sobre o desaparecimento de um homem e uma mulher estão pendurados por grampos. Fiquei sabendo sobre ambos os casos, coisa que nem chega a ser minha mas me dá uma ideia.

Volto para o meu lugar na bancada. Thamara está publicando alguma coisa em uma de suas redes sociais, tanto o meu copo quanto o seu estão vazios. Olho para ela, a desaprovação pela sua gula desnecessária estampada na minha cara o que a faz abrir um grande e dissimulado sorriso quando me vê.

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