VI. 859 Cacos pt.2

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A opulência da Casa Óros se destacava do outros Templos no território elisiano.

O Guardião que se sentava à ponta da mesa tinha direito aos tesouros da Era Allagíana, afinal. Era besteira acreditar que os Doze estavam todos no mesmo patamar, brigas constantes por poder aconteciam ali, naquele exato salão grande o suficiente para os Doze Guardiões de Elísio e seus egos gigantescos em que Baco se encontrava, sentado em um dos enormes tronos dourados que rodeavam a Lagoa Estigiana, suas águas tão obscuras que as luzes dos candelabros não geravam nenhum reflexo.

Nem um único som podia ser ouvido além das portas duplas imensas que selavam o aposento. Não até que a reunião acabasse ou sua irmã os dispensassem.

Era ali que Atena recebia os conselhos da Guia dita como Pnévma, e cumpria suas sugestões passivo-agressivas. Também era a Sala de Julgamento para potenciais criminosos e traidores dos Termos de Paz que as Guias escreveram quando os jogaram em Phanteia.

E naquele momento, como em todas as reuniões sagradas dos Doze com o intuito de discutir a permanência daquela paz, Baco era obrigado a assistir enquanto Ares atacava a Alta-Guardiã com palavras.

Nada fora do comum, mas irritante de toda forma.

— Irmã, está na hora de deixar o cargo, não acha? — Em pé diante do próprio acento, ele abriu os braços e olhou ao redor, para os outros Guardiões, antes de finalmente olhá-la nos olhos. — Conheço bons deushianos, eu incluso, que se sairiam muito melhor cuidando de Elísio do que você.

Aquela já era a quinta interrupção dentro de uma hora e mesmo a duas cadeiras de distância Baco era capaz de ver os olhos da irmã se revirarem. Todos sabiam o que Ares queria, uma briga. Sempre uma maldita briga.

Era forte, como todos os antigos deushianos, sua aparência moldada em fogo e afiada como uma lâmina. Beleza também funcionava como arma e seus cabelos loiros rente a cabeça, os olhos pretos e os lábios convidativos podiam ser mais mortais que os braços e mãos que conheciam todas as formas de matar existentes.

Baco se perguntou se seu comportamento recente era culpa dele no fim das contas. Sua agressividade incontida e quase descontrolada vinha sendo um grande problema. Ele mal conseguia se manter em silêncio por dois minutos sem querer arrumar briga com alguém. Com Momo mesmo, ele não conseguiu voltar daquela terra desconhecida sem cair em um Círculo de Terra com ela, os dois se engalfinhando na lama na intenção de fazer o outro se render.

Momo prometeu uma visita em breve, quando estivesse pronta, mas Baco não sabia se acreditava que a veria tão cedo. Não podia ficar muito mais tempo, no entanto. Ele teve que voltar logo que conseguiu o que Oke queria: o paradeiro da mais mais antiga Devore, Ma Koriandre. Alguém em que Oke tinha interesse e achava valiosa o suficiente para arriscar com a fúria das Guias ao fazê-lo deixar Phanteia.

Contanto que não fosse ela na linha de fogo, faria o que fosse preciso para restaurar a própria imagem.

— Tente — a voz de sua irmã o trouxe do volta dos pensamentos perdidos. Largado na cadeira, com os cabelos cobrindo parcialmente os olhos na tentativa de não chamar atenção para que não percebessem que estava sob efeito daquela uva Mors In Vita, mal prestava atenção em qualquer coisa que diziam. Só queria acabar logo para que pudesse voltar a Irthos e fazer sua jogatina semanal com os amigos.

— Ah, cale a boca, Ares — Hades, seu querido tio, pediu sentado ao lado de Baco. — Parece uma criança mimada a quem foi negado um doce. Você é quem deveria ser deposto.

Silenciosos, Hefesto e Artémis balançaram a cabeça em concordância. Nix, do outro lado de Baco parecia tão entediada que ele quase estendeu as uvas para ela. Perpendicular a ele, Dite lixava as unhas e observava de quando em quando Eros, o deushiano em corpo adolescente que parecia mais do que interessado na discussão que se formaria. Ao lado dele, Apolo brincava com uma moeda dourada, girando-a entre os dedos.

Thalassa - Quase SubmersaOnde histórias criam vida. Descubra agora