IX. Segundo Passo

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— Não estou falando com você, Dio. Você é um péssimo irmão.

Grades douradas bateram direto na cara dele.

Era uma ironia de merda o deushiano mais querido do Olimpo ser o mais maltratado.

Às vezes ele de fato irritava alguns amigos ou a família, mas era de sua natureza inquieta vinda da Loucura que o fizesse fazer algumas besteiras. Em fato, era aquele exato motivo que impedia Elísio de colapsar, ele era o único capaz de controlar a Insanidade no lugar e, se guerras não aconteciam há milênios, o motivo só poderia ser ele. Deveriam estar beijando os seus pés, não batendo portas em sua face. Precisava de uns dias de SPA para relaxar e algumas horas em uma espreguiçadeira como tudo costumava ser antes... dela.

Será que se ele convidasse, ela aceitaria uns dias de trégua em uma piscina termal, máscaras de lama e algumas boas fofocas? Não custava tentar, certo? Ele precisava de um descanso. Precisava conseguir respirar por dois segundos sem ter medo de tudo aquilo. Sem se deixar sucumbir pela Loucura.

Sem conseguir atravessar os portões com a própria magia, ele gritou para a irmã que caminhava de volta à casa de veraneio que mantinha em Phanteia:

— Duas mentiras e uma verdade, Dite!

A irmã estacou em seus passos.

Ela não podia recusar aquilo. Era o trato milenar dos dois. Mais sagrado que suas promessas para os elisianos, eram as promessas que faziam entre si. Eles vinham antes de todo o resto. Baco não sabia quando aquilo havia se perdido.

— Eu sempre estou chapado nas reuniões de Guardiões. Uma vez me afoguei em vinho puro e fiquei apagado por meio dia. Não compro uma única peça de roupa sequer há duas rotações.

Dite virou de volta para ele. Seu vestido marsala diáfano — uma versão mais atual das vestimentas gregas que usavam na Antiga Deushia — balançou com a leve brisa que seu jardim pessoal produzia em seu próprio pequeno ecossistema. Suas tranças com detalhes dourados balançaram com o movimento. As pequenas pedras brancas leitosas em sua mão direita fizeram barulho quando ela os moveu entre os dedos.

Um sorriso despontou, os portões abriram outra vez.

— Muito bem, deixe-me ver... — Ela balançou a cabeça devagar, parecendo pensar. As luzes noturnas do jardim geravam sombras em seu rosto, fazendo com que cada ângulo fosse exclusivamente agraciado. O dom dela, a beleza incondicional, nunca haveria um ângulo em que Afrodite ficasse feia. — Mentira, verdade e mentira. Ninguém sabe o que acontece quando você se fecha nas vinhas. Estava sóbrio na reunião de octori passado. tão sóbrio que chegava a dar dó. E você nunca conseguiria ficar sem passar em uma loja sempre que tem a oportunidade. Seu closet é maior que o meu.

— Me conhece tão bem... — ele murmurou, se aproximando dela.

Precisava resolver logo aquilo e voltar para seus convidados. Confiava em Kyen com eles tanto quanto confiava em si mesmo perto de Thalassa. Ou seja, nada. O fauno provavelmente os enfiaria em confusão antes que a lua Velha estivesse em seu pico mais alto.

— Minha vez! — Dite sorriu, jogando as tranças para trás. — Eu nunca traí Ares — começou, passo após passo na direção dele. — Não me olho no espelho há um ciclo inteiro. Foi eu quem comeu a torta de morango na casa de Hera quando éramos pequenos.

Os olhos de Baco se arregalaram.

— Sua... Sua... Sua bobona! — Seus ventos correram ao redor do braço que levantou para apontar para ela. — Ela me jogou no Largo do Tridente por aquilo!

— Você me fez parecer burra na frente do papai! — Ela gritou de volta, ventos parecidos com o dele começaram a correr por seu vestido. Mas mais calmos e densos.

Thalassa - Quase SubmersaOnde histórias criam vida. Descubra agora