XI. Anagennisi pt. 2

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Thalassa bufou um suspiro longo e dolorido, fazendo Baco ficar para trás junto com ela.

— Não sei porquê ela insiste em dizer que sou filha dela — murmurou, olhando para a vista da janela que dava para o mar aberto.

— Ela sente que é parte de você — Baco devolveu o sussurro, se aproximando mais dela. Tão perto que enxergava cada pequena pinta que aparecia quando a maquiagem ia embora.

— E por culpa da intromissão dela, eu estou nessa situação. — Contrariando a atual situação dos dois, Thalassa se aproximou mais dele, fazendo a ponta da franja dele cruzar o caminho com a bochecha dela. — Eu gostaria de me desculpar — Thalassa deixou escapar rapidamente, olhando diretamente nos olhos dele.

Aquela foi a primeira vez que Thalassa o surpreendeu. Em toda aquela vida patética e sem sentido de mortal que ela tinha, aquela pequena atitude humana e inofensiva foi o que criou presas e virou o monstro que o devoraria vivo.

Baco abriu um sorriso sínico.

— Pelo que?

— O que fiz durante a madrugada. Não foi certo. Você estava tentando ajudar. Eu apenas estava...

— Com raiva — ele completou, balançando a cabeça afirmativamente. — Eu sei. E entendo, já fui o filho rebelde que queria contrariar os pais.

— Ela não é minha mãe! — Thalassa sussurrou, mortificada, empurrando-o levemente.

Por um breve momento, os dois trocaram um sorriso honesto e pequeno que o encheu de confusão. Aquele não era o plano normal do relacionamento controverso dos dois. Eles não podiam se tratar tão bem.

— Mesa, vocês dois — Okeanos colocou a cabeça para fora da sala de jantar.

Em menos de meio segundo ele já tinha colocado quase um metro de distância entre ele e o sorriso de Thalassa, se direcionando para a porta em que Okeanos apareceu.

A sala de jantar provavelmente tinha a maior janela da casa, uma que se estendia por toda a extensão da mesa e trazia uma vista limpa do mar do lado de fora. As paredes tinham quadros bregas e o lugar todo trazia cores fracas demais para a mesa branca imponente no meio de tudo.

Com cinco lugares postos.

— Teremos mais um convidado? — Baco se atreveu em perguntar, ocupando o lugar à esquerda da cabeceira.

— Ele está se aprontando no andar de cima — Oke suspirou, tomando a cabeceira e abrindo as panelas.

As sobrancelhas dele se ergueram. Aquilo não era bom. Aquilo podia significar muitas coisas, mas sabia que tinha azar o suficiente para ser a última coisa que queria.

— Ele?

— Uma surpresa — Okeanos o encarou e seus olhos leitosos perfuraram a pele dele e queimaram seu pescoço.

Baco segurou os talheres com força quando sustentou o olhar. A dor dobrou de tamanho. Queimou, ardeu, matou ele por dentro. Quase o colocou de joelhos no chão outra vez. Ainda sim resistiu. Continuou encarando ela. Estava cansado de ser o capacho de alguém, ele não tinha ascendido um dos Doze para ser mandado, tratado como um subordinado.

Quando. Seu pescoço queimou, a dor descendo para o peito. Aquela. Seus olhos lacrimejaram, os nós dos dedos brancos como papel. Merda. Okeanos inclinou a cabeça, suas tranças balançando quando pediu em sua mente para parar. Iria. Ele engasgou, visivelmente, atraindo o olhar de Thalassa e seu amigo. Acabar?

Okeanos começou a se servir quando percebeu que ele cederia.

Maldita.

— Uma surpresa — ele finalmente repetiu, a voz fina quando realmente cedeu a ela.

Thalassa - Quase SubmersaOnde histórias criam vida. Descubra agora