XVI. Pequena demone, eu vou matá-la pt.1

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Dor havia se tornado uma constante em sua pequena rotina.

Ela acordava com o estranho amanhecer, sozinha em seu novo e decadentemente vazio quarto, bebia o chá tenebroso que Okeanos lhe preparava toda noite, tomava um café da manhã farto de nutrientes que não ajudariam a mantê-la abaixo do peso — Thalassa havia feito sua paz com o fato de que engordaria. Depois Okeanos a arrastava para academia e a fazia correr por horas na estranha esteira phanteiana, com estranhos eletrodos grudados ao longo do seu tórax e costas, enquanto lhe instruía sobre Deushia, Phanteia e as politicas de território sob o governo de uma das Guias em Divine. Tanta informação que quando as pedras paravam de rolar e a esteira diminuía a velocidade, o seu cérebro já se dobrava em desespero.

Você sabia que Phanteia seguia um formação muito primitiva da Pangeia original e continha dezesseis territórios dos mais diversos panteões, sendo três deles neutros para comunhão entre dois ou mais territórios — exclusivamente quando necessário —, isso sem contar com Divine, a Metrópole capital que estava presente em todos os territórios ao mesmo tempo em que estava em lugar nenhum? Ou que o nível de contato entre os territórios variava de sua proximidade geograficamente, em teologia e através de alianças que poderiam ter sido formadas ainda na Deushia? Que as três Guias que agiam como balança primordial das ações deles foram criadas pelo próprio Caos quando este criou um mundo de confusão e violência? E que então elas se sentiram obrigadas a agir, desfazendo o grande Caos no éter e lançando a punição da Mudança nos deushianos — que trancou parte de suas poderosas almas nas cicatrizes no peito e os expulsaram de sua terra natal?

Bem... Thalassa agora sabia. E com aquilo passou a entender muito mais sobre o funcionamento daquela sociedade nada usual e extremamente parecida com a do mundo em que cresceu.

E não era tudo!

Quando o sol atingia o ponto mais alto no céu, Okeanos a arrastava para a mesa outra vez e a observava comer no almoço. Ela encarava Thalassa, Thalassa encarava Baco e Baco encarava Ícaro que ignorava a todos e se retirava antes de todos, indo para os deuses sabiam onde, fazer os deuses sabiam o quê.

Acompanhado de Koan. A mesma Koan que não lhe dirigiu a palavra sobre o incidente no Templo de Pã, nem mesmo falou com Baco — que a ignora-la fortemente.

Okeanos seguia ignorando os pedidos dela para que devolvesse Ícaro a Gaia ou que pelo menos respondesse o porquê dele estar lá em primeiro lugar.

Aidan também andava sumido, frequentando Irthos com cada vez mais frequência ao lado de Kyen. Todos pareciam estar tomando seus próprios rumos. Ela inclusa, porque à tarde Baco levava-a à mesma clareia em que treinaram pela primeira vez e jogava sua bunda no chão de novo e de novo conforme o sol avançava. Quando a lua subia ela já estava tão exausta que não tinha tempo de pensar em mais nada. Nem mesmo a Visão lhe acometia mais.

Todos lhe deram descanso e não lhe perturbaram, temendo que mais alguma irritação pudesse causar outro colapso.

Ela já nem mesmo pensava tanto assim em voltar para casa. Tudo o que tinha em mente era a necessidade de sobrevivência que a impedia de quebrar a pequena rotina pois passou a estar desesperada pela ideia de continuar existindo.

— Então, o que me conta? — Aidan perguntou, mordendo a maçã em seguida, da onde estava sentado entre as raízes da Mãe-Carvalho, a árvore de Syce.

A dríade dos carvalhos passou a assistir os dois com frequência, embora tentasse manter sua presença em segredo no começo, se camuflando em seus galhos gigantescos, mas Thalassa não demorou muito para encontrar os olhos que pareciam persegui-la e Syce desistiu do anonimato e passou a realmente estar presente. No entanto a dríade estava com vergonha pela presença de Aidan e estava escondida naquele momento, sua presença mal perceptível atrás de Aidan.

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⏰ Última atualização: Jan 05 ⏰

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Thalassa - Quase SubmersaOnde histórias criam vida. Descubra agora