Capítulo 58

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Bianca POV

Logo depois que terminaram as bolsas com os remédios meus sogros nos deixaram na minha casa e seguiram para a deles.

[...]

- Bom dia garotinha. - Maria Eduarda falou entrando no quarto.

Sorri para ela, parecia mais radiante.

- Como você está? - Perguntei e ela manteve seu sorriso no rosto.

- Bom, conversei bastante com meus pais e eles acharam melhor que eu fosse fazer umas sessões com a psicóloga. - Ela fez uma pequena pausa. - Não te falei antes pra não te deixar preocupada, hoje é minha primeira sessão, eles acham que eu estou tendo tantos pesadelos por quê aconteceu muita coisa de uma vez só. -

Ela havia me contado que qualquer cochilo que fosse se tornava um pesadelo com a mesma cena.

Meus sogros não poderiam ser melhores.

- E eles estão mais do que certos senhorita. - Ela veio em minha direção selar nossos lábios. - Queria já estar melhor e poder ir te levar. - Fiz um beicinho.

- Não precisa né amor. - Minha namorada afagou meus cabelos. - Na próxima você me leva se quiser. -

- Amor esqueci de te falar, em vez de fazer uma coisa só do nosso grupinho, o amigo secreto vai ser em família. - Maria Eduarda falou assim que entramos no meu quarto. - Tem o pessoal do grupo, minha família, a sua e a mãe da Isa. -

- Interessante isso aí. - Falei pensando no que eu daria para minha sogra, eu havia tirado ela na brincadeira. -

- Hm. Ok. - Falei sem dar muita bola.

- E agora. Me conta quem você tirou. - Ela sorriu amarelo.

- Não Maria Eduarda, saí. - Falei quando a menina veio fazer uma cara de cachorrinho que caiu da mudança.

[...]

Maria Eduarda POV

- Boa tarde Maria Eduarda. - Minha psicóloga falou assim que eu adentrei na sala. -

- Pode me chamar de só de Duda. - Falei simpática. - Mas nada de Madu, por favor. Eu tenho pavor desse apelido. - Ela riu e logo respondeu.

- Tudo bem só Duda. Pode me chamar de Cris. - A mulher mais velha estendeu sua mão para me cumprimentar.

- Já te deixo avisada Cris, você vai querer me jogar da janela no final da sessão, por quê eu começo a falar e não paro mais. - Ela riu leve.

- Vai ser um prazer te escutar Duda. - Simpática demais a doutora Cris. - O que te trouxe aqui? -

- Bom, eu já tava enrolando a um tempo pra vir, mas os últimos acontecimentos não me deixam nem dormir. - Cris arrumou sua postura na cadeira e fez um gesto para eu continuar. - Toda a história ou os últimos acontecimentos? -

- Desde onde você se sentir confortável para falar. - Sorri para Cris, eu sinto que vou me dar bem com ela.

Contei minha vida desde quando minhas inseguranças surgiram, problemas com alimentação, meu namoro com Frederico, a primeira vez que encontrei com a Bianca.

Ainda bem que meu pai por saber que eu falo muito já alugou três horas o ouvido da doutora Cris, ele sabe que eu gosto de falar.

- Eu vejo que a Bianca parece ser um divisor de águas. - A mulher na outra poltrona falou e me arrumei no sofá. - De toda a sua linha do tempo, nitidamente eu vejo uma Duda antes e depois que essa menina entrou na sua vida. -

- De certa forma sim, eu entendi o significado de realmente gostar tanto de alguém que só ver essa pessoa feliz já basta. -

- E isso te fez amadurecer mesmo que tenha sido ruim. -

- Sim, apesar de ter feito umas cagadas, hoje não tenho o que falar dela. A Bianca é dedicada, ela sempre me quer ver sorrindo, ela reconhece seus erros e faz de tudo pra mudar, ela não passa a mão na minha cabeça, ela me ajuda a ser melhor todos os dias. - Falei sorrindo.

- Isso e muito importante. Que vocês tem um relacionamento saudável é nítido, agora vamos para os acontecimentos dos últimos dias. - Doutora Cris olhou seu relógio e fez sinal pra eu começar.

- Temos tempo? - Balançou a cabeça positivamente. - Então... -

[...]

Após contar todos os acontecimentos dos últimos dias a mulher a minha frente estava a ponto de fazer uma pipoca e assistir os próximos capítulos de camarote.

- E essas coisas vem me trazendo memórias ruins na hora de dormir, eu sempre tenho pesadelos com a cena do Fred no carro. -

- Isso é realmente preocupante Duda. - Cris falou suspirando. - Vamos fazer uma dinâmica. - Ela se levantou a posicionou duas cadeiras de costas uma para outra.

- Você senta ali, e eu aqui. - Assim que nos sentamos ela prosseguiu. - Quero que você imagine que o Frederico está sentado aqui e vai ouvir tudo que você tem pra falar sem abrir a boca. -

- Ok. -

- Você acha que consegue? É necessário bastante concentração para esse exercício. - Afirmei com cabeça, mas logo lembrei que estávamos de costas uma para outra.

- Vou me esforçar, prometo! -

Fechei meus olhos e nos imaginei no lugar que mais íamos em Campos. Uma casa na árvore no meio de uma propriedade da família do amigo do Fred, lá tivemos nossa primeira vez, pedido de namoro, as conversas mais profundas...

- Eu não vim aqui pra te escutar, eu só vou falar e ir embora. - Fiz uma pausa, engoli o choro e continuei, só de me imaginar do lado dele novamente me dava náuseas. - Eu achei que eu te conhecia, mas você me provou que não. Você era meu melhor amigo desde sempre, você foi a pessoa que eu me entreguei, eu deixei você me conhecer por inteiro, e eu te pergunto, pra que? Pra você me faltar com respeito agora que terminamos, como você mesmo disse tudo que tínhamos estava fadado a acabar. Nunca iríamos dar certo, eu só não queria aceitar o fim, éramos ótimos amigos e péssimos namorados, brigamos mais do que nos amamos, colocamos uma amizade de anos em prova por um amor que nem de verdade pareceu ser, eu recebi tantos avisos pra abrir meus olhos com você, mas eu só via o meu melhor amigo de infância, o Fredinho que nunca iria me machucar. - A essa altura eu não aguentei e desabei em lágrimas. - Só que eu não sei mais quem conviveu comigo. O meu amigo ou essa pessoa que me faz ter pesadelos todos os dias, eu achei que podia confiar em você, mas agora tudo que restou foi nojo. Eu tenho nojo do seu rosto, do seu toque, da tua voz. Me faça o favor de nunca mais voltar a aparecer na minha vida ou na da minha família. - Terminei de falar e enfiei minhas mãos em meus cabelos.

- Calma Duda, isso foi muito bom. Para nosso tratamento funcionar é extremamente necessário você colocar todas as suas emoções a para fora. - Ela afagou minha costas e continuou. - Muitas mulheres que passam por traumas como esse demoram muitas sessões para conseguir falar com tanta clareza como você fez, você é muito mais forte que pensa Maria Eduarda, e juntas vamos superar tudo isso. -

Cris sorriu pra mim e me encaminhou para a sala de espera onde meu pai já se encontrava.

A sessão tinha sido maravilhosa, mas eu tinha total noção que era só o primeiro passo de um processo longo.

Quase sem quererOnde histórias criam vida. Descubra agora