Trinta e Dois

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White

Chegar no esconderijo foi doloroso, se a gente ia voltar a viver mais ou menos normal eu teria que sair dali. Em poucas palavras eu ia deixar de morar com Sean.

Eu já havia me acostumado a morar com ele. Tá quê  ele as vezes é bem desorganizado e também é mal humorado mas ainda assim aprecio sua companhia.

Sean não gostava de me ver passar frio a noite, então ele sempre me cobria. Ele também ficava cantarolando pela casa o que no começo me irritou mas depois apenas me acostumei e agora acho que seria solitário sem o som.

Agora enquanto junto meus trapos, passando a mão por alguns móveis uma figura alta se aproxima de mim com um copo de alguma bebida quente.

- Você passou por muita coisa hoje. - ele diz.

- É, quando tem várias armas apontadas pra você muitas coisas passam pela sua mente. - admito

E passou, enquanto estava ali preso e incapaz eu lembrei de cada momento desde que aceitei ocupar o lugar de Black por um instante. E percebi que a maioria das lembranças que eu vi continham ele.

- Você está bem ? - ele pergunta.

- Eu não tô bem, Sean.

- Você.. quer falar sobre isso?

Eu não pensei muito apenas fui até ele e o abracei. Ele me envolveu no seu aconchego.

- Eu não quero ir embora. - acaba escapando da minha boca. - Eu gosto de ficar aqui sinto que vou sentir muito a sua falta.

Sean me afastou dele e me observou por um tempo. Então ele fala baixinho perto do meu ouvido.

- Eu não sou como você vê, bem eu não era. Mas desde que você apareceu eu virei uma versão que eu desconheço mas não desgosto.

- Eu também não era assim, definitivamente não era. - admito.

- Você me transformou em algo melhor White.

Não estava preparado para essa declaração. Meu coração acelerou imediatamente e eu me afastei um pouco.

- É... obrigado por compartilhar isso comigo. Você, enfim essa vida inteira é muito diferente de tudo que eu já vivi. Eu quero aprender a ser mais como vocês e lutar contra opressores como Tawi.

- Você mudou de assunto.

- Eu não.

- Mudou sim White.

- Eu me sinto péssimo por ir embora. E quanto mais sentimentalismo mais difícil será para mim.

- Você tem que frequentar a garagem como os outros. Eu quero continuar vendo você. - ele diz diretamente.

Eu não consigo entender como ele tem coragem de ser tão direto. Eu vou morrer de aflição pois gostaria de dizer tantas coisas para ele mas me falta coragem e me sobra medo.

Diferente de mim ele apenas despeja tudo que sente e eu me perco em suas palavras.

- Eu não conseguiria ficar muito tempo longe mesmo.

Não faço ideia de quando ficamos próximos o que eu sei é que de repente podemos nos abraçar e nos tocar sem medo.

Ele me entrega coisas e fala informalmente. Mas falar informalmente ele sempre fez até desconfio que ele não saiba falar de modo formal.

Mas essa sensação é muito nova como se estivéssemos construindo uma ponte que vai nos levar a algum lugar e eu estou curioso para descobrir.

Sean

Quando acordei de manhã White já tinha partido, e partido meu coração. Sempre observei o quanto os gêmeos são diferentes pois não queria os confundir e nessa acabei esquecendo que eles também podem ser parecidos.

Finalmente após tanto tempo encontrei algo que eles tenham em comum. White e Black não se despedem, eles provavelmente odeiam esse momento antes de sair onde os sentimentos e a saudade já se mostram presente.

Enquanto fazia meu café da manhã encontrei uma meia dele no chão. No automático fiz o café da manhã para dois mesmo que não fosse eu quem geralmente cozinhava mas as vezes fazia um agrado ao meu colega de quarto.

A saudade era grande e continuou a apertar no meu peito por alguns dias. Sai do esconderijo e voltei para garagem ajudando Gumpa e Yok a mexer com as motos.

Yok estava passando dia e noite ali mexendo com as mesmas coisas mesmo quando não tinha mais nada para mexer. Aquilo era muito suspeito, mas Gumpa disse que ele precisava de um tempo então não me meti.

Finalmente após dias White apareceu na garagem. Com o cabelo formal, e roupas chiques em cores claras. White também usava óculos ele estava completamente como ele mesmo.

- Oi pessoal! - ele diz.

Yok corre até ele e o abraça com força o erguendo do chão.

- Menino rico! Que bom finalmente ver o rosto de alguém que não parece morto. - ele jogou a indireta sobre mim.

- O que quer dizer ? - White pergunta.

- Sean tem andando estranho suspirando para la e para cá. Viajando em seus pensamentos e parece cabisbaixo. Você precisa curar ele. - Yok diz atropelando as palavras.

- Bobo. - White sorri.

Ver ele grudando no meu amigo não foi muito divertido então separei os dois imediatamente.

- Sean você parece mais magro. - White observa.

Fiquei chateado por olhar em seus olhos e notar que ele parecia totalmente igual. Como se minha ausência não tivesse sequer feito diferença em sua vida.

- Tenho tido menos vontade de comer. - falo.

- Eu também, a comida da universidade de repente parece fresca demais. - ele diz.

- Owwnt. - Yok faz o som que me faz o encarar com meu olhar assassino.

É a primeira vez em dias que vejo Yok bem humorado. Gumpa sorri e finalmente se aproxima de nós ele acaricia os cabelos de White por um tempo e então o leva consigo. Naquele momento minhas mãos se fecharam com firmeza eu estava profundamente incomodado.

Not MeOnde histórias criam vida. Descubra agora