1.12. georgia on my mind

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como a trilha sonora é uma parte muito importante de uma história, mais uma música que combina muito com a história delas! espero que gostem deste capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo. de qualquer forma, feedbacks são sempre bem-vindos! até mais 💖

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other arms reach out to me
other eyes smile tenderly
still in peaceful dreams I see
the road leads back to you

— Ray Charles

Faltando pouco menos de seis meses para terminar o ensino médio, dez meses para completar dezoito anos, Helena começava a se preocupar com o rumo que tomaria na vida. Com algumas opções em mente, calculou o tempo que poderia levar até ser aprovada em algum vestibular do estado e fez as pazes com a ideia de que poderia levar mais um ano de dedicação, em especial, em redação. Ela podia se dedicar por mais um ano, se fosse o caso, mas não podia fracassar duas vezes. Esse, afinal, não era um luxo que ela poderia se dar.

— Você parece pensativa — Helena olhou para Georgia do outro lado do quarto, deitada de bruços na imensidão que era aquela cama. — Que tal uma pausa? Me diz o que está pensando.

Para se distrair do olhar inquisitivo, Helena passeou com os olhos pelo quarto tão cheio de detalhes antes de respondê-la. Observou a combinação harmoniosa entre iPad, MacBook e os livros empilhados sobre a extensa mesa de estudos de Georgia, que, nos momentos de ócio, gostava de ler sobre engenheiros civis e arquitetos importantes. Em uma das mesas de cabeceira, repousava um exemplar do livro do arquiteto, engenheiro e ex-prefeito, Prestes Maia, cujo título lia-se: Os Melhoramentos de São Paulo. Helena não conseguiu evitar imaginá-la deitada na cama, envolvida por lençóis que eram de algodão com textura acetinada, de seiscentos fios, lendo um capítulo de um daqueles livros toda noite antes de dormir.

— Às vezes, eu não consigo não me preocupar demais com o meu futuro — ela confessou, deixando de lado o caderno e as apostilas com questões tiradas de vestibulares anteriores. — Eu nem sei direito o que quero fazer da vida. Parece muito surreal ter que decidir uma coisa tão importante com tão pouca idade. E se eu me arrepender? Eu vou ter desperdiçado quatro, cinco anos da minha vida.

— Você tem muitas habilidades, Helena — Georgia a consolou com uma necessária dose de racionalidade. — Tem muitas coisas que você pode fazer sem nem precisar entrar numa faculdade. Se você realmente se sente assim, então espera até ter certeza do que quer fazer. Você é muito boa com trabalhos manuais, deveria se concentrar mais nisso.

— Tipo, marcenaria?

Com um sorriso muito contente e satisfeito por pensarem a mesma coisa, ela assentiu.

— Sim, tipo isso.

— Minha avó diz que não é um trabalho de mulher — Helena suspirou, soprando do rosto uma mecha do cabelo ruivo. — Ela não entendeu ainda que eu não sou uma menina tradicional.

— Por isso a gente se dá tão bem — ela observou com um ligeiro arquear de ombro. — Porque eu também não sou.

— Desde quando você não é uma menina tradicional? — Helena a encarou com petulância e curiosidade. — Eu tenho certeza que se eu abrir o computador agora e pesquisar "mulher tradicional" no Google, aparece uma foto sua como exemplo.

Ha-ha. Como você é engraçada — ela resmungou, arremessando a almofada namastay in bed na direção dela. — Eu estava tentando ser solidária, sua ingrata.

— Não fala assim, Georgia — Helena se levantou da cadeira de escritório, ligeiramente estremecida com o adjetivo. — Não me chama de ingrata. Eu sou muito grata por você... pela nossa amizade, pelo meu pai, pela minha avó. Por tudo, na verdade.

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