1.4. carta fechada ao mundo

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Depois de sair da escola na quarta-feira, Helena foi convencida por Sofia a passarem na casa de Drica para estudarem para as últimas provas do bimestre. Ela só precisava aguentar mais duas semanas e finalmente estaria livre de acordar cedo, e livre também de caminhar os oito minutos de trajeto para a escola. Helena estudou o que conseguiu e, uma hora depois, no entanto, estava ela e as duas amigas assistindo aos novos episódios de Pretty Little Liars que Drica tinha baixado por meios ilegais.

— O que vocês fariam se A perseguisse alguma de vocês? — Sofia perguntou, bebericando o refrigerante pelo canudo de modo barulhento.

— Chamaria a polícia — Helena respondeu como se fosse óbvio.

— Mudaria de país — Drica respondeu quase que simultaneamente, pensando melhor e então se corrigindo. — Na verdade, eu provavelmente faria uma tiragem para saber se alguém que eu conhecia estava tentando me prejudicar. Acreditem, as cartas nunca mentem.

Sofia e Helena se entreolharam, rindo em silêncio da forma com que a mente de Drica funcionava.

, mas e depois? — Sofia a estimulou a continuar. — O que você faria quando soubesse que, sei lá, o Luiz estava te ameaçando com um segredo muito obscuro?

— Meu orixá se encarregaria do resto — ela deu de ombros, afastando uma mecha do cabelo cacheado, escuro como a noite, que insistia em cobrir seu olho. — Além disso, ele é muito sonso. Talvez nem precisasse de Exú no caso.

Sofia deu uma risadinha cínica, cruzando os braços com uma expressão de tédio.

— Você realmente acredita nessas besteiras?

— Sim? — ela pareceu ofendida, apontando para Helena. — Não vejo você questionando ela sobre catolicismo.

— Eu nem sou católica — Helena deu de ombros, encostando a cabeça no encosto do sofá com a atenção na cena que se desenrolava na série. — A minha avó costumava ir na Universal quando ainda podia e minha mãe me levava na missa lá em Chapadinho aos domingos, mas eu não sou nada.

— Tá vendo? — Sofia retorquiu, suspirando em sinal de quem não se importava mais com aquele assunto. — Religião num geral é uma grande besteira, só isso.

— Engraçado que você não reclama quando faço tiragens para você.

Sofia se limitou a revirar os olhos, erguendo um único ombro de forma tão despretensiosa que fez Helena esboçar um sorriso de singelo deleite. Ela olhou para as duas amigas, sentindo-se então profundamente desinteressada com a discussão que não levaria a lugar algum.

— Gosto de me entreter com besteiras — ela disse e então disparou outra pergunta em tom sugestivo: — Nenhum segredo obscuro, meninas?

— Não mesmo — Drica bufou para o desagrado da amiga. — Só as piores escolhas no departamento romântico. Todo menino que gosto tem namorada, acho que estou fadada a destruir lares.

— É. Um caso perdido — Sofia concordou com um muxoxo, voltando-se para Helena com expectativa. — E você, Leninha? Me dá alguma coisa, vai.

Ela balançou a cabeça, franzindo o cenho com o apelido que só os familiares mais próximos dela usavam.

— Nada escandaloso — Helena comprimiu os lábios, pensativa. — Dificilmente eu seria fonte de algum entretenimento de A.

Drica se remexeu no sofá, colocando os pés no colo de Sofia, que, por sua vez, encarava o vazio com um ar de intensa ponderação.

— Eu fico imaginando os podres que a família de um político tem para esconder — murmurou em tom contemplativo, movendo os olhos em direção à amiga com irrestrita curiosidade. — O que o seu pai diz sobre a família do senador?

Questão de TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora