1.17. o vento que levou meu coração

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com vocês, o último capítulo da primeira parte desta história.

***

Cada dia que passava, Helena se sentia mais inclinada a dizer as três palavras para Georgia. Não era segredo que estava apaixonada, mas dizer que a amava era um rumo sem volta. Eram palavras que, uma vez ditas, lançadas ao vento, não podiam ser retiradas do mundo, pois vagariam soltas pelo tempo e sobretudo pelo espaço. Ela acharia a oportunidade perfeita.

— Sabe, você nunca me contou sobre o seu histórico — Helena comentou quando foram almoçar pela segunda vez no Terraço Itália. Dessa vez, um clima de romance pairava no ar.

— Não tenho exatamente um histórico — ela disse, fazendo uma careta com o que passou pela cabeça dela. — Eu nunca na minha vida fiquei com menino nenhum, eca. Só fiquei com uma menina e foi um desastre.

— Nem um selinho? — Helena sussurrou, inclinando a cabeça na direção dela.

— Tive que me sujeitar a alguns selinhos, mas só e chega — ela balançou a cabeça, estremecendo com a ideia de algo a mais. — Sempre fui muito esclarecida e consciente dos meus limites — abaixando a voz e se inclinando também na direção dela, completou com um sorriso sugestivo que a fez pulsar em lugares sensíveis: — é pela anatomia feminina, especialmente a sua, que eu me derreto toda.

Helena corou profundamente com a sutileza e a sinceridade que brilhavam nos olhos escuros dela, desejando estar a sós para aliviar o desconforto que Georgia causava entre as pernas dela.

— Você me diz isso aqui? — ela tentou bufar, mas deixou escapar um gemido fraco e insolente.

— Digo em qualquer lugar.

Helena riu, guardando aquela informação para mais tarde. Em vez de prolongar aquela tortura, Helena retomou o assunto anterior com a pergunta que não queria calar na mente dela.

— Por que foi um desastre? — ela quis saber, ignorando o sentimento irracional de incômodo ao imaginá-la com outra. — O que aconteceu?

— Porque ela é uma pessoa desprezível — foi a resposta dela, soando ligeiramente contrariada e ressentida. — Às vezes eu acho que ela só queria brincar comigo mesmo, sabe? Não sei muito bem. Pode ser só a mágoa falando. Eu sei que ela não ficou só comigo e isso me chateou.

Helena observou que ela parou de comer quando começou a contar e não voltou a tocar mais na comida. Ela tentou não pensar no fato de que Georgia nunca expressou verbalmente o que sentia por ela, quando tudo o que Helena fazia era se declarar.

— Eu conheço ela? — perguntou com o coração batendo na palma da mão.

— Ela só esteve uma vez na minha casa — Georgia respondeu, pensativa. — Não lembro se você chegou a conhecer ela. Bom, você com certeza já deve ter ouvido falar nela, porque por um tempo ela foi o assunto favorito de todo mundo. O nome dela é Cacau.

— É aquela menina nova do seu colégio? — ela tentou pescar na memória tudo o que ouviu sobre a menina, e a fisionomia dela também.

Georgia assentiu, rindo um pouco da expressão de desânimo que se apoderou da feição de Helena.

— Acho que lembro dela, sim — ela murmurou, desviando os olhos para a soda italiana que bebericava. — Que saco. Ela deve ser rica e deslumbrante.

— Por que a carinha triste? — Georgia se inclinou em busca de contato visual, deslizando os dedos entre os dedos de Helena discretamente.

— Você gostou dela? — Helena ergueu o olhar para encará-la, tomada por uma coragem e um desejo de saber de natureza feroz e pulsante.

— Bastante — Georgia admitiu, comprimindo os lábios com um ar bastante resignado e prudente. — Na verdade, eu achei que gostei muito dela na época. Talvez eu tenha gostado mais da ideia que tive dela, a princípio, e de como ela era perspicaz com tudo. Ela tem uma habilidade impressionante de ler as pessoas, como se estivesse com um guia na mão.

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