1.13. real sensação de ressurreição

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atenção! notem que a classificação da história foi mudada. 

***

Helena foi levada para a casa de Georgia assim que se despediram de Sofia, cujos planos para a noite se resumiam em dormir com o novo ficante sem que os pais desconfiassem. Das três, ela era a única que mantinha uma vida sexual ativa e agitada. Sofia não tinha receios de se aventurar: confiante e dona de si, não media esforços para viver como bem entendia. Helena estava seguindo o mesmo caminho.

Pelas gracinhas de Sofia e os olhares sugestivos de Vitória, imaginou que estivesse escrito em algum lugar de seu rosto o que quase fez com Raíssa no solo sagrado da paróquia. Ela estava tão nervosa, os cenários e as lembranças passando por sua cabeça ansiosa e agitada, que mal conseguia conceber uma única frase em contribuição à conversa entre as duas amigas sem que se sentisse atordoada.

Durante todo o trajeto para a mansão, permaneceu com a atenção nas janelas, olhando tudo passar, mas sem se atentar de fato ao que via, em silêncio contemplativo. Se não tivesse se comprometido a passar o fim de semana na casa de Georgia, Helena teria inventado alguma desculpa para ir direto para casa, pensar nos acontecimentos com calma, na privacidade do próprio quarto.

— Vou preparar as coisas no quarto para a gente dormir — Georgia avisou, subindo as escadas sem esperar por uma resposta.

— Vou na cozinha beber uma água, comer uma fruta — Vitória disse, e gesticulou para que Helena a seguisse, o que ela fez de pronto. — Foi uma noite divertida, não foi? — ela iniciou a conversa quando estavam sozinhas, movendo-se com precisão na cozinha.

— Bem mais do que imaginei — Helena concordou com um sorriso, sentando-se na bancada com o corpo encolhido por conta do frio. — Acho que eu precisava mesmo de um dia como hoje. Era exatamente o que eu precisava.

— Bom, já que tocou no assunto — ela fez bom uso da oportunidade que havia criado, dedicando toda a atenção à amiga. — Você sumiu por um bom tempo. Num momento você estava ali, perto das barracas, onde todo mundo conseguia te ver, e no outro, puft. Sumiu.

Helena deu uma risadinha juvenil, mas não se sentiu constrangida como se sentiria se estivesse na presença de Georgia. Vitória se mostrava sempre muito aberta e compreensiva, o que a tornava uma ótima amiga e ouvinte.

— Você ficaria escandalizada se eu te dissesse que a gente meio que invadiu a paróquia para se agarrar?

— Não mesmo. Pouquíssimas coisas neste mundo me escandalizam — ela disse sem grandes afetações.

— Bom, foi o que aconteceu — deu de ombros, pegando uma uva verde do cesto que Vitória colocou na bancada para comerem enquanto conversavam. — Sabe a melhor coisa de morar aqui?

— Não — Vitória negou, juntando-se a ela na bancada. — Eu só morei aqui até os seis anos. Já me mudei bastante na vida. Suíça, Espanha, Brasília. Quero me formar na UNB e depois voltar para cá. Eu adoro São Paulo.

— Você morou na Suíça e quer voltar para São Paulo? — ela arqueou as sobrancelhas, incrédula.

— Estudei lá — ela confirmou. — Sentia falta do Brasil todos os dias. Parecia um castigo morar longe da minha família, ter que suportar o frio, ser obrigada a me comunicar com as pessoas que não falavam a minha língua. É um saco. Eu gosto é de viajar pela Europa, agora morar? Não mesmo.

— Para quem tem dinheiro, o Brasil é um paraíso mesmo — Helena pensou alto, guardando para si os pensamentos que cruzaram sua mente naquele momento. Vitória era uma companhia muito agradável para enchê-la com lamentações. — Mas eu vou te dizer então qual é a melhor parte.

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