Os primeiros dias de agosto foram os mais sofridos para Helena, que, um mês namorando Georgia, deparou-se com as horas mais compridas e igualmente temíveis por não poder vê-la com a frequência que gostaria. Georgia, como sempre, estava muito empenhada nos estudos. Tudo o que ela queria era terminar o colégio e seguir com o plano de se tornar uma engenheira civil importante, trabalhar numa construtora de renome, até a tão almejada independência. Ela tinha em mente muitos planos detalhados, uma ideia fixa de como seriam os próximos anos de sua vida. Um deles ela fez questão de compartilhar com Helena.
— Eu mesma vou projetar a nossa casa — ela disse, mostrando para Helena um esboço de como seria.
Deitada na cama com Georgia, Helena parou de folhear o livro que Drica tinha emprestado para ela e ergueu os olhos para encará-la com o coração estampado nos olhos.
— Me diz o que você quer que tenha nela. Vou desenhar a casa dos seus sonhos.
Helena deixou o livro de lado e se aconchegou ao corpo de Georgia com a intenção de vê-la riscar no caderno de projetos que ganhou de natal. Ela então pensou, por um longo minuto, tudo o que gostaria que tivesse em sua casa com Georgia.
— Bom, tem que ser grande — ela disse sem ressalvas, deliciando-se com os carinhos de Georgia em seu cabelo. — Eu quero morar numa casa grande, com piscina, três jardins, ou um só jardim, mas bem grande, e que tenha muitos quartos.
— Muitos quartos? — ela sorriu com a descrição, pressionando por mais detalhes. — Quantos exatamente?
— Seis — ela disse o primeiro número que veio à cabeça. — Vamos ter muitos filhos, nossa família vai ser grande. Precisamos de espaço.
— Jardim do tamanho de Chapadinho. Seis quartos. Família grande — Georgia foi anotando, sorrindo o tempo todo com extrema candura e benevolência. — Qual vai ser o nome dos nossos filhos?
Com a mente dando um enorme passo para o futuro, ela se dedicou a imaginar como seriam os filhos que teriam. Helena não estava brincando quando disse que queria uma família grande com Georgia. No rápido vislumbre, imaginou as três crianças com a aparência de Georgia, e o seu bom temperamento também.
— Você prefere menino ou menina?
— Duas meninas e um menino — Georgia disse com muita convicção, e Helena viu brilhar em seus olhos um desejo misturado com expectativa.
— Eu pensei mesmo em três — ela sussurrou, espantada e, ao mesmo tempo, maravilhada com a conexão.
— O menino pode se chamar George?
— De jeito nenhum — Helena chacoalhou a cabeça de modo vigoroso e decidido. — Nada de nome estrangeiro. Ele já vai sofrer com o seu nome.
— Qual é o problema com o meu nome? — Georgia a cutucou na costela com tom de falsa reprimenda, arrancando gargalhadas de Helena. — Retira o que disse agora ou é você que vai sofrer.
Helena estava prestes a desdenhar de sua ameaça quando Georgia pulou em cima dela e começou a fazer cócegas nela — cócegas brutais. A traidora sabia o quão sensível era o corpo de Helena e se aproveitou de tudo o que aprendeu nas últimas semanas a respeito dos pontos estratégicos, onde e quando apertar, para fazê-la se render e prometer não zombar mais o nome dela. Elas fizeram tanto barulho que Indiana foi até o quarto de Georgia para entender o que estava acontecendo.
— Que algazarra é essa aqui? — ela perguntou, parada no batente da porta.
Georgia escondeu o rosto debaixo do travesseiro, mas Helena conseguia ouvir a risada abafada. Indiana olhava para as duas com a expressão de quem estava farta de pessoas felizes — e elas estavam muito felizes.
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Questão de Tempo
Teen FictionParte I. Helena Porto conhecia muito bem os dissabores de ser sozinha. Não por acaso, passou boa parte de sua vida lidando com as consequências da tumultuada separação dos pais. Ela só tinha dez anos quando foi levada para outra cidade, e então deze...