faz tempo que escrevi este capítulo, já nem lembro mais o que tem nele. espero que saia algo bom dele.
***
Na manhã seguinte, os raios de luz natural das primeiras horas do dia penetravam as brechas das cortinas entreabertas, e os ventos ruidosos sopravam contra as grandes e largas janelas do quarto. Helena custou a abrir os olhos, mas logo as imagens da noite passada voltaram à mente dela com tamanha força e nitidez que serviram como golpes para despertá-la de uma única vez.
Com todas as lembranças da noite anterior embaçando sua visão e atiçando sua feroz e recém-descoberta libido, Helena cobriu o corpo despido e moveu os olhos pelo quarto, procurando qualquer sinal de Georgia, mas achou somente um roupão de microfibra no pé da cama. Desapontada e temerosa com a ausência de Georgia, ela se vestiu e foi tomar banho para enfrentar o que estava por vir.
Quando ela saiu do banheiro, notou que a cama já estava arrumada e que Rita havia trocado os lençóis e todo o jogo de cama também. As janelas estavam abertas para arejar o quarto, as cortinas esvoaçavam com o vento gelado da manhã nublada e a porta estava entreaberta.
— Bom dia, Leninha — Ritinha a cumprimentou, recolhendo as roupas de cama e passando por ela para sair do quarto.
Helena balbuciou um cumprimento de volta, distraída com a movimentação no local sagrado onde teve a primeira vez com Georgia. Sem saber muito bem o que fazer, trocou de roupa e penteou os cabelos com os dedos para não perturbar os fios de cobre. Ela olhou ao redor e decidiu recolher as coisas que foi deixando pelo quarto. Havia um pedaço dela em cada parte do quarto de Georgia: escova e elásticos de cabelo, peças de roupa penduradas na cadeira e espalhadas pelo closet, carregador, celular e mais outras coisas insignificantes. Sentou-se logo em seguida na cama por um minuto para calçar o par de botas quando a porta abriu outra vez.
— Helena — Georgia a chamou assim que entrou no quarto, fechando a porta atrás dela com um clique. — Eu tinha vindo acordar você, mas vi que já estava tomando banho.
— Quando eu saí do banheiro a Ritinha estava trocando a cama — ela hesitou um pouco em tocar no assunto, incerta sobre os sentimentos de Georgia naquela manhã.
— Ah, sim — ela olhou para a cama, depois para Helena. — Hoje é sábado. Ela sempre troca todas as camas aos sábados. Desculpa, deveria ter avisado.
— Tudo bem — ela relevou, e Georgia se aproximou, vestida com roupas quentes e confortáveis.
— Você dorme bastante — ela comentou com bom humor, ajoelhando-se de frente para ela com uma expressão limpa e acessível. — Quer tomar café? Pedi para a Rita colocar um lugar para você na mesa. Meus pais chegaram faz pouco tempo e o café já vai ser servido.
— Não sei se é uma boa ideia — ela disse, incerta. — Sua mãe não gosta muito de mim, e pode ser estranho depois... Você sabe.
Georgia deu uma risadinha com o aparente embaraço de Helena, mas logo se recuperou e pegou as mãos dela para segurá-las.
— Mas eu gosto — ela retorquiu com um sorriso contido. — Já fiz as pazes com a ideia de que nunca vou suprir as expectativas dela, então nada do que ela diz, ou pensa, me atinge.
Após refletir um pouco sobre o que ouviu, Helena concordou com um meio sorriso, tentando não se deixar envaidecer com a confissão aparentemente genuína de Georgia. O que mais queria, na verdade, era mais um momento a sós com ela antes de ter que encarar toda a família Garcia Bastos.
Sentados à mesa, alguns minutos depois, estavam os gêmeos e os pais de Georgia. Indiana era servida por Rita enquanto Israel conversava com Eugênia em tom baixo e confidencial. Paulo, pelo que soube mais tarde, não tinha voltado para casa. Assim que se aproximaram da mesa, foram recebidas por Jorge, sempre muito cordial e carismático, com perguntas sobre a festa junina da noite anterior e sobre os planos para o sábado. Vitória desceu logo em seguida, cantarolante e festiva.
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Questão de Tempo
Fiksi RemajaParte I. Helena Porto conhecia muito bem os dissabores de ser sozinha. Não por acaso, passou boa parte de sua vida lidando com as consequências da tumultuada separação dos pais. Ela só tinha dez anos quando foi levada para outra cidade, e então deze...