1.14. a vida numa casa de vidro

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faz tempo que escrevi este capítulo, já nem lembro mais o que tem nele. espero que saia algo bom dele. 

***

Na manhã seguinte, os raios de luz natural das primeiras horas do dia penetravam as brechas das cortinas entreabertas, e os ventos ruidosos sopravam contra as grandes e largas janelas do quarto. Helena custou a abrir os olhos, mas logo as imagens da noite passada voltaram à mente dela com tamanha força e nitidez que  serviram como golpes para despertá-la de uma única vez.

Com todas as lembranças da noite anterior embaçando sua visão e atiçando sua feroz e recém-descoberta libido, Helena cobriu o corpo despido e moveu os olhos pelo quarto, procurando qualquer sinal de Georgia, mas achou somente um roupão de microfibra no pé da cama. Desapontada e temerosa com a ausência de Georgia, ela se vestiu e foi tomar banho para enfrentar o que estava por vir.

Quando ela saiu do banheiro, notou que a cama já estava arrumada e que Rita havia trocado os lençóis e todo o jogo de cama também. As janelas estavam abertas para arejar o quarto, as cortinas esvoaçavam com o vento gelado da manhã nublada e a porta estava entreaberta.

— Bom dia, Leninha — Ritinha a cumprimentou, recolhendo as roupas de cama e passando por ela para sair do quarto.

Helena balbuciou um cumprimento de volta, distraída com a movimentação no local sagrado onde teve a primeira vez com Georgia. Sem saber muito bem o que fazer, trocou de roupa e penteou os cabelos com os dedos para não perturbar os fios de cobre. Ela olhou ao redor e decidiu recolher as coisas que foi deixando pelo quarto. Havia um pedaço dela em cada parte do quarto de Georgia: escova e elásticos de cabelo, peças de roupa penduradas na cadeira e espalhadas pelo closet, carregador, celular e mais outras coisas insignificantes. Sentou-se logo em seguida na cama por um minuto para calçar o par de botas quando a porta abriu outra vez.

— Helena — Georgia a chamou assim que entrou no quarto, fechando a porta atrás dela com um clique. — Eu tinha vindo acordar você, mas vi que já estava tomando banho.

— Quando eu saí do banheiro a Ritinha estava trocando a cama — ela hesitou um pouco em tocar no assunto, incerta sobre os sentimentos de Georgia naquela manhã.

— Ah, sim — ela olhou para a cama, depois para Helena. — Hoje é sábado. Ela sempre troca todas as camas aos sábados. Desculpa, deveria ter avisado.

— Tudo bem — ela relevou, e Georgia se aproximou, vestida com roupas quentes e confortáveis.

— Você dorme bastante — ela comentou com bom humor, ajoelhando-se de frente para ela com uma expressão limpa e acessível. — Quer tomar café? Pedi para a Rita colocar um lugar para você na mesa. Meus pais chegaram faz pouco tempo e o café já vai ser servido.

— Não sei se é uma boa ideia — ela disse, incerta. — Sua mãe não gosta muito de mim, e pode ser estranho depois... Você sabe.

Georgia deu uma risadinha com o aparente embaraço de Helena, mas logo se recuperou e pegou as mãos dela para segurá-las.

— Mas eu gosto — ela retorquiu com um sorriso contido. — Já fiz as pazes com a ideia de que nunca vou suprir as expectativas dela, então nada do que ela diz, ou pensa, me atinge.

Após refletir um pouco sobre o que ouviu, Helena concordou com um meio sorriso, tentando não se deixar envaidecer com a confissão aparentemente genuína de Georgia. O que mais queria, na verdade, era mais um momento a sós com ela antes de ter que encarar toda a família Garcia Bastos.

Sentados à mesa, alguns minutos depois, estavam os gêmeos e os pais de Georgia. Indiana era servida por Rita enquanto Israel conversava com Eugênia em tom baixo e confidencial. Paulo, pelo que soube mais tarde, não tinha voltado para casa. Assim que se aproximaram da mesa, foram recebidas por Jorge, sempre muito cordial e carismático, com perguntas sobre a festa junina da noite anterior e sobre os planos para o sábado. Vitória desceu logo em seguida, cantarolante e festiva.

Questão de TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora