1.10. a tempestade perfeita

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acho que a música que mais combina com elas é amor maior do jota quest. choro muito ouvindo porque lembro delas😭

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No dia dezoito de abril, Helena tomou um longo banho e colocou a roupa que mais gostava com a intenção de atrair os olhares de genuína admiração de Georgia. Embora não estivesse um clima agradável na cidade de São Paulo, decidiu por lavar o cabelo e deixá-lo secar naturalmente para preservar as ondas volumosas nos cabelos cor de cobre que ela sabia que a fascinavam. Na nécessaire, colocou os itens de higiene básica e separou algumas peças de roupa caso decidisse dormir na casa de Georgia.

Era a primeira vez que estava animada com o próprio aniversário e ela sabia que aquele sentimento era um reflexo natural da insistência de Georgia para que passassem o dia juntas. Helena se arrumou com a maior diligência, mas não quis perder tempo com maquiagem. O que ela fez, no entanto, foi passar um brilho labial que deixassem os lábios mais atraentes assim que já estava vestida com o suéter cor de café, a calça de cintura alta preta e o par de tênis branco de que tanto gostava.

Para a surpresa de Helena, Georgia a buscou em casa. De folga do trabalho, Jessé conversava com ela enquanto lustrava o carro no passeio de casa. Pelo tom da conversa, ficou claro para Helena que Georgia era mais próxima de Jessé do que imaginou.

— Sim, eu falei com ele como você me disse. Nem consigo acreditar que a gente realmente conversou — ela contou ao pai de Helena, que a incentivou a continuar com uma camaradagem típica de Jessé —, mas foi um fracasso. Agora me sinto uma idiota.

— Falou com quem? — ela quis saber assim que Georgia a viu, mas foi logo distraída pelo sorriso radiante no rosto bonito dela.

— Atenção para a aniversariante — Jessé festejou, abraçando-a pela décima vez no dia.

Georgia esperou a vez dela para envolvê-la num abraço apertado. Helena não desperdiçou a oportunidade de se deleitar com o cheiro frutado de que tanto gostava, desejando que aquele abraço nunca tivesse fim. Com a voz mais calma e melódica, sussurrou no ouvido de Helena:

— Feliz aniversário, Helena. Espero que você realize todos os seus sonhos e, no que depender de mim, vou te ajudar a conseguir tudo o que deseja.

Quando estavam sozinhas no carro, Georgia virou o corpo para poder encarar Helena, que a encarou de volta com uma atenção especial na roupa que ela usava. Helena não escondia o fascínio que a dominava quando a via em roupas mais casuais — mas não menos caras —, como a calça jeans de lavagem escura e a jaqueta bomber com comprimento de cropped e detalhes franzido que ela usava.

Àquela altura, havia uma leveza entre as duas, uma serena familiaridade, que ela sabia que desapareceria assim que ousasse relevar o que escondia por trás dos olhares de anseio, dos sorrisos, dos toques demorados.

— Antes da gente ir para a minha casa — ela começou com o tom de voz misterioso —, vamos almoçar primeiro. Temos ainda metade do dia pela frente.

— Almoçar? — Helena repetiu, refletindo a postura de Georgia de modo instintivo. — Onde?

— Você vai ver.

Apesar da curiosidade, tudo o que fez foi assentir com certa relutância. Viu a cidade passar pela janela do Lexus, observando os transeuntes quando paravam em sinais vermelhos. Nos termômetros de rua marcavam meio-dia e vinte e quatro, dezesseis graus. O outono era a estação favorita de Helena. Durante o trajeto de vinte e cinco minutos, conversaram amenidades.

Foi somente quando o motorista de Georgia continuou na Avenida Presidente Castelo Branco que ela começou a especular, observando enquanto continuavam no Corredor Norte-Sul em direção à Praça da Luz. Georgia tentava distraí-la, mas Helena estava curiosa e ansiosa.

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