(ATO II: Vênus é um garoto)

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VÊNUS É UM GAROTO

quando o menino Vênus nasceu
uma festa no olimpo irrompeu
presentes e bençãos foram trazidas
para o garoto que tinha a aurora nos olhos
para a criança que reluzia vida

de semente para flor, ele crescia
como uma pureza branca e silvestre, nascida para se rebelar
cultivada com afinco pelos deuses
em um jardim de rosas propícias a despedaçar

então, quando Perséfone o jogou fora,
pela primeira vez,
Vênus presenciou tempestades
perdeu pétalas
e ganhou espinhos
tornou-se difícil tocá-lo
e até Diana, que protegia-o com flechas de fogo
acabou com a garganta atravessada
incapaz de defendê-lo das mordidas de Cérbero

não havia alguém com tamanha coragem
disposto a ferir a pele e muito mais
apenas para amá-lo
os homens que lhe tocaram
apenas as pétalas frágeis amassaram
Baco, seu jardim incendiou
Vulcano, pelas costas o apunhalou
no meio de todo o caos
foi Adônis quem o salvou
enfeitiçando-o com poesias e palavras de adoração
prendendo-se ao seu caule
nutrindo suas raízes
sem se importar com as lágrimas vermelhas que viriam
quando se apaixonasse pelos espinhos também

um semideus nascido da podridão humana
o amável Adônis era querido por todos
e não tardou a ser cobiçado também por Perséfone
amante da morte, do passado e do mal
seduzida pela futilidade da juventude ou solidão
sem nunca purificar-se de sua própria escuridão

ela lutou contra o menino Vênus pelo mortal morto
com armas antigas de outrora
em uma batalha silenciosa
trágica, e mente, ao declarar nenhum vencedor ao final

com a guerra
a alma de Adônis
em frangalhos, e nunca mais a mesma
foi enterrada no inferno
e o acordo que se selou
decretou que as primaveras de Adônis
pertenceriam ao menino Vênus, com seus cabelos de gardênia e olhos de maresia
e os invernos, à rainha do submundo,
com seu coração inundado de puro amor congelado e antiga ingresia

os olhos do menino Vênus
cheios de brilho em seu nascimento
perdiam o calor a cada estação
dolorosamente fria
nunca sozinho, mas sem Adônis
e até os verões, quando Adônis tornava-se um espírito livre
eram roubados por Perséfone
que nunca tivera intenção de ser cruel
mas ciente de que esse era, para sempre, o seu papel

senão Adônis, quem amaria seus espinhos
quando as pétalas viessem a murchar?
Vênus não queria mais Baco, Vulcano ou Marte
como poderia viver cercado de vinhos, traições e guerras?
ele não suportava mais essa eternidade

para que não se machucasse com seus próprios espinhos
lhe bastava o mortal mais amável do mundo
mas aquele amor
nunca seria só dele para possuir.

Diamonds Don't Turn To Dust ❀*ೃ taekook;Onde histórias criam vida. Descubra agora