❝sinta algo❞

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Cozinhando, era o que Julieta fazia às 3 da madrugada, fazendo a única coisa que era boa o suficiente, fazendo tudo isso agora porque ela ficou doente, e teve de ficar de cama no dia anterior.

Tentando focar na tarefa que estava fazendo, para não ouvir seu subconsciente gritando por socorro, seu corpo pedia para descansar, suas pernas estavam trêmulas, suas pálpebras estavam pesadas, e a fadiga a acertava em cheio, mas Julieta não parava de cozinhar, ignorando todos os sinais que o seu corpo dava, Julieta pensava sobre o quão desprezada era.

Ela não era ouvida, por ninguém da sua família, todos lhe ignoravam por ter o dom menos problemático e mais útil, então, ela ouvia que não tinha motivos para reclamar, e que seus irmãos tinham problemas maiores do que o dela.

Agora que Bruno foi embora, Pepa tem muito mais problemas do que tinha antes.

Julieta era rápida, seu cérebro não acompanhava a velocidade que suas mãos se movimentavam, e isso ajudava por um tempo, mas a ajuda não era de longo prazo, ela mais uma vez se pegou pensado demais.

"Eu estou cansada" - tudo começava com simples palavras, que eram adicionadas com frequência no vocabulário de Julieta.
Cansada de sua aparência podre, sempre suja de farinha ou coberta de comida, seu cabelo sempre amarrado num coque feito na pressa, cansada do estado físico e emocional que se encontrava, nunca satisfeita com nada, Julieta se sentia um lixo.

Ela sentia que iria explodir, as pessoas mal agradecem à ela pela cura que recebiam, sempre reclamando do seu gosto ou cheiro, doía, lidar com só reclamações, em casa, em Encanto, é exaustivo, aguentar calada.

Julieta girou seus calcanhares e foi até a bancada, olhando a garrafa de café que estava pela metade, a mulher pegou a maior xícara que encontrou e despejou o líquido dentro da caneca.
Dando um gole generoso no café, a 5° xícara de café somente em 3 horas, irônico, não? Julieta deu uma risada interna, sem esboçar qualquer reação espalhafatosa, era engraçado rir da própria decadência.

A cafeína é a melhor amiga dela faz décadas, já nem faz efeito, se tornou um vício, mas Julieta não se importa mais, era a sua missão, abençoar a vila custe o que custar, de certo modo, o café trazia um conforto para ela.

Voltando até o forno, ela tirou o bolo de laranja do forno e colocou ele na mesa, o alimento estava com uma cara bonita, como sempre, Julieta nunca poderia errar.

Mais um pensamento ecoou por sua mente.

"Você não é nada" - Ela concordou, Julieta é invisível aos olhos de todos, até da sua família, somente sendo vista como um dom e um troféu para a família.

Sem o seu dom, o que seria dela?, certamente um Zé ninguém, título que ela já carrega em suas costas.

Sua mãe se esquece completamente de sua existência, exceto quando ela estava nervosa e frustrada, descontando tudo em cima da mulher, se Julieta não dançava conforme a música, seria motivo de humilhação e chacota, é desagradável e desconfortável.

Seus olhos encheram de lágrimas, mas ela não parou de cozinhar.

— Você não tem motivo pra chorar. - Julieta murmurou para si, secando os olhos com o dorso de sua mão.

Sinceramente, Julieta achava que estava morta por dentro, nada do que ela sentia era verdadeiro, ela sentia estar gelada por dentro, ela não sente mais alegria genuína, é só tristeza e angústia.

Ela não sentia dor, fisicamente, Julieta não sentia dor.

A Madrigal olhou para as suas mãos por alguns segundos, e um pensamento destrutivo passou por sua mente,"e se?".

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⏰ Última atualização: Sep 22 ⏰

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