Epílogo

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Conques, Frância.

15 de dezembro, 952.

15 de dezembro, 952

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Prezado Augustave,

Venho por meio destas palavras prestar minha sincera admiração por sua decisão.

Foram tempos sombrios, de difíceis julgamentos. E confesso que, às vezes, ao cair da noite, pegava-me questionando o tipo de homem que sou.

É comum, somos humanos falhos, e períodos assim nos fazem mesmo duvidar.

Até o melhor dos homens pode se corromper. E nós dois (sim, eu também, apesar da pouca idade!), já vimos muito disso acontecer.

Mas houve o que muitos chamam de milagre, querido amigo. Houve um acontecimento que fez toda a Frância tremer.

Meses antes, eu imaginava que esta carta teria como função lamentar a morte de muitos, a perda de outros, e nossa própria ruína.

Mas quando digo que nós, francos, trememos (Deus seja louvado!) não refiro-me a uma guerra.

O Reino Franco foi, sim, transformado como nenhum ser antes vira. Porém, o motivo tende a ser outro:

A honra de um rei.

Não mentirei, amigo, Deus sabe como sou um homem que preza sua verdade.

Conheço Christophe Toussaint desde que nossa altura mal alcançava as refeições na mesa, e mesmo conhecendo-o tão bem, admito com profundo pesar no coração que desconfiei do caráter de meu amigo.

Ademais, o que me deixa mais endividado com ele, querido Augustave, é que não fui o único a ter tal pensamento sujo: fui um em milhões; um entre toda uma maioria.

Todavia, é um alívio saber que não só eu, mas sim todos, estávamos errados.

O rei conseguiu impedir a guerra.

Sua majestade ficou devastado quando soube que o traidor entre os seus não passava do chefe de sua própria guarda, o homem a quem Christophe e seus pais atribuíram confiança por anos a fio.

Quando chegou aqui, semanas após ser atacado em sua viagem com a rainha, Christophe contou-me que o plano de Quennel era livrar-se dele para assumir a princesa como esposa e apossar-se da coroa.

A própria Sophie demorou dias para levantar-se, devido o impacto da traição daquele que considerava um dos seus.

Sinceramente, Augustave, não compreendo como ainda posso abismar-me com a podridão do espírito de alguns.

Contudo, me abismo. E sei que você também.

Aviso-lhe, caro amigo, que seu encontro com o rei tomou grandes proporções. Ouvi dizer que até mesmo o rei da Inglaterra mandou suas felicitações por nossa Frância ser tão bem governada por homens de valor.

Histórias estão sendo contadas. Histórias sobre o rei que conseguiu desestabilizar uma guerra com apenas palavras!

Tenho em mente, caro Augustave, que se a guerra houvesse ocorrido, o Reino Franco não estaria tão harmonizado quanto está agora.

Christophe provou ser um homem contrário ao pai.

O que Linus resolveria com mortes em massa, ele conseguiu utilizando apenas cortesia e o bom senso de entender o outro lado: o seu lado, meu caro.

Quando o fato de você aceitar o encontro sugerido por ele chegou aos meus domínios, confesso que custei a acreditar que um guerreiro como nosso rei conseguisse estabelecer um acordo sem um banho de sangue.

Mas ele conseguiu.

Presto meu respeito à você, Augustave DeRose, por também prestar-se a ouvir nosso rei.

E agir — não por conta própria — mas pelo bem dos francos.

Acrescento aqui que uma atitude tão nobre merece toda a repercussão que está tendo.

Em suma, meu amigo, a guerra que você evitou graças ao rei trouxe uma nova perspectiva para a vida de todos nós.

Christophe passou a revelar seu rosto; e tropas de soldados têm sido enviadas com farturas de comida e mantimentos para os moradores da Frância.

Eu soube por alto que há um ou dois dedos da rainha metidos nisso, e que o bebê que ela espera será tão doce e bondoso quanto a própria Amalie.

Eu a conheci, uma linda e rara mulher, então compreendi o motivo de Christophe ter se tornado um homem tão diferente.

Bem, devíamos esperar menos de uma camponesa que têm feito história por governar tão bem ao lado do marido?!

O rei contou-me que a família inteira da moça agora mora no palácio junto a eles, e este fora o único pedido que Amalie já lhe fizera diante de tantas joias para se pedir.

Eu não lhe disse, velho amigo?! Excepcionalmente rara!

Acredita no amor, Augustave? Pois eu me arrisco a dizer que sim.

Afinal, o amor salvou nossas vidas; salvou o rei...

E ainda salvará o mundo.

Respeitosamente,
Otton Archambeau, duque de Conques.

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