Dia 2

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     Era um lugar escuro, com apenas um foco de luz, que apontava para um pequeno conjunto de dois sofás e uma mesa no centro. Bia estava deitada em um, e no segundo estava uma forma desconhecida com um caderno e uma caneta na mão(?).

     — Eu estou realmente namorando? Como assim? O que as pessoas fazem quando namoram? – E então se virou para a figura, que continuava indecifrável. – Tipo, é que nem nos animes ou que nem nos livros? Tem diferença, sabe? – Nem uma única reação.

     "Eu não sei o que vou fazer quando encontrá-lo", suspirou. "Eu vou ter que gastar dinheiro com ele? Eu vou ter que investir?" Sua expressão mudou para surpresa, depois para medo e então ficou vermelha. "E se... E se... E se ele quiser me be-beijar?" E se encolheu no sofá. "Beijar parece emocionante, mas nojento ao mesmo tempo. É uma troca de saliva. Não lhe parece estranho?" A figura apenas anotava tudo. "Acho que vou ter que comprimentá-lo quando o ver, né?"

     — Eu acho que você devia ser internada, sua louca – João estava parado na porta do quarto azul de Bia. – MÃE! BIA ESTÁ FALANDO SOZINHA DE NOVOO!!! – Gritou pela casa.

     — JOÃO, DEIXA A SUA IRMÃ EM PAZ!! – Deu pra ouvir sua mãe gritando. Bia suspirou, pegou sua mochila e deu tchau para Bartolomeu, que se espreguiçava em sua cama.

     Apesar de estar decidida a no mínimo sorrir quando vê-lo, no momento em que os olhos de Bia se encontraram com os de Rafael na sala, seu primeiro impulso foi correr. Sem nem olhar pra trás.

     — O que pensa que está fazendo? – Perguntou a figura indefinida.

     — Eu não sei... Eu não – deu uma pausa para respirar fundo. – Eu não sei o que dizer.

     — Não precisava dizer nada, era só sorrir.

     — Eu sei, é só que...

     — Bia! – Rafael a alcançou. A figura indefinida já havia ido embora.

     — Oi – e sorriu. Ela sorriu. E então Rafael perdeu toda a postura. Ele nunca havia visto um sorriso tão bonito quanto o de Bia. Mas que raios?

     — Bom dia.

     — Bom dia.

     Silêncio.

     — Como foi o seu dia? – Rafael estava impressionado consigo mesmo. Ele, o mestre da oratória, que sempre tinha um argumento na ponta da língua em todas as discussões, que sabia usar palavras como ninguém, estava sem ter o que dizer. Impressionante, não é?

     — Bom, não é como se tivesse passado muito tempo desde ontem à tarde... Não fiz tantas coisas...

     — Ah, sim... Claro – o silêncio estava pra se tornar um companheiro fiel. – Bom, er, sala?

     — Sala – Bia achava o constrangimento dele fofo.

     Os dois seguiram para sala juntos, sem nem ao menos dizer uma palavra, mas eles estavam se acostumando com isso. Beatriz, certamente, se sentindo cada vez mais intrigada pelo seu, bem, ainda é estranho de se dizer. Mas, sim, namorado.

     Rafa podia sentir o olhar de Bia sobre ele, o que era um pouco desconfortável. Sinceramente, ele não sabia muito o que estava acontecendo. Ele havia agido por impulso, fato. Mas e agora? Rafa havia escolhido Bia porque ela era na dela, então não daria tanto trabalho, ele apenas deixaria rolar. Mas por que diabos isso parecia ainda mais inquietante. Por que ele se preocupava tanto?

     O sinal bateu. Veio o segundo horário, que terminou tão rápido quanto o super computador da NASA demora pra calcular 2+2. E, novamente, o sinal bateu.

     — Então, o que acha de passar o recreio comigo? – Rafa estava ao lado da mesa de Bia.

     — Ok, pode ser – ela ficava fofa quando corava.

     Os dois seguiram para o mesmo lugar que o Rafa tinha, pela primeira vez, reparado na existência de Bia. Seus amigos não tardaram a se juntar a eles.

     — Então você é a Bia, certo?

     — Como vocês ficaram juntos?

     — Eu vou ser sincero, sempre te achei meio estranha...

     — Você é tão fofa!!

     — Tanta gente no mundo e você escolheu justo o Rafa?

     — Me diz aí, quem chegou em quem primeiro?

     As perguntas não paravam de vir. Bia começou a respirar pesado e a ficar vermelha. Seus olhos arregalaram...  Todos eles a cercando e a encarando, esperando respostas para suas perguntas como tubarões prontos pro abate. Até que ela simplesmente foi embora. E claro, Rafael foi atrás dela.

     — Bia! Por favor, espere! O que houve? – Bia o olhou no fundo dos olhos, e então se abriu.

     — Eu não gosto dos olhares, das perguntas. Eu me sinto como um petisco em meio a feras – ela soltou um sorriso fraco. – Os seres humanos são assustadores... Elas me chamam de lunática, esquisita, boba... Era mais difícil quando eu era criança, já não me afeta tanto hoje. Mas é desconfortável – e então seu sorriso abre mais. – Sinceramente, eu nem sei por que estou te contando isso. Só que, de alguma forma, não é estranho – e abriu um sorriso completo.

     E posso dizer que Rafa não estava compartilhando um sentimento tão diferente. Ele até que gostou de ser a pessoa com que Beatriz Cardoso de Oliveira se abriu. Quase que sem controle sobre o seu corpo, ele a abraçou.

     — Está tudo bem... Vai ficar tudo bem – mas o que essa garota estava fazendo com ele?

     O sinal bateu, e, devo adivinhar que vocês, caros leitores, já devem saber que eles voltaram em silêncio. Já estava virando algo deles. No final da aula, Rafael perguntou a Bia se ela gostaria de almoçar com a família dele na sexta. E Bia, por mais tímida que estivesse, aceitou. No final das contas, o que poderia dar errado, não é mesmo?

Coisas interessantes que Bia reparou em seu namorado:
1. Ele prefere salgados a doces (o seu favorito é torta de frango sem catupiry).
2. Sua matéria favorita é (urg) matemática.
3. Ele é muito bom em química.
4. Ele tem muitos, MUITOS amigos (crise).
5. Ele gosta mais de cachorros.
6. Claramente fã de rock.
7. Ele faz curso de robótica depois das aulas da quarta.
8. Se gênero favorito de filme é ação (e ele prefere filmes a séries).
9. Ele curte festas.
10. Ele fica incrível jogando basquete.
11. Ele não gosta que toquem no seu cabelo.
12. Sua combinação favorita é branco com preto.
13. Ele tem um robô chamado Baymax.
14. Ele é uma criatura do dia T-T.

Sem Química AlgumaOnde histórias criam vida. Descubra agora