Dia 9

45 13 82
                                    

     Eles estavam a um bom tempo sentados no chão da sala de Jose, esperando uma luz no fim do túnel. O trabalho de 5pts era "simples". Eles deviam criar uma obra, uma pintura, que remetesse ao surrealismo e apresentá-lo.

     — Eu trouxe comida! – Joana (que não era a dona da casa) chegou trazendo uma bandeja cheia de salgadinhos e pães de queijo.

     — Onde você achou isso? – Perguntou Jose (a dona da casa).

     — No forno, onde sua avó esconde. Onde mais?

     — Ah...

     — E agora? O que a gente faz? – Dan estava com cara de poucos amigos. Talvez pelo fato de Sofia e Gabriela não terem tido se quer a disposição de desligarem o celular e ajudar a pensar.

     — E se nós escrevêssemos um parágrafo do último sonho que tivemos? – Todos olharam para Bia. Ok. Ela estava feliz por ter duas pessoas que ela conhecia. Mas as outras quatro...

     — O trabalho é pintar e você quer que eu escreva? – Sofia parecia horrorizada com a ideia.

     — O que eu tô dizendo é, bom, o surrealismo é sobre o surreal, mais focado em sonhos, que é a representação do inconsciente. O objetivo é abandonar  razão. Salvador Dalí foi uma das principais figuras do movimento, mas se até ele teve dificuldade de produzir uma obra totalmente, tipo, total, produzida no subconsciente, eu duvido que a gente consiga. A nossa sorte é que pode ser só algo que remeta. Então podemos pegar nossos sonhos e transformá-los num quadro. Só seria melhor colocá-los em um papel, para a gente ter uma ideia melhor de como organizá-los. Seria melhor se uma pessoa só pintasse, pra não gerar confusão.

     — Eu... gostei da ideia – Dan sorriu pra Bia, que ficou vermelha. Uma ideia sua tinha sido aprovada...

     Rafa fitou Dan de cima a baixo.

     — Foi uma ótima ideia, Bia – ele lhe deu um beijo na testa e ela esqueceu até o próprio nome.

     — Vamos acabar logo com isso! – Joana enchia a boca de Jose com comida.

     Eles começaram a fazer o trabalho. A pessoa escolhida para pintar foi Jose, o que atraiu um repentino olhar de interesse de Dan e uma cara de ódio de Joana com a reação dele. Eles anotaram seus sonhos.

     Bia tentou se lembrar de seu último. Ah... Foi aquele. Um sentimento amargo se apoderou dela.

     — Bia, tá tudo bem? – Rafa sussurrou no seu ouvido.

     — Eu só acabei de lembrar que meu último sonho foi um pesadelo. Bom, no final.

     — Então conte apenas o início. Qual a imagem que você tem?

     — Duas pessoas de época se divertindo em uma cidade alienígena – Rafa a olhou no fundo dos olhos.

     — Isso explica muita coisa – Bia levantou uma sobrancelha e Rafa riu.

     — E você? Qual foi o seu último sonho? – Rafa parou para pensar.

     — Eu não sonho há um bom tempo. Nem lembro qual foi a última vez.

     — Ok, vamos tentar de outro jeito. Deite e feche os olhos.

     — Se vocês forem fazer alguma coisa, por favor, vão para o quarto – Dan riu.

     — Fica quieto na sua! – Gabriela o lançou um olhar mortal.

     — Calma aí princesa.

     — Continuando... – Bia passou a ignorá-los. – Deite e feche os olhos – Rafa obedeceu. – Deixe sua mente te guiar. Qual a primeira coisa que lhe vem a cabeça?

     — A nossa música. Talvez seja porque é você falando comigo, mas tenho absoluta certeza que foi quando você cantou ontem – Bia sentiu seu rosto esquentar.

     — A lógica é não ter lógica. Não precisa explicar.

     — Ok.

     — Pense em outra coisa.

     — O jogo de basquete de amanhã.

     — O que vem na sua cabeça quando você junta os dois?

     — Uma... Espécie de High School Musical – disse rindo.

     — Ótimo! Temos o seu! O pessoal do seu time cantando e dançando "City os Stars" durante o campeonato.

     — Cruzes – ele riu ainda mais.

     — Todos já têm os seus papéis? – Joana perguntou.

     — Eu e Bia vamos escrever os nossos.

     — Quando terminarem, entreguem pra Jose.

     Eles concordaram com a cabeça e, quando acabaram, entregaram a sua parte. Depois todos seguiram seus caminhos. Bia e Rafa foram a pé, já que a casa de Jose era no bairro. O céu estava nublado, já que o clima andava meio incerto. Horas fazia um sol escaldante, outras pareciam que viviam a segundos de congelar. Não fazia o menor sentido! As fênix dançavam pelo céu. O brilho delas era irresistível.

     — Sobre o que era o seu pesadelo? – Bia o encarou por um tempo.

     — Foi um meio... Eu... Bizarro demais pra explicar e eu não me lembro tanto. Mas nós nos casamos. Adotamos um gato, um cachorro e dois filhos. Você se tornou um grande jogador de basquete e eu uma escritora famosa. Mas... Mas aí – Bia sentiu sua visão embaçar. – Você sofreu um acidente e... – Rafa a abraçou.

     — Calma, calma. Eu estou aqui – ele a fez olhar nos seus olhos. – E não vou embora. Você assinou seu destino no momento que disse "ok" para a minha proposta.

     — Aquilo foi totalmente o acaso.

     — O melhor acaso que já me ocorreu.

     — Faz quanto tempo? 8 dias?

     — Ei! 8 dias é muita coisa!

     — Não, não é.

     — É o suficiente.

     — O suficiente?

     — Para me fazer querer continuar com você.

     — Você promete?

     — O que?

     — Não me abandonar como no meu sonho.

     — Eu prometo! – E soltou uma risada triste. – Acho que nunca vou conseguir me afastar de você, Bia. Você me tem na coleira.

     —  Que expressão péssima para se usar! Você não é um cachorro.

     — Eu posso ser o seu – ele piscou de um olho.

     — Rafa, não! – Ele riu ainda mais, a pegou pela mão e os dos continuaram o caminho, jogando papo fora e observando as fênix voarem. Bom, Bia, pelo menos.

Sem Química AlgumaOnde histórias criam vida. Descubra agora