Dia 6.3

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     — Que merda é essa? – Bia encarava o lugar branco onde foi parar junto com Rafa, que parecia tão surpreso quanto ela.

      — Cara, acho que pegamos as pessoas erradas – um ser pequeno e verde, de olhos esbugalhados e totalmente pretos, falava com outro ser pequeno e verde, de olhos esbugalhados e totalmente pretos, que mexia em algo com muitos botões coloridos. – Manda eles de volta!!

     — Eu tô tentando!! Calma... Ih, acho que pifou.

     — Como assim pifou? Dá um jeito nisso! – E se virou para Bia e Rafa. – Er... Aceitam chá de Krool?

     — Quem e o que são vocês? –Rafallion III os olhava assustado, mas tanto ele como Beatrice sempre deixavam a curiosidade falar mais alto.

     — Eu sou Askymar e ele é Bellecack, somos o que vocês conhecem como Aliens. Estamos atrás da nossa espiã infiltrada. Acho que ela é conhecida como Rainha Elizabeth II.

     — Idiota, época errada. Ela ainda não nasceu e duvido muito que eles saibam o que são aliens. Olha pra roupa deles!

     — Então o que eu falo?

     — Diga que moramos nas estrelas.

     — Então esse lugar é uma estrela... – Bia começou a andar pelo local.

     — Por favor, não toque em nada. São extremamente sensíveis  – um deles falou enquanto esmurrava um painel. Murmurou algo como "isso vai levar uma semana pra voltar a funcionar". – Nós nos apresentamos. E vocês? Quem são?

       Eu sou Beatrice e ele se chama Rafallion. Nós somos...

     — Somos fugitivos – Rafa a interrompeu, recebendo um olhar mortal. –  Assim sendo, como um pedido de desculpas, nos deixe ficar por uma semana apenas enquanto concertam o que quer que seja isso, com lugar para ficar e comida descentes. Prometemos esquecer o assunto e fingir que nunca estivemos aqui quando formos embora.

     Sim, os aliens poderiam simplesmente recusar e deixá-los se virar a própria sorte. Mas eles tinham algo que poucos humanos tinham, empatia e dinheiro.

     — Se o chefe perceber que cometemos esse tipo de erro...

     — E não podemos abandoná-los em um lugar que eles não conhecem.

     — Nossa comida é compatível com eles também.

     — Não tem motivos para dizer não.

    — Então temos um acordo? – Rafa estendeu sua mão, mas Bia o puxou para um canto.

    — O-o que pensa que está fazendo? – Ela se assustou com a proximidade repentina.

     — Vamos ter que ficar aqui de qualquer jeito, mas agora temos comida e um lugar pra dormir. E pensa bem, princesa. Se podemos entendê-los, talvez possamos ler também. Você terá a chance de ler livros que nunca terá na sua biblioteca. E mais! É um lugar totalmente novo! Já pensou nas maravilhas que podemos encontrar aqui? – Nem tudo chamou a atenção de Bia, mas a parte dos livros conseguiu capturá-la, então não voltou a discutir. Rafa voltou sua atenção para os homens verdes que também pareciam ter entrado em um consenso.

     — Acordo fechado.

     Rafa e Bia foram levados a um hotel grandioso, digno de príncipes e princesas. Devo dizer que essa semana foi a melhor de suas vidas até aquele momento. A cidade era diferente de tudo que já presenciaram e cada tecnologia os impressionava, fazendo com que acreditassem que a magia era real (mesmo não sendo naquele mundo específico). A comida era, de longe, uma das mais divinas características do lugar, com sabores que nunca pensaram que poderiam sentir. Mesmo nos primeiros dois dias tendo ficado trancada no quarto explorando livros e mais livros, Bia, pela primeira vez, se interessou pelo mundo fora das páginas. Ela aproveitou e deliciou de momentos inesquecíveis ao lado de Rafa, que teve a certeza de fazê-la curtir cada momento.

     É preciso dizer também, caros leitores, que essa semana fez brotar no coração de cada um um sentimento novo e inesperado. Em meio a uma terra desconhecida e diferente, tendo apenas um ao outro para se apoiar, ações de carinho e afeição ocorreram com frequência. Bia se encantou com o jeito leve, descontraído e extrovertido de Rafa, e ele por sua atração pelos livros, seus belos olhos castanhos e seu jeito único de ver o mundo. Consequentemente, a paixão brotou. Foi em uma noite bela de três luas, no final da semana, que juraram amor eterno um ao outro. Às vezes é necessário um dia, outras meses, mas foi necessária apenas uma semana para que percebessem que não poderiam viver sem o outro. 

     Mas o destino é imprevisível, e quando retornaram, Rafallion III estava prometido a Alice.

Sem Química AlgumaOnde histórias criam vida. Descubra agora