Dia 4

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     — 'Cause I got that sunshine in my pocket, got that good soul in my feet. I feel that hot blood in my body when it drops! Ooh! I can't take my eyes up off it, moving so phenomenally. Room on lock, the way we rock it, so don't stop!

     (Porque eu tenho esta luz do Sol em meu bolso, tenho esta música boa em meus pés. Sinto este sangue quente pelo meu corpo quando soltam a batida! Ooh! Não consigo tirar meus olhos disso, me mexendo de forma fenomenal. Todo mundo vidrado na forma que arrasamos, então não pare)

     Bia cantava e dançava pelo quarto enquanto escolhia sua roupa para o jantar tão esperado daquela noite.

     — O que vocês acham dessa? – A figura indecifrável tinha em suas mãos (?) um vestido branco com girassóis.

     — Não... Ela estava usando essa no almoço de domingo com os tios dela – Lin, um smurf laranja que costuma aparecer de vez em quando pra palpitar sobre tudo, balançava a cabeça com força em sinal de negação. – Os tios dela beiram ao azar.

     — Eu gosto do look usual dela. Ela pode ir de calça jeans e sua blusa preta do Totoro – o Wendigo comentou.

     — O que ele está fazendo aqui? Eu odeio cachorros! Cai fora, ela não te chamou! – O Tigbanua rosa olhava irritado pela janela do quarto.

     — Eu não sou um cachorro.

     — E eu sou adorável.

     — Ok, pare os dois! – Arnoldo, o grifo, se colocou entre eles. – Bia chamou os dois para ajudar, então vamos focar em ajudar.

     — O que vocês acham desse aqui? – Bia estava com uma blusa branca e uma saia lilás. – Eu posso usar aquela jaqueta. – Os cinco seres no quarto pararam para analisar.

     — É, eu acho que fica bom.

     — Simplesmente adorável.

     — Combina bem.

     — Ótima escolha.

     — Você vai arrasar.

     — Obrigada, gente. Agora eu preciso ir pra escola. Me desejem sorte!

     — Boa sorte! – Disseram em uníssono. E como mais um dia, Bia desceu as escadas, tomou seu café da manhã ignorando todas as provocações de seus irmãos e foi esperar seu escolar.

     — Alguém parece de bom humor hoje!! – Ella tinha um sorriso um tanto suspeito na cara.

     — Oi, o que disse?

     — Bia, toda vez que você está de bom humor, você fica mais avoada que o normal.

     — Isso não é verdade.

     — Nós duas sabemos que é. Agora para de enrolar e me conta.

     — Hoje eu vou jantar na casa do Rafa...

     — Ah.

     — Ah? Como assim, ah? O que significou esse curto pronunciamento da vogal "a"?

     — Nada, é só que... Bom. Você se sente preparada pra conhecer os pais dele?

     — É o normal, não?

     — Bia, você não é normal.

     — Eu sei o que você quer dizer. Você está com medo de que eu faça algo estúpido sobre comentar o casamento de um Kobold ou a migração dos gigantes roxos. Mas eu já entendi. Não sou estupida.

     — Sei que você não é, e sabe que eu odeio pedir pra você fazer algo assim.

     — Ontem, o Rafa chamou o Bartolomeu de lindo. Acho que ele se assustou um pouco no início, mas ele aceitou e não questionou...

     — Sabia que ele era um cara legal. Mudando de assunto, eu acho que vai ser basquete misto hoje.

     — Amo basquete.

     — Só porque sua mãe te ensinou a jogar. Eu odeio qualquer esporte que envolva bola e/ou correr.

     — A maioria deles.

     — Exato!

     Sim, eu sei. A Bia joga basquete? A resposta é sim. Muito bem. Na verdade, por incrível que pareça, ela joga a maioria dos esportes muito bem, com exceção do vôlei, nisso ela é um desastre. O lance é que a mãe de Bia, a senhora Cardoso de Oliveira, é professora de E.F. e, quando pode, dá uma forcinha no treinamento das Yaras, o time de rugby feminino. Ela sempre fez questão de que todos os seus filhos praticassem esportes, mesmo a mais reclusa. E como vocês, Rafael também ficou surpreso ao ver Bia jogando.

     Essa era a primeira vez que ocorria um jogo misto no ano, e devo dizer que vários meninos da sala ficaram surpresos com o que a garota estranha podia fazer. Mas, como uma garota tão tímida como a Bia conseguia jogar tão bem um esporte em... Equipe? Bom, para ela, era mais um jogo contra as grandes lontras laranjas.

     Bia recebia a bola, esquivava dos oponentes, passava para a lontra com laço cor de rosa, recebia novamente a bola ao entrar no garrafão e fazia uma bandeja. Se não a deixassem chegar perto da área, ela fazia uma cesta de três. Se ela não recebia a bola, ela marcava e abria caminho para a lontra que comandava a ida da vez. E, particularmente, ela gostava. Não, amava a adrenalina que corria pelo seu corpo, amava correr pela quadra e fazer as lontras de bobas, ela amava jogar basquete. Era tão bom quanto um bom plot twist.

     — Bia! – Rafael a chamou. Ele estava radiante, com seus olhos brilhando e... Um par de asas brancas? – Aquilo foi... aquilo foi incrível! Eu não sabia que jogava tão bem. Quero estar no seu time na próxima vez!

     — Ah, hum, obrigada. Basquete é o meu esporte favorito.

     — O meu também!

     — Sério? Uau, acho que temos algo em comum no final das contas. A Gabbi vai gostar de saber disso.

     — Ah, se vai! Eu só tenho uma pergunta. Se você gosta tanto assim de basquete, por que não se inscreveu pra equipe feminina de basquete do colégio?

     — É sério?

     — Olha, eu sei que você é tímida, mas não pareceu nem um pouco tímida na quadra.

     — É diferente. Um time necessita de interação e comunhão. E se eu começar a interagir com elas, eu não vou mais conseguir ver outra coisas quando jogar, porque eu vou conhecê-las melhor. E aí eu vou ficar nervosa e vou decepcionar todo mundo.

     — Se um dia você mudar de ideia, eu adoraria ajudar.

     — Obrigada – ele piscou pra ela e então foi a vez do time dele jogar. Bia se sentou pra ver. Um time... Parecia legal. Ir a eventos juntas, jogar com outras pessoas, ganhar campeonatos, ter amigos além de Ella e seres que só ela era capaz de ver. Bia se deu um tapa. No que ela estava pensando? Ela estava bem do jeito que estava. Ela tinha família, a Ella e um namorado.

     Ela não precisava de mais nada.

Sem Química AlgumaOnde histórias criam vida. Descubra agora