Epílogo

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Era uma vez, uma garota que não gostava do mundo. Decidida a ignorar tudo e todos, se prendeu em sua própria terra de fantasia. Ela era feliz. Lá ela tinha amigos, sonhos, paz.

Até que um menino perfeito apareceu.

Ele, com seu sorriso e seu brilho, e seu pedido inesperado, a mostrou um novo mundo. Um no qual ela não estava sozinha e nem desamparada. Juntos, passaram pelas mais cotidianas situações e, por fim, se encontraram um no outro.

Entretanto, meninos perfeitos não duram para sempre, pois o mundo não está preparado pra eles. Ele teve que ir, mas deixou com ela uma parte de si. Uma parte valiosa de si.

     A plateia aplaudia a entrada da diretora no palco do teatro da escola (sim, a escola tinha um teatro). Ela introduzia o evento enquanto Bia a espiava atrás das cortinas.

     — Bia, você entra daqui a pouco – Gabbi a avisou olhando o horário na prancheta.

     — Nervosa, princesa? – Ella chegou por trás de Gabbi, colocando seu braço ao redor do pescoço dela.

     — Sim, super.

     — Vai ficar tudo bem.

     — Eu espero que sim.

     Bia então ouviu a diretora chamando seu nome.

     — Me desejem sorte.

     — Boa sorte! – Disseram em uníssono.

     A plateia estava cheia. Bia conseguiu ver sua família e a de Rafa. Até seu primo estava lá. As amigas de Gabbi, suas colegas de time, a figura indecifrável com Bart, o grifo, o smurf, o wendigo... Todo mundo estava lá. Todo mundo, menos ele. Bia sacudiu a cabeça e a diretora lhe entregou o microfone.

     — Oi. – Toda a plateia a encarava. – Há um ano atrás, se me falassem que eu estaria falando para um público tão grande, eu teria ligado pro hospício – as pessoas riram. – Essa é uma história muito especial para mim, e eu a dedico a alguém que já não se encontra mais aqui, mas que nunca existiria sem ele. Às vezes, o inesperado acontece e duas pessoas, aparentemente, sem química alguma, podem mudar a vida um do outro. Essa é para o príncipe que explorou comigo, mesmo que por poucos dias, essa terra de alienígenas e que me mostrou um mundo novo sem ter que abandonar o antigo. Aproveitem o show!

     Bia saiu de cena e as cortinas se abriram. De longe, podia ouvir o poema que abria o show:

O problema era que
ele era perfeito demais
e ninguém tão perfeito
existe por tanto tempo.

Um sonho real
foi tudo um sonho
as risadas, os momentos
Ah, doces momentos

Este mundo cruel não merecia você
E por isso você teve que voltar aos céus
Onde seres angelicais como você
Vivem em paz, envoltos da perfeição.

     A escola estava com um projeto de incentivo às artes e sua peça foi escolhida para estrear. Era o seu último ano na escola. A formatura seria mês que vem. Iria cursar letras e, se tudo der certo, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Aquele ano foi cheio. Seu time ganhou o JEBH (Jogos Estudantis de Belo Horizonte) em 1º lugar e perdeu a conta de quantas festas participou. Havia terminado um livro e começado outros dois.

     De vez em quando, ela ia ao terraço do prédio abandonado e conversava com as estrelas que não via por conta da poluição da cidade, mas que ela sabia que estavam lá. Ela tinha esperanças de que um anjo bem específico ouvisse as novidades. Às vezes, ela sentia que ele a respondia. Às vezes...

     Tinha momentos que ela chorava, outros ela ria, mas nunca esqueceu. E nunca vai se permitir esquecer. Ela era mais do que grata por aqueles poucos, mas belos, dias.

     Ela o levaria em seu coração por toda a eternidade. Sua alegria, seu olhar e seu sorriso.

     Seu doce sorriso...







FIM

Sem Química AlgumaOnde histórias criam vida. Descubra agora